terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Teologia da Esperança. (Jurgen Moltmann).

Teologia da Esperança: Jurgen Moltmann e a análise escatológica existencialEm 1965, um jovem teólogo alemão da Universidade de Tubinga fez ressoar a sua voz através de seu livro The Theology of Hope (A Teologia da Esperança), que saiu em inglês em 1967, cujo teor repercutiu grandemente no mundo acadêmico. Há quem relacione ao movimento outros dois nomes: Wolfhart Pannenberg, de Munique, e Ernst Benz, de Marburg, porém, em nosso estudo, entendemos que Pannenberg se encaixa melhor em outro movimento, que apresentaremos no capítulo seguinte. Porém, ainda que seja possível fazer essa distinção, não há como negar que esses homens possuem muitos aspectos em comum. No ano de 1969, foi publicada a sua segunda obra, Religion, Revolution and the Future (Religião, revolução e o Futuro).

Os teólogos receberam entenderam o livro de Jurgen Moltmann como sendo um chamado refrescante a uma maior valorização da escatologia, dentro da teologia cristã, além de ser um ataque devastador aos teólogos existencialistas que argumentavam na linha de Bultmann.

10.1 – Entendendo a teologia futurista de Moltmann.

A chave central para entender a teologia futurista de Moltmann é sua idéia de que Deus está sujeito ao processo temporal. Neste processo, Deus não é plenamente Deus, porque ele é parte do tempo que avança para o futuro. No cristianismo tradicional, Deus e Jesus Cristo aparecem fora do tempo, no atempo. Na teologia de Moltmann, a eternidade se perde no tempo. Para Moltmann, o futuro é a natureza essencial de Deus. Deus não revela quem ele é, e sim quem ele será no futuro. Desta forma, Deus está presente apenas em suas promessas. Deus está presente na esperança. Todas as afirmações que fazemos sobre Deus, são produto da esperança. Nosso Deus será Deus quando cumprir suas promessas e com isso estabelecer o seu reino. Deus não é absoluto; ele está determinado pelo futuro.

Segundo Moltmann, toda teologia cristã deve modelar-se através da escatologia. Acontece que a escatologia para ele não significa a previsão tradicional da segunda vinda de Jesus. Moltmann interpreta como aberta ao futuro, aberta à liberdade do futuro. Deus entrou no tempo, e consequentemente o futuro se tornou algo desconhecido tanto para o homem como para Deus.

O cristianismo evangélico relaciona intimamente a ressurreição de Cristo com a escatologia. O Cristo ressuscitado é “as primícias” da ressurreição (1Coríntios 15.23; At 4.2). A morte e ressurreição de Cristo são a garantia que Deus dá de que haverá ressurreição futura, e por isso, o começo da ressurreição final. A ressurreição de Cristo é um fato histórico que atribui pleno significado ao nosso futuro. Porém, para Moltmann, a questão da historicidade da ressurreição corporal de Jesus não é válida. Jesus ressuscitou dentre os mortos há quase dois mil anos com seu corpo físico? Para Moltmann essa é uma questão sem importância. Não devemos olhar desde o Calvário para a Nova Jerusalém, e sim olhar o nosso futuro ilimitado para o Calvário. Afirma-se tradicionalmente que a ressurreição de Cristo é a base histórica da ressurreição final. Moltmann porém diria que a ressurreição final é a base da ressurreição de Jesus.

Ainda quanto ao futuro, Moltmann diz que o homem não deve olhá-lo passivamente; ele deve participar ativamente na sociedade. A tarefa da igreja é não é apenas se informar sobre o passado para mudar o futuro. É também “pregar o Evangelho de tal forma que o futuro se apodere do indivíduo e lhe impulsione a agir de modo concreto para mudar o seu próprio futuro. O presente em si mesmo não é importante. O importante é que o futuro se apodere da pessoa no presente”.

Para que o futuro se realize na sociedade, as categorias do passado devem ser descartadas, pois não existem formas ou categorias fixas no mundo. O futuro significa liberdade e liberdade é relatividade.

O principal propósito da igreja é ser o instrumento por meio do qual Deus trará a “reconciliação universal e social”. A participação da igreja na sociedade poderá utilizar a revolução como meio apropriado, mesmo que ela não seja necessariamente o único meio. Neste avançar para o futuro, o problema da violência versus não-violência recebe o nome de “problema ilusório”. A questão não é a violência em si, e sim se o uso da violência foi justificado ou injustificado. Essa tendência pragmática em que os fins justificam os meios é uma tendência muito forte dentro da Teologia da Esperança.

Assim como na “Teologia Secular”, aqui também pode ser vista uma profunda consciência para com o mundo. A idéia de Moltmann de considerar a Bíblia desde o começo como um livro escatológico pode parecer um atrativo para o cristão ortodoxo. Realmente um assunto tão importante quanto a escatologia não deveria ocupar as últimas páginas em nossos livros de teologia sistemática. Porém, qualquer conservador certamente saberá reconhecer os erros patentes de Moltmann, bem como os horrores que traria a sua visão ética.

10.2- Objeções à Teologia da Esperança.

Moltmann critica muitos conceitos neo-ortodoxos, mas ele acaba levando os conceitos barthianos muito mais longe. Barth havia transcedentalisado a escatologia por meio do emprego da distinção entre Historie e Geschichte, mas Moltmann foi ainda mais além, e rejeitou todo o conceito objetivo da história. Se por um lado a dialética de Barth acabou com a possibilidade da relação entre história e fé, a teologia de Moltmann destruiu até mesmo a possibilidade de haver história.

Ainda que Moltmann revista sua escatologia de conceitos bíblicos, seu sistema está mais fundamentado no marxismo do que em Cristo. O primeiro livro de Moltmann, “Teologia da Esperança” nasceu de um dialogo com o ateu alemão Ernst Bloch, e quando lemos o seu segundo livro, vemos que nesse intercâmbio, Moltmann assimilou muitas idéias de Bloch.

A idéia que Moltmann tem da escatologia é destituída de base bíblica. Apesar de todo esforço de Moltmann para produzir uma teologia bíblica, no final, seu sistema nada mais é do que uma teologia centralizada no homem, em um homem que observa o futuro e age na sociedade. A meta do futuro de Moltmann não é a plena manifestação da glória de Cristo; ela é a edificação da utopia na terra. Para ele, o Reino de Deus se introduz na terra por meio da política e da revolução. Para o apóstolo Paulo, no entanto, o Reino de Deus é, e será introduzido por meio da proclamação do poder salvador de Jesus Cristo (Atos 28.30-31). Para Moltmann, esse reino é também uma realidade terrenal e tangível; o Reino de Deus, no entanto, é descrito na Bíblia como celestial. Para Moltmann, o Reino de Deus é trazido por meio da revolução; no entanto, segundo a Bíblia, o Reino de Deus traz a paz, e não a guerra (Romanos 14.7).

Quanto ao conceito de Deus, ele não admitia nenhum Deus eterno ou infinito. Ao entrar no tempo, segundo ele, Deus se tornou finito e aberto a um futuro desconhecido. O Deus da Bíblia existe de eternidade a eternidade; o de Moltmann, porém, só existe no futuro, pois no presente ele sequer é Deus. Como observou certo escritor: “No monte sinai, Deus disse a Moisés: Eu sou o que sou, mas Moltmann não permitua que Deus lhe dissesse o mesmo.

A teologia de Moltmann tem maior dívida com Nietzche, com Overback e com Feurbach do que com Paulo, Pedro ou João. Ela é mais marxista que bíblica, e mais filosófica que teológica. Em seu afã de refutar as teologias não-ortoxas do seu tempo, Moltmann ultrapassou o limite do bom senso e acabou por propor uma teologia quase tão nociva quanto aquela a que ele se dedicou a refutar. Essa teologia do Deus finito e temporal, e que ainda incita a rebeldia e a revolução, não pode ser teologia bíblica. Ela é antes, um tropeço, um escândalo e uma nociva ameaça à sã doutrina.


I) Sua Vida

Jürgen Moltmann nasceu em 18 de abril de 1926 em Hamburgo. Iniciou seus estudos de teologia numa situação inusitada. Com dezesseis (1943) foi convocado pelo exército alemão onde teve, segundo ele mesmo, “uma carreira breve e sem glória”. Após seis meses na guerra, foi feito prisioneiro no campo de concentração de Northon-Camp, na Inglaterra. Ali se encontravam também alguns professores de teologia que ministravam lições aos seus companheiros; dentre eles, Jürgen Moltmann.

Em 1948 retornou para Alemanha onde deu continuidade nos seus estudos na Universidade de Göttingen até 1952. De 1953 a 1958 exerceu atividades pastorais em Bremen. Sendo suas especialidades História dos Dogmas e Teologia Sistemática, iniciou sua docência em 1958 passando pela Escola Kirchliche Hochschule de Wuppertal, pela Universidade  de Bonn, Universidade de Tübingen, Due University – EUA (no caráter de professor visitante). “Depois de Karl Barth, Jürgen Moltmann é considerado o mais conhecido e influente teólogo reformado do século XX” (LEITH, 1997, p.234). 

II) Sua Teologia

Jürgen Moltmann foi o fundador principal da Teologia da Esperança cujo pensamento assemelha-se com as Teologias Feminista, Negra, Política, de Missão e Libertação. Em sua teologia ele aborda a escatologia, onde a esperança tem seu objetivo cumprido não na especulação, mas na praxis em meio a ação política e a revolução.  Segundo seu conceito, a esperança cristã é criativa: “Nós não somos só interpretes do futuro, mas já os colaboradores do futuro, cuja força, na esperança como na realização, é Deus” (MONDIN, 1980, p. 196).

1) A Redescoberta da Escatologia

No fim do séc XIX e princípio do séc XX, por meio de Johannes Weiss e Albert Schweitzer tem início a redescoberta do caráter escatológico da mensagem cristã. Substitui o “Jesus Ético” da teologia liberal pelo “Jesus Escatológico” que anunciava um Reino futuro e supramundano. Segundo Schwietzer, o Jesus histórico “é um Jesus escatológico que viveu na expectativa do fim do mundo e do advento sobrenatural do Reino de Deus” (GIBELLINI, 1998, p.279). Este Jesus possui uma mensagem paradoxal. Ela não é convincente, pois apresenta “algo de estranho” condicionado a apocalíptica do judaísmo tardio; mas é fascinante e eficaz, pois Jesus fala a partir de um mundo diferente do nosso. “Essa pregação nos arranca de nosso mundo, justamente por sua estranheza, prende-nos e nos leva a ser diferentes do mundo, para tornar-nos partícipes de sua paz” (GIBELLINI, 1998, p.279).

2) A Teologia da Esperança e a Filosofia da Esperança

Jürgen Moltmann inspirou-se na Filosofia da Esperança de Ernest Bloch. Aplicando à escatológica a categoria de futuro de Bloch, ele desejava uma renovação na teologia cristã e na praxis da comunidade cristã.

2.1) Filosofia da Esperança

Bloch pretendia a renovação da tradição marxista do ponto de vista do humanismo real. A filosofia de Bloch fundamenta-se na perscrutação da realidade (sujeito) para capturar tendências de futuro (predicado). É, portanto, uma filosofia voltada para o futuro, e justamente por isso, empenha-se em recuperar algo existente no passado. Ela conhece um futuro que vem a ser a partir da matéria, por isso mesmo só se torna conhecido por meio da extrapolação de tendências intrínsecas na realidade.

2.2) Teologia da Esperança

A Teologia da Esperança surgiu numa tentativa de revigorar a esperança cristã num sentido de práticas de esperança que a torne responsável pelo futuro da humanidade. Essa teologia de Jürgen Moltmann é uma “escatologia do futuro”. Na elaboração do seu pensamento ele concebe futuro de duas formas.

1a)Futurum: É o que surgirá a partir das tendências intrínsecas no presente; o que já existe extrapola para o futuro.

2a)Parusia: É aquilo que vem de forma anunciada.

Esses dois conceitos dentro da Teologia da Esperança se integram. Com isso, é possível dizer que a teologia de Jürgen Moltmann tem o objetivo de abrir ao presente o futuro da justiça, da vida, do Reino de Deus e da liberdade do homem calcado na esperança, que por sua vez, é garantida pela ressurreição de Cristo; o presente que extrapola para o futuro – o futuro advém do evento Cristo no presente.

Em suma, a Teologia da Esperança concebe um futuro que vem de Deus e que é conhecido por antecipação, isto é, no evento Cristo é antecipado o futuro da ressurreição e de vida que Deus doa à humanidade.

3)Teologia Escatológica Como Teologia da Esperança

Jürgen Moltmann é o teólogo que articula um projeto de teologia escatológica desenvolvida como doutrina da esperança e da praxis da esperança. Em 1964 Jürgen Moltmann publica sua Teologia da Esperança contendo como subtítulo Pesquisa Sobre os Fundamentos e Sobre as Implicações de uma Escatologia Cristã. Esta obra vem, segundo o teólogo holandês J. M. Jong, abalar os campos teológicos bartiano e bultimaniano. “A obra enunciava o principio teológico da primazia da esperança e traçava as linhas de uma cristologia escatológica e de uma eclesiologia messiânica” (GIBELLINI, 1998, p.282).

3.1)Primazia da Esperança

Jürgen Moltmann diz que “Na vida cristã, a prioridade pertence à fé, mas o primado, à esperança”. Em outras palavras, a esperança tem seu princípio na fé e dá sentido a ela. A fé em Cristo sem a esperança produz um conhecimento infrutífero, enquanto que a esperança sem a fé é utopia. “A esperança (…) é o ‘companheiro inseparável’ da fé e dá à fé o horizonte oniabrangente do futuro de Cristo” (GIBELLINI, 1998, p.282).

3.2)Cristologia Escatológica

O eixo central para todo cristão e para os teólogos é a figura de Cristo. Sua morte (cruz) e ressurreição ocupam lugar primordial em toda reflexão teológica. Por isso mesmo Jürgen Moltmann faz uso desses fatos do ministério de Cristo -  dando uma ênfase especial para a ressurreição – no desenvolvimento de seu pensamento.

A Teologia da Esperança baseia-se na Ressurreição do Cristo crucificado. A cruz, que representa os nossos sofrimentos, mostra a profundidade (coloca em foco a beleza e o gozo) da esperança cristã. A cruz tem sua importância, porém, na cristologia escatológica de Jürgen Moltmann, é um estado intermediário do caminho de Cristo.

Enquanto a cristologia tradicional está voltada para o passado, a cristologia de Jürgen Moltmann está voltada para um futuro em Cristo. Esse futuro de Cristo traz algo radicalmente novo sem estar separado da realidade presente, isto é, como um futuro “virtual”, ele exerce influência sobre o presente despertando esperanças. A esperança cristã espera do futuro de Cristo algo novo que ainda não ocorreu, espera que se cumpra em todos a justiça de Deus que foi prometida por meio de sua ressurreição (Kalr Barth). A ressurreição é a prefiguração do algo novo que há de vir.

Numa relação entre a ressurreição e a cruz vemos que a ressurreição caracteriza o crucificado como o Cristo e a sua paixão como evento de salvação. Ela não esvazia a cruz, mas a preenche de escatologia e significado. Não é possível dissociar a cruz da ressurreição uma vez que Cristo morreu por nós para nos tornar mortos  e participantes de sua nova vida de ressurreição e do seu futuro de vida eterna. Assim, para ressuscitar com Cristo devemos participar de sua paixão e de sua crucificação.

4) Eclesiologia segundo a obra “A Igreja na Força do Espírito”

Kirche in der Kraft des Geistes, Kaiser, Munique, 1975, traduzido para o italiano La Chiesa nella Forza dello Spirito, Bréscia, 1976. (A Igreja na Força do Espírito). Estudo da Igreja em sua natureza, suas funções, seus ministérios e suas relações com o mundo e com o Reino de Deus.

O objetivo da obra supra citada de Moltmann é mudar o quadro atual da Igreja, que está agindo como um supermercado onde se vai fazer compras relacionadas à vida religiosa. Sua intenção é promover uma comunidade em que o crente viva continuamente uma comunidade de fé, esperança e fraternidade. Vivendo assim, ela se tornará fermento de vida para todo o  mundo.

Segundo ele, a história da humanidade está mudando decisivamente. Acabou a época de nacionalismos e isolamentos como estruturas políticas estatais. Caminhamos, diz ele, “para uma comunidade mundial com estruturas políticas democráticas e supranacionais” (MONDIN, 1980, p. 206). Se a Igreja quiser acompanhar o tempo ela também precisa atualizar suas estruturas.

O autor propõe que a Igreja mude de Igreja clerical, ministerial e institucional em Igreja carismática em que cada indivíduo tome consciência do seu próprio ministério e compreenda o seu próprio carisma, para que o povo passe a ser sujeito na Igreja e não somente objeto de assistência religiosa.

Segundo o autor o governo desejado por Cristo se consuma numa comunidade carismática baseada na fraternidade. Essa forma de estrutura eclesial tem sua base nos fundadores do protestantismo de modo que tanto Lutero como Calvino já tinham essa concepção de que as estruturas humanas não podem exercer nenhuma função sacramental sobre alguém uma vez que isso é feito diretamente por Cristo.

Para Moltmann, a Igreja como realidade histórica possui um passado, um presente e um futuro. Ao passado pertence a história de Cristo, o fundador da Igreja, e a história da Trindade. Ao presente, pertence a história do Espírito Santo, que está com a comunidade dos pecadores justificados, libertados por Cristo, que passaram pela experiência da salvação e dão graças a Deus.

Com respeito ao futuro, Moltmann trabalhou com a relação entre Igreja e Reino de Deus. Nisso, o autor apresenta uma tese intermediária entre católicos e protestantes. Os primeiros compreendem uma identificação imediata entre um e outro e os seguintes, uma passagem transitória para o Reino de Deus escatológico.

A tese de Moltmann é que a Igreja é a antecipação, o sinal do Reino de Deus. Ele afirma que a Igreja, que existe e age na força do Espírito, ainda não é o Reino de Deus, mas certamente sua antecipação histórica. Dessa forma, o cristianismo ainda não é a nova humanidade mas, tendo o Espírito da nova criação, é a linha de frente na luta de resistência contra a condição cativa de morte da humanidade. Para ele, a Igreja é povo messiânico à serviço do Reino de Deus que está por vir.

Nas relações da Igreja com o mundo, especificamente entre o mundo político e econômico, Moltmann afirma que a Igreja, fundada por Cristo, se tornará em sua totalidade, existência e modo de vida, um fermento de destruição da idolatria política, pela sua dessacralização e democratização. Ele afirma que “como fermento crítico e destrutivo do fetichismo econômico, ela (a Igreja) difundirá um novo tipo de relações, marcadas pela liberdade na solidariedade” (MONDIN, 1980, p.203). Para Moltmann, a Igreja está em condições de fornecer uma orientação vital para a ação do cristão na política, economia e cultura.

A eclesiologia de Moltmann está intrinsecamente unido e ligada à cristologia. Ela precisa ser desenvolvida a partir da cristologia como sua conseqüência e como correspondência a ela.

Cristo é o fundador da Igreja, de modo que o fundamento de tudo o que se refere à Igreja não é a sociologia, nem a política, nem a economia, nem a cultura, mas sim Jesus Cristo. A vida da Igreja e do cristão deve ser inteiramente regulada por Cristo e portanto, pela fé e pela experiência vital que a fé em Cristo suscita ao crente. Mas o autor mostra que a Igreja não pode ser entendida como uma simples continuação ou prolongamento dele, sim como antecipação da pessoa escatológica de Cristo.

Para a questão da salvação fora da Igreja, Moltmann distingue dois horizontes: O horizonte eclesial que abrange todos aqueles que abraçam a fé em Jesus e o horizonte total que abrange Israel, os seguidores das religiões não-cristãs e o mundo inteiro. Para ele, “Cristo veio e se sacrificou para reconciliar o mundo inteiro” (MONDIN, 1980, p. 203). A Igreja possui sua vocação específica. Ela tem a missão da esperança no mundo, a reconciliação dos pagãos ao futuro de Deus para que se tornem livres.

No que se refere à questão soteriológica das religiões não-cristãs, Moltmann se mostrou enigmático, deixando claro, contudo, que a Igreja deve manter com estas um diálogo franco e um confronto aberto sem nada sacrificar o que elas têm de bom, verdadeiro e belo. Isso é válido também para as diferentes culturas.

Com respeito ao sacramentos, Moltmann afirma que pedobatismo já passou de época, devendo ser substituído pelo batismo vocacional. Ele afirma que “para quem o recebe e para os membros da comunidade, o batismo deve significar, além da graça, também a vontade de viver na libertação de Cristo e de colocar-se a serviço da reconciliação e da libertação do mundo inteiro” (MONDIN, 1980, p.204).

Quanto à ceia, devido às suas tendências carismática, antiinstitucional e antiministerial, Moltmann nega a existência de um ministério especial para a sua administração. Rejeita, também, como absurdo a exigência de confissão antes da ceia. Para ele, ceia é celebração de júbilo e a confissão apenas tortura a consciência do cristão, enchendo-a de angústia.

Referente aos ministérios e funções da Igreja, o estudo é elaborado sob um contexto pneumatológico, isto é, os ministérios e as funções são situados no interior do movimento do Espírito Santo.

Para Moltmann, todos os crentes receberam os dons do Espírito e são, portanto, titulares do ministério. Os que considera essenciais para a comunidade são o kerygma, a koinonia e a diakonia. Assim, os mandatos principais para a comunidade são o de anunciar o Evangelho, o de batizar e celebrar a ceia, o de presidir as assembléias comunitárias e o de exercer uma atividade diaconal.

Ele vê a necessidade para a comunidade de pregadores, presbíteros e diáconos, mas não vê esses ministérios ou outros como decorrentes da atividade democrática dentro da igreja; é preciso que eles sejam um dom carismático atribuído à pessoa.

Bibliografia:

GIBELLINI, R., A Teologia do Século XX, trad. João Peixoto Neto, São Paulo: Edições Loyola, 1998.
MONDIN, Batista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. Vol. 2, 2ª ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1980.
LEITH, J.H., A Tradição Reformada, Trad. Eduardo Galasso Faria e Gersom Correia de Lacerda, São Paulo: Pendão Real, 1996.

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