quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pierre Bourdieu.

Frases de Pierre Bourdieu:
“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro poder crítico”

“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias sociais que eles legitimam”

Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França. Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou nele profundas marcas negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. De volta à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-1983) na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de 300 títulos, entre livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche en Sciences Sociales e Liber. Em 1982, propôs a criação de uma “sociologia da sociologia” em sua aula inaugural no Collège de France, levando esse objetivo em frente nos anos seguintes.


Quando morreu de câncer, em 2002, foi tema de longos perfis na imprensa européia. Um ano antes, um documentário sobre ele, Sociologia É um Esporte de Combate, havia sido um sucesso inesperado nos cinemas da França. Entre seus livros mais conhecidos estão A Distinção (1979), que trata dos julgamentos estéticos como distinção de classe, Sobre a Televisão (1996) e Contrafogos (1998), a respeito do discurso do chamado neoliberalismo.

Embora a maioria dos grandes pensadores da educação tenha desenvolvido suas teorias com base numa visão crítica da escola, somente na segunda metade do século 20 surgiram questionamentos bem fundamentados sobre a neutralidade da instituição. Até ali a instrução era vista como um meio de elevação cultural mais ou menos à parte das tensões sociais. O francês Pierre Bourdieu empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um jogo de dominação e reprodução de valores.

Suas pesquisas exerceram forte influência nos ambientes pedagógicos nas décadas de 1970 e 1980. “Desde então, as teorias de reprodução foram criticadas por exagerar a visão pessimista sobre a escola”, diz Cláudio Martins Nogueira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “Vários autores passaram a mostrar que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente na sala de aula.” Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram contestadas.

Na mesma época em que as restrições a sua obra acadêmica se tornaram mais freqüentes, a figura pública do sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas à mídia, aos governos de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser incluído na tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980).
 

Valores incorporados

O livro A Reprodução (1970), escrito em parceria com Jean-Claude Passeron, analisou o funcionamento do sistema escolar francês e concluiu que, em vez de ter uma função transformadora, ele reproduz e reforça as desigualdades sociais. Quando a criança começa sua aprendizagem formal, segundo os autores, é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe, desde a organização pedagógica até o modo como prepara o futuro dos alunos.

Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de conceitos, como habitus e capital cultural. Todos partem de uma tentativa de superação da dicotomia entre subjetivismo e objetivismo. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências, tomada isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada da realidade social”, explica Nogueira. A noção de habitus procura evitar esse risco. Ela se refere à incorporação de uma determinada estrutura social pelos indivíduos, influindo em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que se inclinam a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre de modo consciente.

 
Um exemplo disso: a dominação masculina, segundo o sociólogo, se mantém não só pela preservação de mecanismos sociais mas pela absorção involuntária, por parte das mulheres, de um discurso conciliador. Na formação do habitus, a produção simbólica – resultado das elaborações em áreas como arte, ciência, religião e moral – constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de modo indireto, escamoteando hierarquias e constrangimentos.

Assim, estruturas sociais e agentes individuais se alimentam continuamente numa engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como cada um lida com a linguagem. Tudo que a envolve – correção gramatical, sotaque, habilidade no uso de palavras e construções etc. – está fortemente relacionado à posição social de quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para Bourdieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias, mas isso não costuma ser percebido. “É necessário que os dominados as percebam como legítimas, justas e dignas de serem utilizadas”, afirma Nogueira.
 

Capital cultural

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados. Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social.

Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado – que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.

Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos – que caracteriza o marxismo – e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita.
 

Os sutis artifícios da perpetuação

Para Bourdieu, a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável, de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a ser vista como incontornável.

terça-feira, 24 de junho de 2014

A doutrina de Aleksandr DUGIN.

 


Seus ensinamentos, transformados harmoniosamente na ideologia do movimento Eurásia, não podem ser examinados separados da concepção do mundo de seu mentor espiritual René GUÉNON, em cuja biografia estão contidos alguns dados que nos permitem de maneira mais objetiva avaliar o lado espiritual da doutrina de A. DUGIN.

Além disso, ficam também esclarecidos o papel e a posição da Igreja Ortodoxa, elaborados por A. DUGIN em documentos programáticos e outros escritos relacionados com a organização da OPOD (Movimento Pan-russo Social e Político) Eurásia e com a criação da futura União da Eurásia.

Todos os documentos utilizados para a preparação desta seção foram publicados em órgãos periódicos públicos de informação. As opiniões de A. DUGIN, de seus mentores e de seus seguidores foram tiradas de monografias, almanaques, dos órgãos de informação de massa por ele dirigidos e de outras edições, distribuídas basicamente por empresas comerciais controladas pelo movimento Eurásia e por outras estruturas dependentes do autor.

Sobre o autor da doutrina

Aleksandr Gelevitch DUGIN [1] nasceu em 1962 no distrito de Tcheliabinsk. Seu pai foi um general que trabalhou na administração central do sistema de informações do Estado Maior das Forças Armadas da URSS. O papai general colocou o filho, que não concluíra a Escola de Aviadores de Moscou, no arquivo da KGB. DUGIN conhece cerca de 10 línguas europeias, e domina a língua hebraica. As pretensões de A. DUGIN o tornaram, aos 35 anos, o homem número 2 do Partido Nacional Bolchevique de Eduard LIMONOV. Entusiasmou-se pela maçonaria e pelo fascismo. Foi inimigo do “Império Soviético”. Atualmente, defende opiniões totalmente opostas.


Em 1991 foi publicado seu primeiro livro “Caminho do Absoluto” onde estão expostos os fundamentos de sua orientação religiosa. Em 1992 começa a editar a revista “Elementos”. Em 1993 publica o best-seller “Teoria da Conspiração” que se tornou o equivalente do livro de ação inglês “Caça aos Espiões”. No livro “Teoria da Conspiração” foi desenvolvido o tema das relações secretas entre a CIA e a KGB.

Segundo sua própria confissão, A. DUGIN na juventude intitulava-se “um fascista místico” e hoje em dia modificou esta denominação para “fascista ortodoxo”.

A. DUGIN considera o esotérico francês da primeira metade do século vinte René GUÉNON (15.11. 1886 – 07.01. 1951) como seu mestre, como autoridade reconhecida e incontestável, como emissário autêntico da teoria escatológica, considerando-o a figura chave desse período. Escreve: “René GUÉNON é o emissário do supremo centro para a última época, para o período de Kali Yuga, e os princípios da Tradição por ele formulados (o conjunto dos “conhecimentos não humanos transmitidos de uma geração à outra pela casta dos sacerdotes ou por outras instituições semelhantes) servirão de baluarte de salvação para aqueles que terão que, lutar contra “este Mundo” e seu “Príncipe”, fazer renascer a Tradição na sua dimensão autêntica, não humana e “angélical” e, fechando o ciclo, elaborar os fundamentos sagrados da Idade do Ouro que se aproxima.” [2]
Um dos objetos fundamentais das pesquisas de GUÉNON é uma versão da metafísica, na qual as concepções do hinduísmo exerceram uma grande influência.

Na tentativa de justificar GUÉNON (e, por conseguinte, suas próprias concepções sobre cristianismo), A. DUGIN diz que “a particularidade do tradicionalismo de GUÉNON faz às vezes com que os membros conservadores da Igreja considerem erroneamente o esoterismo e a síntese a que ele se refere como ocultismo e sincretismo.”[3]
E, 1912 GUÉNON se converteu ao Islamismo e adotou o nome árabe de Abd-el-Vakhed-Iakhia – Servidor Único.

Mais adiante [4], todavia, DUGIN indica que “GUÉNON recebeu iniciação maçônica do neo-rosacruz Theodor REUSS, que foi amigo, companheiro de armas e responsável pela iniciação de A. CROWLEY”. [5]

Lembremos que GUÉNON constitui uma autoridade incontestável para A. DUGIN.

O Neopaganismo à luz das concepções metafísicas de R. GUÉNON e de A. DUGIN

As primeiras pesquisas religiosas de A. DUGIN datam do início dos anos 90 do século passado e estão ligadas à fundação do almanaque “Anjo Gentil”, em cujas publicações são examinadas as fontes espirituais dos ensinamentos de um novo messias. Eis o que escreve a equipe de redação nesta edição [6]:


“Nossa tarefa fundamental ... constitui a restauração da tradição integral em toda a sua dimensão total ... O almanaque ‘Anjo Gentil’ combate a favor da restauração do espírito medieval, da forma de pensar medieval , da religiosidade medieval e da concepção de estado medieval.” Entretanto, como veremos a seguir, A DUGIN interpreta estes conceitos “medievais” do ponto de vista do neopaganismo.

Dentro dos limites da Tradição mencionada, DUGIN reconhece a primazia do não ser: “qualquer metafísica tradicional de pleno valor reconhece a prioridade do não ser sobre o ser”. [7] Aqui está uma das posições (respostas) da gnose escatológica de A. DUGIN: “O ser apareceu como prova de que o não ser que o continha antes de sua aparição não é a última instância, e de que, além de seus limites está presente o Outro, que não coincide nem com o ser, nem com o não ser[8]. Do seu ponto de vista o ser “não pode também afirmar sua própria primazia sobre o não ser, pois contradiria a verdade, já que o ser puro não é outra coisa senão a tradução na realidade, sob sua forma lógica, das possibilidade do não ser que o precedeu.”[9]

De maneira generalizada a doutrina espiritual de A. DUGIN está concentrada no almanaque “O Fim do Mundo. Escatologia e Tradição” (Moscou, Ed. Arktogaia, 1998). O próprio A. DUGIN denomina esta publicação de “manual de historia da religião”. Todavia, os aspectos históricos das várias crenças contidas neste trabalho são apresentados sob seu ponto de vista próprio (e totalmente peculiar). Isto contradiz definição do livro como obra histórica e lhe confere um aspecto dogmático. A mistura de concepções cristãs, runologia, conceitos pagãos, várias teorias da cosmogonia é só uma pequena lista das liberdades de um diletante para com os materiais da coletânea.

Ao inserir na coletânea histórica [10] um capítulo do livro “Caminho do Absoluto”, (”Gnose Escatológica”), A. DUGIN constata assim que sua doutrina religiosa já está formada.
Justificando o surgimento de novas religiões e cultos dentro dos limites da Tradição, A. DUGIN escreve literalmente o seguinte: “As normas e as estruturas esotéricas da Tradição se transformam em conformidade com a situação do ambiente cósmico, e, por conseguinte, aparecem novas religiões e tradições, novas redações do culto e novas práticas.”[11]
Esta afirmação tem consequências de longo alcance. Se o ambiente cósmico constitui o não ser que gera o ser, então o surgimento de novas religiões e cultos (possível somente nos limites do ser) é um fato objetivo (do ponto de vista metafísico) e isto significa que cedo ou tarde uma nova religião nos limites do Estado da Eurásia irá aparecer e além disso será absurdo resistir-lhe.

É de se notar que esta afirmação está inserida na seção do “manual” consagrada à analise dos ensinamentos religiosos de A. CROWLEY.

Desta forma, podemos desde já definir a doutrina religiosa de A. DUGIN como uma interpretação da metafísica do hinduísmo combinada a conceitos do marxismo ortodoxo. Sob o aspecto linguístico, esta doutrina reveste a forma de uma terminologia pseudocientífica, extremamente atraente para diletantes que, como o próprio A. DUGIN, não concluíram um curso universitário e que compartilham dos ideais da ideologia comunista.

A Ortodoxia na interpretação de A. DUGIN

DUGIN faz uma análise da Ortodoxia a partir da posição tradicionalista de GUÉNON, avançando a tese: “A Igreja Cristã ... se seguir uma orientação tradicionalista e conservadora, em regra geral, na melhor das hipóteses, constitui o apoio fundamental para a conservação do aspecto esotérico, ritualístico e dogmático... . A Igreja ou limita sua atividade não litúrgica por um moralismo simplificado, ou , o que é pior, tenta ocupar-se da apologética baseada em teorias fundamentalmente profanas, contemporâneas e antitradicionalistas, ou ainda, o que é terrível, tende ao sincretismo, ao ecumenismo e mesmo ao neoespiritualismo mais baixo....”. [12]


Nas obras de A. DUGIN manifesta-se claramente o efeito da lei da dicotomia. Por exemplo, a tentativa de pesquisar as crenças pré-cristãs e pré-ortodoxas da Rússia leva A. DUGIN a conclusões paradoxais. Eis uma delas: “O Cristianismo não substituiu, mas elevou e consolidou a fé antiga pré-cristã.” [13]

Escreve: “Quando temos diante de nós uma tradição realmente importante e autêntica, podemos quase sempre descobrir nela seu transcendentalismo e seu caráter imanente, sendo que esta última característica constitui sua parte interior e esotérica.”[14], ou seja, para A. DUGIN o paganismo é também uma suposta Ortodoxia, todavia melhor e mais original. “O aspecto imanente” é a concepção mística do mundo de A. DUGIN e de seus seguidores. Esta concepção provém em particular do fato de que basta pensar em uma “conspiração” e a ideia de conspiração já se torna realidade e, na medida, que sou “eu” que penso, então isto é uma realidade bem mais importante do ponto de vista metafísico do que a realidade concreta [15]

O “aspecto imanente” não distingue ideias que tem seu fundamento na vida quotidiana e também as ideias nominais (ou ordinariamente fictícias), e dá preferência às fictícias. A incapacidade da tentativa de associar o “aspecto imanente” ao Cristianismo manifesta-se de maneira particularmente visível na tentativa de interpretação do Credo, tentada por A. DUGIN, onde ele geralmente descamba para uma franca heresia[14]. Assim, ele afirma que o Credo de Niceia é uma profissão de fé com “uma pequena concessão a preconceitos cristãos”. Além disso, A. DUGIN geralmente chama o Credo de “Fórmula da Fé [16]. Ao fazer isto, considera que os primeiros três membros (ou, na terminologia de A. DUGIN, pontos) fornecem uma imagem absoluta e acabada da metafísica [17]

Nas suas “obras” [18] A. DUGIN simplesmente blasfema ao afirmar certo aspecto real (existencial ou ontológico) da Trindade. Ele nega a revelação de que Deus é o criador do mundo e que este sempre transcende qualquer aspecto material.

DUGIN introduz uma inovação na doutrina da imortalidade da alma. Escreve em particular: “A Alma, uma forma sutil, tecida de substâncias da atmosfera, sobrevive ao corpo no qual ela passou sua vida terrena e pode viver de modo independente mesmo depois da morte corporal ... Mas o caminho para o céu do espírito ... é impossível para a alma individual, pois, este mundo, por definição não admite em si seres revestidos de forma”.[19] Entretanto, de acordo com a doutrina ortodoxa, Deus cria a alma pelo seu sopro criador [20].

DUGIN em um sentido puramente teosófico insiste na “descoberta dentro da personalidade humana” de uma substância radicalmente diferente do velho “eu” habitual do indivíduo. Afirma que esta descoberta se passa durante o batismo [21]. E nisso A. DUGIN vê uma saída para a “salvação” do ser humano.

Tal afirmação contradiz diametralmente a definição de João Damasceno: “a alma é uma substância viva, simples e incorpórea, por natureza invisível aos olhos humanos, imortal, dotada de entendimento e inteligência e não possui uma imagem (forma) determinada”. Ela age com auxílio do corpo orgânico e comunica-lhe vida, crescimento, sentimento e força de geração. A inteligência ou o espírito pertence à alma não como algo diverso, separado dela, mas como sua mais pura parte. O que são os olhos para o corpo, assim é a inteligência para a alma. A alma é um ser livre, dotado de capacidade de vontade e ação. Ela é “suscetível de mudança por parte da vontade”. [22]

As concepções e declarações errôneas e por vezes francamente heréticas de A. DUGIN são complementadas pela runologia, pela doutrina sobre o caráter cíclico das fases cósmicas e pelas demais crenças pagãs.

De acordo com a mencionada lei da dicotomia, utilizada por A. DUGIN largamente para elaborar os seus trabalhos, chega à conclusão inevitável de que existem dois tipos de hinduísmo segundo GUÉNON – um bom e um mau. O “mau” é o ocidental e o “bom”, o oriental, supostamente ortodoxo. A. DUGIN vê “um futuro brilhante” para a ortodoxia com a combinação do princípio esotérico da Igreja (isto é, com a organização eclesiástica) com a gnose esotérica pagã. Esta abordagem, como ele descreve, abre “possibilidades ilimitadas para uma compreensão profunda e inesperada da ortodoxia russa”[23].

Assim, A. DUGIN afirma que na pessoa dos “heréticos gnósticos” já existe um fundo de ortodoxia, faltando somente o aparato metafísico. Por isso, o único caminho consiste em adotar a religião tradicional e, em seguida, tentar, no âmbito desta religião, penetrar pela prática espiritual, ritual e intelectual nos seus aspectos esotéricos interiores, nos seus mistérios” [24]. A. DUGIN aconselha que, “para que os gnósticos não se submetam à influência das ideias cristãs, estes devem aspirar a minimizar a dimensão humana, terrena e secular da Igreja ..., é indispensável a despeito de tudo insistir na totalidade mística e na perfeição da Igreja, destacando seu aspecto atemporal, benéfico e transformador”[25]. Além disso, pensa que: “ a tarefa fundamental para se aplicar os princípios do tradicionalismo integral ao cristianismo e, em particular, para a ortodoxia, pressupõe tornar-se um seguidor imediato e ortodoxo de GUÉNON” [26].

Isto nada mais é que um apelo à criação dentro da ortodoxia de uma nova tendência (seita), isto é, uma tentativa de um simples cisma.

A. DUGIN evidentemente desconhece que a mantenedora da verdadeira tradição – a Igreja – se protege e se protegerá com antecedência contra sociedades secretas no seu seio. Ele apresenta a situação de tal forma que pelo seu desejo pode juntar à Igreja suas convicções pagãs.

Segundo a opinião audaz de A. DUGIN, “Se nós fomos resgatados pelo Cristo, então, em princípio em nós não há pecado, e é necessário ir corajosamente para o mundo da deificação e não contar meticulosamente suas imperfeições” [27]. Pela mesma razão coloca-se em dúvida um lado fundamental da vida espiritual como o arrependimento, como a confissão, em outras palavras, o leitor é de fato conclamado a uma recusa voluntária de participar nos mistérios mais importantes da Igreja, que constituem uma parte obrigatória da vida ortodoxa.

“A revolução religiosa é vista por DUGIN como a preservação de todos os aspectos dogmáticos, rituais, doutrinários e simbólicos da fé ortodoxa. Esta revolução, porém, destrói aquelas contribuições intelectuais, de caráter nobre e protestante ou de soviético conformista, e mais frequentemente de fundo liberal, que erroneamente são assimilados hoje em dia com a Igreja e que afastam dela muitas pessoas dignas, fortes e nobres de tendência revolucionária” [28].

Por seus objetivos, A. DUGIN aproxima-se dos chamados modernistas, adeptos de Kotchetkov, de Men, de Borisov e de Jeludkov - e semelhantes. Ele tenta de modo persistente “assimilar” a ortodoxia ao paganismo, e os modernistas acima citados vão ao seu encontro, expondo a ortodoxia dentro deles, e também no espírito e na alma de seus adeptos. “Este homem se colocou fora da Divindade e da lei humana, escolheu para si um ponto de vista fora do bem e do mal, acima da lei e da felicidade” [29]. E se os representantes das correntes renovadoras acima enumeradas seguem o caminho de uma suposta simplificação, DUGIN, ao contrário, com todas as suas forças esforça-se para tornar o evidente incompreensível e ambíguo, utilizando para tanto o aparato conceptual e linguístico da metafísica.

Podemos supor que as doutrinas religiosas de A. DUGIN constituem uma compilação de crenças ocidentais (protestantes) e orientais (hindus). Não possuem nenhum fundamento espiritual da ortodoxia e não podem ser consideradas uma doutrina religiosa completa no sentido atribuído a este conceito pelos homens de ciência – teólogos e filósofos.

Posição de A. DUGIN com relação ao Islamismo

Uma das primeiras medidas oficiais tomadas pelo movimento “Eurásia” foi uma conferência sobre o Islamismo “Ameaça do Islã e ameaça para o Islã”. A conferência realizou-se no dia 29 de junho de 2001 no prédio do “Hotel-Presidente” sob a presidência do porta-voz da Câmara de Deputados, G. Seleznev, do grão mufti da Rússia Talgat Tadjuddin e de A. Dugin (nesta época ele tinha-se tornado conselheiro de Seleznev para questões de geopolítica). Um número especial da “Revista da Eurásia” foi consagrado às relações do Movimento com o Islã. A Divisão de relações exteriores da igreja ortodoxa do Patriarcado de Moscou publicou nas páginas desta edição um artigo do padre Vsevolod (Tchaplin), artigo este que ocupa apenas um pouco mais de 5% do volume total da revista.


Cabe notar que em todos os artigos sobre o Islã não há qualquer referência às numerosas manifestações extremistas dos pseudomuçulmanos. Além disso, no artigo [31] do autor permanente do jornal, Khoj-Akhed Nukhaev, propõe-se a criação “no território da Chechênia meridional uma casa comum da Eurásia, uma organização construída segundo os princípios da doutrina dos cãs tártaros (reunião dos muçulmanos, cristãos e judeus e todos os homens de boa vontade, prontos para submeter-se a esta organização em torno de uma missão comum de revitalização da Terra e cura da alma da humanidade contemporânea).

As ideias de Kh-A. Nukhaev estão bem próximas das de DUGIN. Por exemplo, ele propõe construir o Estado da Eurásia em duas etapas:
Na primeira etapa será fundada a CUEA – Confederação Unificada dos Estados Autoritários.

Na segunda, ela se transformará na Casa Comum da Eurásia.
Podemos imaginar que o Islamismo é mais próximo de DUGIN como fundamento espiritual da ideia de Eurásia. São interessantes as reflexões de DUGIN a respeito da “terceira capital” [32]. Ao examinar o papel desempenhado pelas cidades de Kiev, Moscou e São Petersburgo na história da Rússia, ele, notando o fato de que na Rússia moscovita a etnia torna-se particularmente grã-russa, designa este estado, todavia, como turco-eslavo. Do seu ponto de vista, a capital ideal da Eurásia seria Kazan. Para confirmar suas palavras, escreve: “Ivan o Grande (Terrível) apresenta-se com o legítimo herdeiro da vontade geopolítica da Horda de Ouro, como um tzar especialmente grão-russo, no qual as raízes eslavas se unem com o sangue tártaro sob o estandarte da ortodoxia bizantina”. Ele considera que “o Tartastan representa o modelo de uma entidade federativa da Eurásia.

Graças ao impulso tártaro, turco, os russos se conscientizaram como grão-russos, separando-se para sempre do modelo pequeno-russo de Estado. O elemento tártaro é o fator mais importante tanto para a etno-gênese dos grão-russos como para a forma de governo – para a gênese da própria Rússia – Eurásia”. E, finalmente, a afirmação mais interessante: ”O Islamismo dos cãs tártaros é valioso para a Eurásia não como “uma forma incompleta de ortodoxia”, mas como a variedade ortodoxa do Islamismo. E, inversamente, para o Islamismo ortodoxo não há tradição mais próxima do que a Igreja Ortodoxa” [33].
A. DUGIN considera que os métodos metafísicos servem não só para o estudo da ortodoxia, mas também para o do Islamismo. Assim, ele cita a coincidência da opinião do conhecido metafísico muçulmano Gueidar Djemal com a sua própria: “O Fim é mais fundamental do que o começo ... A Negação é a mais fundamental de todas as realidades”[34]. É revelador que este artigo de A. DUGIN foi por ele publicado no jornal dos comunistas russos “Amanhã” nº 21 (338) no ano 2000. Ao fazê-lo, A. DUGIN revelou um total desconhecimento com um documento analítico com “Jiad do povo tártaro na Rússia”[35], no qual a “proximidade” agressiva do Islã com a ortodoxia foi refletida em mais de uma acepção.

Se levarmos em conta o apelo de A. DUGIN para a superioridade da união com os estados muçulmanos, e a possível tomada do poder por eles da União Européia, surge então a seguinte pergunta:

Qual mecanismo A. DUGIN propõe utilizar para prevenir a repetição da situação que hoje em dia se formou no Afeganistão (tem-se em vista o julgamento de missionários cristãos pelos talibãs)?

Levando-se em conta que, segundo as palavras do Cheiq-ul-Islam Talgat Tadjuddin, a população muçulmana manifesta seu pleno apoio ao presidente Putin, podemos com segurança considerar que ela também assim procederá para com a A. DUGIN, que abertamente demonstrou uma posição favorável em relação às ações do dirigente do país.

Posição em relação à maçonaria contemporânea

Na concepção de A. DUGIN, a maçonaria é em princípio “um movimento iniciático bom, dividido pela influência de forças exteriores num ramo ruim “egípcio” e num bom, cristão e escocês”[36]. Por esta afirmação, A. DUGIN revela sua total incompreensão da teoria maçônica, que nega qualquer religião como base da existência espiritual da sociedade.

Apesar disso, oferece certo interesse a conversa que teve A. DUGIN (ele neste caso se apresentou como autor do almanaque “Anjo Gentil” – AG) com o chefe do ramo francês da “Ordem dos Templários Orientais” (mais tarde reformada por A. CROWLEY), um tal irmão Marcion (Christophe Bouchet) [37] quando da sua chegada na Rússia.

Examinando a ação dos maçons no decurso de alguns séculos, o irmão Marcion analisa o lado oculto da ação da SS na Alemanha de Hitler, considerando que “a maioria dos trabalhos dedicados à pesquisa do nacional-socialismo são simplificações vulgarizadoras que aspiram a apresentá-lo como o um mal absoluto”. Ele, baseado nas publicações de Savitri Devi Mukherji, esposa do brâmane Mukherji, considera que “no interior no Nacional-socialismo existiu uma evidente tendência messiânica”.

Nesta mesma passagem, o irmão Marcion afirma que “tudo o que se diz ter-se passado nos campos de concentração nazistas (e também nos stalinistas) não passa de um enorme exagero”. (Evidentemente o irmão Marcion desconhece os materiais do julgamento de Nurenberg).

Segundo a confissão do irmão Marcion, seções de lojas maçônicas existem em muitos países da Europa Ocidental, incluindo a Iugoslávia, onde, há alguns anos, o número dos seguidores de Crowley era muito grande. À pergunta relacionada com a fé dos maçons ele responde literalmente assim: “Eles creem no poder e na necessidade de dominar, subjugar e governar a si próprios”.

As teorias de Crowley à luz do enfoque metafísico de A. Dugin

A tentativa mal dissimulada de conciliar a ortodoxia com crenças que lhe são opostas deve-nos por de sobreaviso. Neste sentido, A. DUGIN até tenta demonstrar que A. Crowley não é perigoso para qualquer crença como geralmente é descrito. O autor produz uma série de citações que justificam Crowley, tentando provar que ele é somente um dos mais importantes pesquisadores (filósofos) dos nossos tempos. Tal atitude para com o “messias” do satanismo é mais do que reveladora, como também o fato de que, analisando a doutrina de Crowley, ele põe a palavra “satanismo” entre aspas. Exteriormente tenta tomar a posição de um analista independente das diversas crenças, sobre as quais a coletânea contém informações.


Na base das reflexões de A. DUGIN também se encontram aqui as concepções metafísicas de Guénon, bem conhecidas por ele. Opondo iniciação e contra-iniciação, ele pensa que “as mais terríveis e sérias deturpações e dessacralizações cabem às pessoas com as melhores intenções, convencidas que são ortodoxas e portadoras do bem mais evidente”. E mais adiante: “Na maioria das vezes os não conformistas religiosos ( “hereges” , “satanistas”) buscam a plenitude da experiência sagrada, que os representantes da ortodoxia não podem lhes oferecer. Não é culpa deles, mas seu infortúnio, e a verdadeira culpa cabe àqueles que permitiram que sua autêntica tradição se transformasse em uma fachada superficial detrás da qual não há simplesmente nada. E talvez precisamente estas forças e grupos suspeitos caminham para a realidade profunda, enquanto que os profanos que permanecem na periferia por todos os meios criam obstáculos” [38].

Por meio de reflexões corriqueiras, A. DUGIN chega mais adiante à conclusão de que o papel “dos satanistas” (ou da Ordem de Seth) na divisão das igrejas ortodoxa, católica e protestante é simplesmente insignificante: pois a formação de A. Crowley se deu no seio da irmandade protestante de Plymouth, cujo propagador foi seu pai. É interessante a seguinte afirmação de A. DUGIN: “todas as vezes que Crowley acentuava o seu “satanismo”, só expressava uma clara compreensão do valor de sua posição diante do campo metafísico que ele conscientemente abandonara. E nada mais”. Desta forma, a doutrina espiritual de A. Crowley se reduz somente a uma negação dos dogmas do protestantismo. Por este mesmo raciocínio, deixa entender que desconhece algo de maléfico nos satanistas russos e na atividade de seitas semelhantes em muitos países do mundo. Mais do que isso, propõe considerar A. Crowley como “herege da heresia”, “um Anticristo no seio do anti-cristianismo”, e que é especialmente indispensável levar em conta, ao se avaliar Crowley, seu autêntico significado para a Rússia [39].

Em outras palavras, A. DUGIN culpa o próprio cristianismo pelo aparecimento das concepções anti-cristãs de A. Crowley: a identificação que Crowley faz de si próprio com o “Anticristo” “não era para ele a expressão do caráter destrutivo de sua missão, mas tão somente uma assimilação de denominações e títulos para provocar, no contexto cultural cristão; títulos estes que os profetas cristãos atribuem, no âmbito de seu contexto religioso (a religião de um Deus que morreu e ressuscitou) a “profetas de uma nova era” [40] que lhes são incompreensíveis”. E de maneira geral, do ponto de vista de A. DUGIN, o próprio A. Crowley de modo “reflexo” e irônico descreve sua magia sexual em termos de Anticristo.

Isto é, toda a doutrina de Crowley se reduz a um gracejo! Neste ponto é oportuno lembrar algumas formulações de Crowley em um de seus livros relativo aos sacrifícios humanos: “dependendo dos objetivos místicos devem ser executados esfaqueamentos, espancamentos até a morte, afogamentos, envenenamentos, decapitações, estrangulamentos, autos da fé etc.” [41], ou ainda “O sangue lunar é o melhor, também o é o menstrual, o sangue fresco de uma criança e um fragmento da hóstia sagrada, em seguida, o sangue dos inimigos, depois o de um sacerdote ou de um crente e, em último lugar, o sangue de um animal qualquer” [42]. A. Crowley também recomenda: “O objeto mais conveniente para estes casos é uma criança de sexo masculino, inocente e intelectualmente desenvolvida (“Apontamentos mágicos do irmão “Perturabo” – pseudônimo litúrgico de A. Crowley)”. Dá entender que no período entre 1912 e 1928 ele executou tais sacrifícios numa média de até 150 ao ano [43]

E a parte final do artigo. “Impossível excluir a possibilidade de que o seu negativismo mais repulsivo e evidente, sua antinomia e sua “natureza maléfica” estejam mais próximos da verdade e nos ajudem a adquirir orientações espirituais corretas, pois, não é verdade que o caminho do paraíso esta revestido de maus pensamentos”?[44].

Ao que foi dito não é possível acrescentar mais nada. É verdade, ainda, que no livro “O Fim do Mundo” foi integrada totalmente a obra fundamental de A. Crowley “O Livro da Lei”, o que pode ser considerado uma forma de propaganda para os seguidores de A. DUGIN.
Tentemos formular as posições religiosas de A. DUGIN a partir da breve análise dos materiais acima examinados:
  1. Visão do mundo contrária à Ortodoxia, baseadas na primazia do não ser sobre o ser, com emprego do aparato conceptual e linguístico da metafísica.
  2. Presença na sua doutrina de concepções diretamente ligadas à visão do mundo hindu (tantrismo, metafísica indiana), e também com elementos da Teosofia que refletem as opiniões de R. Guénon (iniciado na Maçonaria, supostamente na Ordem reformada dos Templários Orientais – ou Ordo Templi Orientis, a O.T.O.).
  3. Apelos para “uma reforma” da Ortodoxia, em particular por meio da erosão da Ortodoxia como verdadeira crença, da introdução no interior da Igreja de seus inimigos, da liquidação das tradições ortodoxas, da sua submissão ao Islã e, no final das contas, sua destruição pelo emprego do aparelho administrativo da famigerada União da Eurásia. Como etapa intermediária, uma utilização conjuntural da Ortodoxia para atingir seus próprios objetivos políticos no confronto com os partidários da aliança atlântica na marcha para uma real dominação do mundo.
  4. Uma evidente preferência pelo Islã em detrimento das outras crenças religiosas, no seio de uma relação condescendente para com a maçonaria e o satanismo.
  5. A crença religiosa de A. DUGIN ao contrário das outras doutrinas religiosas tradicionais está dirigida para uma classe social de elite. Para sua compreensão exige-se um preparo específico, em particular de natureza filosófica. E isto coloca esta crença na categoria das ideologias ocultistas e místicas em função da critica que faz das posições conceptuais das principais religiões do mundo.
  6. A arbitrariedade na interpretação dos postulados fundamentais do Cristianismo e uma difusão deste tipo de material através de fontes de informação publicamente acessíveis colocam A. DUGIN fora dos muros da Igreja.
O centro de distribuição da doutrina de A. DUGIN é a loja “Transilvânia” (sita em Moscou, à Rua Tverskaia 6/1 5, telefone 229-87-86/33-45, site www.arktogaia.com). Citemos o conteúdo deste site publicado no jornal:
  • Filosofia
  • História das religiões
  • Geopolítica
  • Metafísica
  • Sociologia
  • Economia
  • Culturologia
  • Politologia
  • Oneirologia
  • Psicologia das profundezas
  • Runologia
  • Geografia sagrada
  • Teoria da conspiração
  • Análise dos acontecimentos correntes
  • Versão na rede das publicações periódicas da Eurásia, links para mensagens, fórum.

Nas instalações da “Transilvânia” se encontra também a loja “Artogaia-2”, onde estão expostos praticamente todos os trabalhos de A. DUGIN, bem como obras fundamentais sobre um vasto círculo de problemas de teologia, política e economia (em particular as obras de G. Wirth, A. Crowley e outros apologistas das crenças anticristãs, os documentos programáticos do movimento “Eurásia” e suas publicações periódicas).
Tendo-se em conta as posições atuais de A. DUGIN, líder de um movimento social populista, podemos supor que, no futuro próximo, a base e a esfera de difusão de sua doutrina irá ampliar-se pelo uso das possibilidades oferecidas pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho da Federação e por meio de suas possibilidades editoriais e gráficas. Sobretudo, deve-se esperar um visível apoio do governo para o conglomerado editorial “Arktogaia”, e o emprego de outros meios de informação de massa que deverão fazer propaganda da doutrina de A. DUGIN. Já hoje em dia a base gráfica, utilizada para a impressão dos trabalhos do movimento “Eurásia”, é o complexo de produção gráfica “VINITI”, um das mais modernas e poderosas empresas editoriais no sistema de distribuição de informação de caráter técnico-científico e social da Rússia.

Bibliografia:

Referente à seção: “A doutrina de Aleksandr DUGIN”:
  1. Serguei RIUTKIN. “O crítico Dugin”// Internet, www.russ.ru,9.06.98.
  2. “Anjo Gentil” – Moscou. Atogaia, tomo 1, 1991, pag. 10.
  3. Ibidem, pag. 29.
  4. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 359.
  5. Ibidem, pag. 47.
  6. Ibidem, pag. 1.
  7. “Anjo Gentil”, Artogaia, Tomo 1, 1991, pag. 23.
  8. A. Dugin. O Fim do mundo. Escatoçogia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag 19.
  9. Ibidem, pag. 19.
  10. Ibidem, pag.17.
  11. Ibidem, pag. 365.
  12. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção “O tradicionalismo de Guénon” .
  13. A. Dugin. A Igreja cristã”. Moscou.Artogaia, 1998, pag. 29.
  14. A. Dugin. “O Mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 19.
  15. A. Dugin “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 23.
  16. R. Verchillo. “Contra o novo paganismo” “Tver ortodoxa”, nº 7-8, 199.
  17. “O esoterismo cristão”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  18. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 225.
  19. “O esoterismo cristão” Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  20. Ibidem, pag. 68.
  21. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 12.
  22. Ibidem, pag. 33-34.
  23. Arquimandrita Alípio e arquimandrita Isaías. “Teologia dogmática – ciclo de conferências”. Mosteiro de Troitsko Serguievo, 2000.
  24. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 148.
  25. A. Dugin. “O mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 55.
  26. Ibidem, pag. 245-246.
  27. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 29.
  28. Ibidem, pag. 10.
  29. Ibidem, pag. 10.
  30. Roman Verchillo. “Contra o novo paganismo” (“A propósito das obras de A. Dugin”). Tver ortodoxa, nº 7-9, julho-agosto de 1999. (Mensageiro do centro de informações e análise do prelado Mark, bispo de Éfeso (fascículo 13).
  31. Khoj-Akhmed Nukhaev. “Não estamos interessados na derrota da Rússia”. Resenha sobre a Eurásia, fascículo especial, pag. 4.
  32. A. Dugin. “A terceira capital”. Na coletânea: “A doutrina da Eurásia: teoria e prática”. Moscou. Artogaia, 2001, pag. 39.
  33. Ibidem, pag. 44.
  34. A. Dugin. “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil, tomo 1, Artogaia, 1991, pag. 22.
  35. I. N. Lotfullin e F. G. Islaev. “O jiad do povo tártaro na Rússia”. Kazan, 1998, pag. 156.
  36. A. Dugin. “Teoria da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 48.
  37. Ibidem.
  38. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção: “Teoria geral da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 209.
  39. Ibidem, pag. 366.
  40. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 362.
  41. Ibidem, pag. 366.
  42. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1. Edições Lokid-Mif, pag. 167-177.
  43. Ibidem, pag. 384 (citação do livro de Crowley: “O livro das leis”, parte 3, versículo 24”.
  44. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1, Edições Lokid-Mif, pag. 17.
Original:Новые религиозные объединения России деструктивного и оккультного характера: справочник.
Русская православная церковь.
Московская патриархия. Миссионерский отдел Миссионерский отдел Московского Патриархата Русской Православной Церкви.
Белгород, 2002.

Tradução: Luiz H. Guimarães

E a nossa justiça, como vai?

Adaptado ao Brasil, o garantismo possibilitou a inserção de uma escancarada inversão de valores ao Direito e à própria Justiça Penal, praticamente transformando o bandido em vítima e imprimindo à vitima o status de vilã.
A incorporação torta do garantismo Penal ao Direito Penal brasileiro acabou transformando tal doutrina em um monstro a serviço do socialismo.

Não tendo triunfado a chamada “luta armada”, pela qual os prepostos do comunismo internacional pretendiam fazer do Brasil uma ditadura-satélite e inscrever o país nos quadros totalitários da história, a revolução migrou para esfera cultural, na qual logrou grande êxito na subversão dissimulada procedida através da estratégia gramsciana, visando o mesmo fim. Na mesma esteira, ocorreu uma vasta infiltração revolucionária no universo jurídico brasileiro, em especial no âmbito do Direito Penal, que acabou por transformar este campo em um terreno fértil para a ação da esquerda radical.


Já na fase inicialmente mencionada (luta armada), quando os militantes praticavam delitos em prol da implantação da tirania comunista, a atuação de muitos penalistas brasileiros já ideologizava-se neste mesmo sentido, sempre muito bem disfarçada de luta democrática. A doutrina passou a refletir muitos posicionamentos supostamente libertários que, munidos de falsos anseios de redemocratização, inseriam o pensamento revolucionário de forma intensa no âmbito do Direito Penal pátrio. E a revolução cultural tratou de, nas esferas acadêmico-universitárias, formar profissionais jurídicos cada vez mais engajados na referida causa. Assim, pouco a pouco nosso Direito Penal foi sendo perversamente moldado para possibilitar a ampla promoção do modelo de Estado inerentemente antagônico ao Estado Democrático: o Estado totalitário socialista.

No decorrer desta sistemática desvirtuação do Direito Penal brasileiro em prol da revolução comunista, foram sendo incorporados ao mesmo tendências estrangeiras que encaixaram-se perfeitamente ao que desenhava-se. Foi o caso do garantismo penal, conjunto de teorias de Direito Penal e Processo Penal de autoria do jusfilósofo italiano Luigi Ferrajoli. Em sua concepção original, o garantismo caracterizava-se basicamente pelo compromisso com a legítima garantia das liberdades individuais e direitos fundamentais de todas as pessoas (não tinha, portanto, um aspecto seletivo conforme se pontuará adiante). No entanto, ao promover uma releitura do caráter retributivo que caracteriza e dá sentido à Justiça Criminal, o garantismo trouxe consigo o germe de sua própria deturpação. Assim, em terras brasileiras, o garantismo foi apropriado indevidamente pelos juristas soi disant progressistas, que trataram de vincular toda leitura da teoria à suas perspectivas amiúde anticientíficas e militantes. A desumanidade e o caos do sistema penitenciário brasileiro facilitaram a difusão do garantismo à moda brasileira, centrado na “superação do retributivismo”. No fim do processo de assimilação ao Direito Penal brasileiro, o garantismo tornou-se irreconhecível, tornou-se uma aberração.

Adaptado ao Brasil, o garantismo possibilitou a inserção de uma escancarada inversão de valores ao Direito e à própria Justiça Penal, praticamente transformando o bandido em vítima e imprimindo à vitima o status de vilã. Assim, enquanto a Justiça “garante” excessivamente e com um zelo maternal os (devidamente ampliados) direitos do réu, a vítima é esquecida, sem amparo algum. Obviamente, o zelo idealizado pelos garantistas brasileiros – brasileiros, frise-se – não estende-se a cidadãos de bem que, frente a nova legislação violadora dos direitos por excelência (vida, liberdade e propriedade) criada e promovida pelo comando revolucionário, já pensam em pôr em prática a justa desobediência civil, única arma do cidadão oprimido por governos tirânicos. A aplicação das garantias é seletiva, dirige-se apenas à bandidos, sempre úteis ao processo revolucionário; desta forma, é possível afirmar que os que acusam a “seletividade do sistema penal” (que diz que o sistema penal só alcança minorias étnico-raciais, pobres, etc) promovem uma outra modalidade de seletividade. Latrocidas, seqüestradores, estupradores, narcotraficantes, terroristas e todos os tipos de agentes criminosos merecedores de segregação penitenciária passam a ser amparados (e não devidamente punidos) pela Justiça Penal. De outro lado, as vítimas são abandonadas, e cidadãos que, espremidos por um Estado expansivo e proto-totalitário, vêem-se obrigados a violar leis violadoras de direitos elementares, sendo tachados então de criminosos e punidos com máximo rigor. Como o crime é aliado e meio de ação dos comunistas, a lógica garantista brasileira fecha o ciclo: os marginais são heróis e os cidadãos honestos são opressores.

Este processo de adulteração do Direito Penal brasileiro em nome do socialismo produziu um tipo de criminalista “progressista” extremadamente imoral e cuja absurdidade das posições as quais sustenta causa repulsa a qualquer cidadão, vinculado ou não a ofícios jurídicos, que não tenha sido afetado pela perversa manipulação revolucionária. Advogados que utilizam o discurso de luta de classe para promover bandeiras do marxismo cultural, e cumprir os ditames da engenharia social esquerdista, hoje infestam os tribunais e agem como verdadeiros militantes com capacidade postulatória. A magistratura e o parquet também contam com muitos militantes comunistas com salários pagos pelo contribuinte. O cidadão sofre na carne as conseqüências desta militância, dados os níveis estratosféricos de criminalidade que ela acaba justificando e até mesmo impulsionando.

A esquerda revolucionária sempre teve no crime um aliado. Nada mais natural para o que tem o próprio crime como importante meio de ação. Por isso, a incorporação torta do garantismo Penal ao Direito Penal brasileiro acabou transformando tal doutrina em um monstro a serviço do socialismo.

A situação caótica proporcionada por esta deformação do Direito Penal e da Justiça parece ter atingido seu ápice, embora saibamos que o quadro só tenda a aprofundar-se. As polícias judiciária e militar são ostensivamente atacadas pelos pretensos “juristas progressistas”, tendo sua atuação controlada por estes falsos paladinos e toda a rede de amparo com a qual contam. Se a polícia prende o bandido, a Justiça solta, e se a Polícia age de forma enérgica e necessária, a Justiça a pune a Polícia. Sob a influência desta verdadeira esquerdização do Direito, a Lei Processual Penal torna-se cada vez mais frouxa, garantindo aos bandidos a impunidade que os torna a cada dia mais fortes em sua ação nefasta a sociedade e benéfica à revolução.
Surgem cada vez mais e mais advogados, magistrados e promotores de justiça notoriamente ideologizados, que utilizam o Direito para a promoção da causa revolucionária. Quando algum Juiz assume postura não-submissa aos interesses da cúpula comunista, é devidamente repudiado pela esmagadora maioria dos operadores do Direito Penal, tomados pela nova mentalidade imperante na área. Doutrinadores promovem, com êxito, teorias cada vez mais absurdas e destruidoras, a serem incorporadas ao Direito Penal brasileiro com o passar dos anos. Criminalistas idôneos comprometidos com a justiça, a ordem e o Estado Democrático de Direito são classificados como “retrógrados” e repudiados. E a população, aterrorizada pelos criminosos, sem autodefesa devido ao desarmamento civil e sem amparo na Justiça Penal, torna-se cada vez mais refém da barbárie.

Essa situação social terrível para o povo ordeiro e conveniente para o governo e demais facções revolucionárias, em parte, foi proporcionada pela deturpação pela qual passou o Direito Penal brasileiro. Sendo a revolução comunista beneficiada pelo caos, pelo crime e pela impunidade, cumpre esse novo (e estranho) Direito Penal não um papel civilizador, de mantenedor da ordem e de garantidor dos verdadeiros direitos do cidadão, e sim um papel de instrumento, de tentáculo a serviço desta revolução que anda a passos largos rumo a implantação definitiva do totalitarismo vermelho.
 
José Fighera Salgado é bacharel em direito, especialista em ciências criminais e músico gaúcho.

A dialetica das esquerdas (Foro São Paulo).

O PT não foi “designado”, foi o fundador do Foro de São Paulo, arquitetado pelo Marco Aurélio Garcia. Toda a ideia do Foro é genuinamente made in Brazil. Fidel apreciou a dádiva e incentivou Lula.

Nota de Heitor De Paola
:


Entrevista concedida a Fabiano Guimarães e Bruna Santana como parte da reportagem “Dialética das esquerdas: O Foro de São Paulo”,para o trabalho de conclusão de curso (TCC) de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Informaram os entrevistadores que sua reportagem foi um sucesso e estão aprovados. Parabéns aos novos jornalistas!


1 - O Foro foi criado em 1990 para “reconquistar no América Latina o que foi perdido no leste europeu”, segundo o próprio Fidel. Como interpretar essa fala? Quem havia perdido o quê? Em suma, em que Cuba dependia da URSS?


Heitor De Paola: Esta frase não é de Fidel, mas de Lula, apud Marco Aurélio Garcia. Cuba dependia da URSS para absolutamente tudo. A economia cubana estava aos pedaços e a ajuda de mais de 1 bilhão de dólares anuais da URSS era essencial, não para o povo, que continuava miserável,  mas para implementar os mecanismos de controle do Partido Comunista como plataforma de infiltração na América Latina.  Com o fim da ajuda soviética em 1992 o regime soçobrava e abria-se a ameaça de ser derrubado.

Não foi a primeira vez que uma organização continental foi criada para salvar o regime comunista cubano. Em 1966 o então futuro presidente comunista do Chile, Salvador Allende, fundou a Organización Latinoamericana de Solidariedad (OLAS), cujo objetivo secreto era organizar pequenos grupos armados com instrução de guerrilha e apoiá-los logisticamente para libertar o continente dos governos capitalistas ou contrários ao socialismo.


 Note-se bem: não falo em salvar o país, que só será salvo com a derrubada do regime comunista e a implantação da liberdade e democracia. Exatamente o oposto para o qual serviram a ajuda da OLAS e do Foro de São Paulo.

Lula havia prometido mandar ajuda, como hoje a Dilma faz, para viabilizar a ditadura cubana no poder, caso fosse eleito em 1989. Com a derrota para Collor foi acionado o “Plano B”, como se diz hoje em dia: a união de todas as organizações comunistas e genericamente esquerdistas da América Latina que foram convocadas para uma reunião em São Paulo. O verdadeiro organizador foi Marco Aurélio Garcia que desde a posse de Lula até hoje ocupa o cargo de “Assessor Presidencial Especial para Política Externa”, o verdadeiro Ministro das Relações Exteriores, os que ostentam este título desde então não passam de fantoches.

Quanto ao que foi perdido no Leste Europeu, foi exatamente o fim da URSS e a independência das 15 Repúblicas Socialistas Soviéticas Federadas (Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Estônia, Geórgia, Letônia, Lituânia, Moldávia, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão). Com a desintegração, algumas constituiriam a Comunidade de Estados Independentes (CEI). Além delas, os países satélites submetidos ao jugo soviético desde a invasão do Exército Vermelho durante e após a II Guerra Mundial, que constituíam o que Churchill denominou “Cortina de Ferro”, também se livraram das ditaduras comunistas. A primeira foi a Polônia, cujo sindicato Solidariedade amplamente apoiado pelo Papa polonês João Paulo II e Lech Walesa derrubou o governo comunista. Ainda a Tchecoslováquia, que formou duas repúblicas independentes, a Tcheca e a Eslováquia, a Hungria, Bulgária, Romênia, Iugoslávia, cujas seis unidades eram mantidas unidas pela mão de ferro comunista da Sérvia.


2 - Nos últimos dez anos, uma série de partidos de esquerda ascendeu aos governos da América Latina. Você acredita que essa “onda vermelha” seja obra do Foro de São Paulo? Por quê?

Heitor De Paola: Sem a menor dúvida. É só ler o discurso de Lula na celebração dos 15 anos do Foro de São Paulo publicado na íntegra em meu site:

“E eu queria começar com uma visão que eu tenho do Foro de São Paulo. Eu que, junto com alguns companheiros e companheiras aqui, fundei esta instância de participação democrática da esquerda da América Latina, precisei chegar à Presidência da República para descobrir o quanto foi importante termos criado o Foro de São Paulo. E digo isso porque, nesses 30 meses de governo, em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990, quando éramos poucos, desacreditados e falávamos muito. Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política. Foi assim que surgiu a nossa convicção de que era preciso fazer com que a integração da América Latina deixasse de ser um discurso feito por todos aqueles que, em algum momento, se candidataram a alguma coisa, para se tornar uma política concreta e real de ação dos governantes. Foi assim que nós assistimos a evolução política no nosso continente.

E é por isso que eu, talvez mais do que muitos, valorize o Foro de São Paulo, porque tinha noção do que éramos antes, tinha noção do que foi a nossa primeira reunião e tenho noção do avanço que nós tivemos no nosso continente, sobretudo na nossa querida América do Sul. Todas as vezes que um de nós quiser fazer críticas justas, e com todo direito, nós temos que olhar o que éramos há cinco anos atrás na América Latina, dez anos atrás, para a gente perceber a evolução que aconteceu em quase todos os países da nossa América. E eu quero dizer para vocês que muito mais feliz eu fico quando tomo a informação, pelo Marco Aurélio ou pela imprensa, de que um companheiro do Foro de São Paulo foi eleito presidente da Assembléia, foi eleito prefeito de uma cidade, foi eleito deputado federal, senador, porque significa a aposta decisiva na consolidação da democracia no nosso país.


Eu quero dizer uma coisa para vocês: não está longe o dia em que o Foro de São Paulo vai poder se reunir e ter, aqui, um grande número de presidentes da República que participaram do Foro de São Paulo.”

É preciso algo mais?

O desmantelamento da guerrilha e do terrorismo esquerdista pela pronta ação dos militares em 64 e principalmente em 68, juntamente com as ações militares no Chile (derrubada do governo comunista de Allende e esfacelamento o do Movimiento Izquierda Revolucionária – MIR), Argentina (destruição da capacidade de fogo dos Montoneros e do Ejército Revolucionário del Pueblo - ERP) e Uruguai (desmantelamento dos Tupamaros), as esquerdas ficaram órfãs. A grande maioria não foi exterminada, como fariam com os inimigos “reacionários” se tivessem conseguido o poder; fugiram e se asilaram em países europeus, africanos e os mais notórios, na Rússia, Tchecoslováquia, China e Cuba. Cuba continuou coordenando as ações de todos eles com os que permaneceram clandestinos em seus países.

3 - Qual é a diferença entre a revolução silenciosa do socialismo do século XXI e as revoluções precedentes, como a cubana e as investidas de 30 e 60 no Brasil?

Heitor De Paola: Na verdade este socialismo do século XXI iniciou-se na década de 50 do século XX. A origem é a “revolução dentro da revolução” levada a efeito pelo estudo da obra de Antonio Gramsci. Os Cadernos e as Cartas do Cárcere foram escritos de forma cifrada para sua cunhada, Tatiana Schuch, a qual, junto com o economista Piero Sraffa, professor em Cambridge, manteve os manuscritos e ao retornar à Rússia entregou-os a Palmiro Togliatti, o sucessor de Gramsci como presidente do Partido Comunista Italiano. Os grandes temas estudados por Gramsci foram a filosofia de Benedetto Croce, a questão dos intelectuais e da educação, Maquiavel e a política moderna, o passado e o presente, o Risorgimento italiano, a literatura e a vida nacional. Togliatti, que fugira para a União Soviética onde houve até uma cidade o homenageando – Togliattigrad, onde mais tarde foi instalada a fábrica soviética da FIAT – compreendeu a importância fundamental dos escritos, traduziu-os para o russo e encaminhou para o Comitê Central e o Politbüro do PCUS onde foram exaustivamente analisados por ordem de Nikita Khrushchëv. A partir de 1964 o estudo foi coordenado pelo ideólogo Mikhail Andreyevich Suslov.

A principal lição foi a de que a revolução comunista nada tinha de proletária, era um movimento de intelectuais, latu sensu, em busca do poder. Portanto, não havia mais sentido em revoluções violentas, pois a classe intelectual não tem densidade para isto. Haja vista o total fracasso, p. ex., da guerrilha do Araguaia, que não conseguiu mobilizar nenhum proletário ou camponês, ficando nas mãos de meia dúzia de (pseudo-)intelectuais, da mesma maneira que a tentativa de 35 aqui no Brasil (Intentona Comunista). Nos idos de 60 o povo se levantou foi contra a revolução, apoiando em massa a contra-revolução (e instando os militares a saírem da caserna para comandar a reação anticomunista).

As experiências russa, vietnamita, chinesa e cubana tiveram características próprias. Na Rússia foi fácil levantar um Exército faminto no qual os soldados eram espancados e tratados como animais pela oficialidade aristocrática arrogante de um Império corrupto e prepotente. Mesmo assim o golpe de estado bolchevista contra República Russa implantada em fevereiro, golpe eufemisticamente chamado de “revolução”, só foi possível com a ajuda imprescindível do Império Alemão, (uma traição tão a gosto das esquerdas mundiais). Mesmo assim enfrentaram uma guerra civil demorada e cruenta. No Vietnã e na China houve o enfretamento de potências estrangeiras odiadas (França e Japão) e na última uma força nacionalista corrupta – o Kuomintang. Em Cuba imperavam sucessivos governos comandados pela Máfia de Nova Iorque e Las Vegas.

Além de reformular a teoria de Maquiavel, mostrando que modernamente o Príncipe é o Partido, Gramsci demonstrou que de nada adianta a tentativa violenta da tomada do poder. É preciso primeiramente invadir todos os espaços do aparelho do Estado e da sociedade – universidade (principalmente as disciplinas de filosofia, ética, sociologia, psicologia), escolas secundárias, mídia, empresas estatais, sociedades de psicologia, psiquiatria e psicanálise, forças armadas e, principalmente a maior inimiga da revolução, a Igreja Católica - e tomá-los por dentro até que o Partido-Príncipe esteja suficientemente forte para tornar-se hegemônico. O objetivo principal desta fase é a modificação do senso comum. Conseguindo atingir a hegemonia e o senso comum modificado é fácil tomar o poder silenciosamente de forma tal que ninguém perceba que está se entregando sem resistência à revolução comunista.


4 - Em sua opinião, quais são os fatores que explicam ter sido o PT o partido designado a fazer o “chamamento das esquerdas” em torno do Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda, germe do Foro, nos anos 90?

Heitor De Paola: O PT não foi “designado”, foi o fundador do Foro de São Paulo, arquitetado pelo Marco Aurélio Garcia. Toda a ideia do Foro é genuinamente made in Brazil. Fidel apreciou a dádiva e incentivou Lula.

5 - Comentando o fim do paradigma da luta armada logo após a queda do Muro de Berlim, Roberto Regalado, do PCC, membro fundador do Foro, disse: “O exemplo da esquerda que surgia após a etapa de luta armada foi o PT”. Poderia comentar essa fala?

Heitor De Paola: Exatamente pelas respostas 3 e 4: o PT já foi fundado por um grupo de intelectuais como o “partido-príncipe”, seguindo estritamente as normas gramscistas. A razão do PT ter tantas dissidências internas é porque muitos se juntaram a ele sem saber da verdade, acreditando que era um partido revolucionário à antiga, assim como o PCdoB, PSTU, etc. Alguns intelectuais não estavam também informados do conceito de ética revolucionária de Gramsci e se decepcionaram com as ações petistas que para os desavisados parece ser pura corrupção. Quem usou o termo “partido ético” conhecendo Gramsci sabia que nada tinha a ver com a ética “burguesa” tradicional que inclui honra, honestidade, lealdade. Os que acreditaram que era esta mesma ética não entenderam que o PT é tão ético hoje como prometia. FHC que conhece bem e aceita a ética revolucionária, embora finja não a praticar, recusou forçar o impeachment de Lula quando foi denunciado o mensalão porque entendeu perfeitamente que a ética petista não foi sequer arranhada pelas falcatruas que serviam para provimento de caixa ao partido-príncipe. (É de se notar, mais recentemente, a nefasta influência gramscista-petista ao instrumentalizar todos os poderes da República: a renúncia do presidente do STF até mesmo da Relatoria do “mensalão”, e sua substituição na presidência e na relatoria por notórios defensores dos réus, a neutralização das Forças Armadas pela nomeação de comandantes simpáticos à causa revolucionária e a nomeação de uma petista para presidente do Superior Tribunal Militar defendendo a revisão da Lei da Anistia. Acrescente-se a instituição pelo Decreto 8243/2014 dos Conselhos - sovietes - ligados ao Executivo e a tomada totalitária do poder em breve estará completa.

Para quê luta armada se é possível conquistar o poder sem um único tiro? Este é o partido “pós-luta armada” por excelência.


6 - Em 2010 o secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, negou enfaticamente que as FARC tenham algum dia participado das reuniões da instituição. Você acredita nisso? Por quê?

Heitor De Paola: É claro que não concordo porque não passa de uma mentira deslavada de Pomar. Lembrem-se que a mentira é o prato cotidiano dos comunistas. De tanto mentirem as mentiras parecem soar verdadeiras. Não foi Goebbels quem inventou esta expressão, foi Féliks Dzherzhinsky, primeiro chefe da polícia secreta soviética (TCHE-KA). 

 A primeira representação oficial das FARC no exterior foi em Ribeirão Preto, São Paulo, quando o prefeito era Antônio Palocci, que veio a ser o chefe de campanha de Lula depois da morte suspeita de Celso Daniel. Para o Pomar seria pura coincidência?

Para mais informações basta ler o artigo de Edson Camargo no Mídia Sem Máscara de 20 de julho de 2010. Lá é relatada a entrevista do então segundo homem das FARC, Raúl Reyes, na
Folha de São Paulo. Alguns trechos:

Folha de S.Paulo - O sr. conheceu Lula?

Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.

Folha de S.Paulo - Houve uma conversa?

Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.

Folha de S.Paulo - Fora do governo, quais são os contatos das Farc no Brasil?

Reyes - As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil.

Folha de S.Paulo - O sr. pode nomear as mais importantes?

Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas...

Folha de S.Paulo - Quais intelectuais?


 Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros
.

Vale ler o artigo completo e as referências no livro ‘O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial’, de minha autoria.

7 - Como você avalia a saída política para o conflito armado na Colômbia?

Heitor De Paola: "Saída política" é o que desejam as FARC, as organizações pró-terroristas e os governos que as apóiam, majoritariamente pertencentes ao Foro de São Paulo. O fim do conflito só pode se dar com a rendição total, incondicional e absoluta, inclusive com entrega das armas por parte dos assassinos. Além disso, não basta desarticular a ala armada das FARC, mas, sobretudo, as alas política, cultural e diplomática que elas mantêm ao redor do mundo, inclusive dentro das universidades. Ademais, as FARC querem se tornar um partido político legal sem pagar uma só hora de cadeia por seus crimes, não querem indenizar suas vítimas (pelas vidas arruinadas, pelas propriedades e bens roubados), pelo número enorme de pessoas arruinadas pelas drogas que elas produzem e traficam e pelas famílias destruídas e muito menos devolver ao Estado o dinheiro fruto do tráfico. E querem entrar para a vida política para, legalmente, transformar a democracia colombiana em um regime criminoso como os vigentes em Cuba e Venezuela. Não há nada de político nas FARC, uma organização criminosa que só pode ser destruída. (Esta resposta se tornou irrelevante após a reeleição de Santos, o aliado das FARC).

8 - Um dos argumentos usados para justificar a anistia das FARC e sua transformação em partido político sustenta que muitos dos partidos de esquerda que hoje são legais também foram considerados ilegais no passado. Como você encara esse raciocínio?

Heitor De Paola: Esse raciocínio é, antes de tudo, injusto e torpe para quem vem ao longo de cinco décadas cometendo atos de terrorismo considerados como crimes de lesa-humanidade, e narcotráfico. São milhares de vítimas diretas assassinadas em atos terroristas ou individualmente, além de uma cifra incalculável de vítimas indiretas pelo tráfico de drogas ao redor do mundo. Vocês se referem à frente Farabundo Martí de Libertación Nacional (FMLN), fundada nos anos 80 em El Salvador como grupo armado e transformado (com a ajuda do Foro de São Paulo) em partido legal nos anos 90, à guerrilha colombiana M-19, que deu origem ao partido "Polo Democrático Alternativo", aos brasileiros Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), responsável pelo Partido Pátria Livre, e o PCdoB. Nenhum desses bandos terroristas teve vida tão longa, nem deixou um saldo de horror tão devastador quanto as FARC. Portanto, acredito que uma coisa não justifica a outra, nem valida a insanidade da legalização dos outros partidos. Além do mais é muita ingenuidade acreditar que esses partidos tenham realmente se tornado democráticos. Eles apenas aceitam a democracia como meio para acabar com ela assim que tenham maioria.

As FARC não passam de uma quadrilha de bandidos travestida de política. Sua origem é ligada ao Plan Colombia do governo Bill Clinton. Este plano arrasou os tradicionais cartéis de Cali e Medellin e não tocou nas FARC, então um pequeno grupo de bandoleiros lutando para concorrer com os mais poderosos, que recebeu de Clinton o monopólio do narcotráfico e se expandiu enormemente. Não foi um erro de Clinton, foi premeditado: o Departamento de Estado, depois da limpeza promovida por Reagan, voltou a ser entregue à esquerda do Partido Democrata que está se lixando para a juventude americana que se droga com os “produtos” exportados pelas FARC.


9 - Além de um princípio de “não-exclusão” de organizações-membro devido à sua forma de luta, há também uma declaração do Foro a qual considera os levantes populares e movimentos armados como “patrimônio das esquerdas”. Historicamente, qual é (se há) a relação entre grupos armados e ideologia de esquerda?

Heitor De Paola: Temos que dividir em partes esta pergunta.

1- “Formas de luta” é uma expressão de tal hipocrisia e canalhice que beira a psicopatia. Matar pessoas, drogá-las, viciá-las para as escravizarem é forma de luta? (Em sendo) o Fernandinho Beira-Mar é crime hediondo, mas se for as FARC é “forma de luta”?

2- Há uma confusão entre levantes populares e grupos armados. Nem todos os levantes populares são armados e nem todos os grupos armados são populares. Dois exemplos atuais de levantes genuinamente populares são os dos bravos povos ucraniano e venezuelano. Eles enfrentam grupos armados nada populares: os comandos russos – e pró russos - e os bolivarianos, ambos mercenários. Os dois levantes combatem governos que usualmente se chamam de esquerdistas, portanto é falso que os levantes populares são “patrimônio das esquerdas”.

3- Grupos armados e ideologias de esquerda: se abandonarmos os conceitos de esquerda e direita cujo significado vem da Revolução Francesa, mas foram modernamente modificados por Stalin após a invasão alemã da URSS para criar uma falsa oposição entre nazismo e comunismo, e usarmos o termo revolucionário para ambas as tendências, certamente os levantes armados, populares ou não, são patrimônio dos revolucionários.

O exemplo mais claro do enfrentamento de diversos grupos armados revolucionários aconteceu durante a República de Weimar entre as milícias spartacistas (da Spartakusbund, precursora do Partido Comunista Alemão) e comunistas, os Stahlhelm (Capacetes de Aço), Freikorps (grupos de ex-combatentes da I Guerra Mundial) e as SA (Sturmabteilungen) nazista.


(Com a colaboração de Graça Salgueiro sobre a América Latina, e pequenos acréscimos.)


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