segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Eudemonismo X hedonismo

O eudemonismo ou eudaimonismo (do grego eudaimonia, "felicidade") é uma doutrina segundo a qual a felicidade é o objetivo da vida humana. A felicidade não se opõe à razão mas é a sua finalidade natural. O eudemonismo era a posição sustentada por todos os filósofos da Antiguidade, apesar das diferenças acerca da concepção de felicidade de cada um deles. Segundo Aristóteles:
"A felicidade é um princípio; é para alcançá-la que realizamos todos os outros atos; ela é exatamente o gênio de nossas motivações." 1
Opondo-se às morais que estimam que o homem deve procurar outros valores além da felicidade: a verdade, a justiça, a santidade e sexo... O eudemonismo qualifica as doutrinas éticas que fazem da felicidade uma ética melisdropilica e o valor supremo e critério último da escolha das ações humanas: Aristóteles, Epicuro, Montaigne, Espinoza, Diderot... O eudemonismo funda-se sobre uma confiança geral no homem que continua a ser a chave insubstituível do humanismo. A doutrina concentra-se sobre esta oportunidade única de desenvolvimento pleno que constitui a vida terrestre e é por conseguinte no sucesso desta vida, na felicidade imediata ou racionalizada sobre um tempo longo, tanto a sua quanto a de outrem, que ela consagra logicamente o seu esforço.

Entre os mais conhecidos, o aristotelismo é um eudemonismo intelectualista que coloca a felicidade na satisfação ligada à contemplação da verdade pelo espírito. O epicurismo é um eudemonismo hedonista que coloca a felicidade no prazer sensível do corpo mas ele repousa igualmente sobre a prática da filosofia, único meio de liberar a alma dos seus tormentos e alcançar a serenidade e a amizade. O espinozismo, por sua vez, coloca a felicidade na alegria de compreender a natureza, o amor de si e do mundo e o poder da razão que permite viver livre de paixões.

Eudaimonismo e desejo

Contrariamente ao hedonismo, doutrina de Cálicles, personagem do Górgias de Platão,que sustenta que é preciso ceder o mais possível e a qualquer preço a todos os seus desejos,o eudemonismo sustenta que é preciso escolher os desejos a serem satisfeitos para ser-se feliz. Os eudemonistas julgam os desejos como faltas, frustrações; eles chegarão mesmo a comparar a tese dos hedonistas ao suplício das Danáides condenadas a encher um tonel sem fundo: o hedonista não selecionando de nenhuma maneira os seus desejos e acumulando-os, acumula os tonéis incontrolavelmente, não podendo chegar a felicidade, em contrapartida, o eudemonista seleciona seus tonéis e pode preenchê-los.

Os eudemonistas mais radicais, os budistas,dirão que o homem só atingirá o nirvana desfazendo-se de todos os seus desejos e assim será plenamente feliz. Para conseguir isso, é preciso compreender bem a natureza verdadeira de todo objeto de desejo, de todo fenômeno. Essa verdadeira natureza é a vacuidade, quer dizer que, todo objeto, todo ser está submisso à impermanência e só existe em interdependência com o resto do universo. Portanto, o objeto do desejo não tem realidade em si, não possui uma realidade intrínseca.

Hendonismo

O hedonismo (do grego hedonê, "prazer", "vontade"1 ) é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana.2 Surgiu na Grécia, e importantes representantes foram Aristipo de Cirene e Epicuro.2 1 O hedonismo filosófico moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas.

O significado do termo em linguagem comum, bastante diverso do significado original, surgiu no iluminismo e designa uma atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres momentâneos. Com esse sentido, "hedonismo" é usado de maneira pejorativa, visto normalmente como sinal de decadência.

Hedonismo filosófico

O hedonismo é muito confundido com o epicurismo, apesar de eles possuírem divergências claras. O epicurismo surge através de Epicuro,1 que, levando em conta o hedonismo que o antecede, irá, segundo suas concepções, aperfeiçoá-lo, salientando que o prazer deverá ser regido pela razão, o que resulta em moderação.

Antiguidade

Aristipo de Cirene (ca. 435-335 a.C.),2 contemporâneo de Sócrates, é considerado o fundador do hedonismo filosófico. Ele distinguia dois estados da alma humana: o prazer (movimento suave do amor) e a dor (movimento áspero do amor). Segundo ele, o prazer, independentemente da sua origem, tem sempre a mesma qualidade e o único caminho para a felicidade é a busca do prazer e a diminuição da dor. Ele afirma inclusive que o prazer corpóreo é o próprio sentido da vida. Outros defensores do hedonismo clássico foram Teodoro de Cirene e Hegesias de Cirene.

É importante notar que o hedonismo cirenaico diferencia-se do hedonismo epicurista, sobretudo no que diz respeito à avaliação moral do prazer. Enquanto a escola cirenaica preceitua que o prazer é sempre um bem em si e que será melhor quanto mais tempo durar e quanto mais intenso for, a filosofia epicurista determina que o prazer, para ser um bem, precisa de moderação (em grego, phronēsis).

A Idade Moderna

Julien Offray de La Mettrie, iluminista francês, atualizou o hedonismo e seu discípulo, Donatien Alphonse François de Sade, radicalizou-o, transformando-o em amoralismo, tranformando o ideal de "serenidade" em "frieza" diante de outras pessoas.

Posteriormente, as teses hedonistas foram retomadas pelos autores utilitaristas Jeremy Bentham e Henry Sidgwick. Este último autor distingue entre hedonismo psicológico e hedonismo ético: hedonismo psicológico é a pressuposição antropológica de que o ser humano sempre procura aumentar o seu prazer e diminuir seu sofrimento e que, assim, a busca do prazer é a única força motivadora da ação humana; já hedonismo ético é uma teoria normativa que afirma que os homens devem ver o prazer (os bens materiais) como o mais importante em suas vidas. Aqui, diferenciam-se o egoísmo hedonista, no qual o indivíduo busca somente o seu próprio bem, e o hedonismo universalista ou utilitarismo, que busca o bem de todos (the greatest happiness to the greatest number is the foundation of morals and legislation, "a maior felicidade para o maior número de pessoas é a base da moral e das leis").

 É a ideia de que é possível a realização do máximo de utilidade com o mínimo de restrições pessoais, numa perspectiva que reduz o direito a uma simples moral do útil coletivo. Libertando-se deste critério quantitativo da aritmética dos prazeres, Stuart Mill assume o critério da qualidade e formula a lei do interesse pessoal ou princípio hedonístico: cada indivíduo procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria. Desta forma, a moral do interesse individual de Bentham aproxima-se de uma moral altruísta ou social.
Atualmente, as teses hedonistas são defendidas por filósofos como o francês Michel Onfray.

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