O termo narcisismo provém da Mitologia Grega, que narra a história de Narciso, um jovem muito bonito que desprezou o amor da ninfa Eco e por isso foi condenado a apaixonar-se por sua própria imagem espelhada na água. Este amor impossível levou Narciso à morte, afogado em seu reflexo. O narcisismo, portanto, retrata a tendência do indivíduo de alimentar uma paixão por si mesmo. Segundo Freud, isso acontece com todos até um certo ponto, a partir do qual deixa de ser saudável e se torna doentio, conforme os parâmetros psicológicos e psiquiátricos.
Este termo, como tantos outros emigrados do campo psíquico, tornou-se vulgarmente usado para indicar alguém vaidoso ou egoísta. No caso de se referir a uma esfera social, pode significar ‘elitismo’.
O primeiro autor a se valer do mito de Narciso foi Havelock Ellis, em 1898, na tentativa de explicar o comportamento feminino diante do espelho. Em 1899, Paul Näcke inseriu esta palavra na esfera psiquiátrica para introduzir um novo tipo de perversão – o amor pela própria imagem. Sigmund Freud já utilizava esta concepção mesmo antes de citá-la em sua obra Sobre o Narcisismo: uma introdução, na qual realiza um estudo mais profundo sobre a ligação deste mito com a Psicanálise. Este pensador colaborou, com suas pesquisas sobre este assunto, para mutações expressivas na teoria psicanalítica que aborda o todo do processo mental, ou seja, na metapsicologia.
Segundo Freud, os narcisistas incidem sobre si mesmos a escolha do objeto sexual, projetando sobre seus parceiros características que são próprias de sua personalidade, buscando neles pontos que coincidam com sua forma de ser, para que possam amar estas pessoas como foram amados por suas mães. Em outra obra, Caso Schreber, Freud define o narcisismo como um processo inserido entre o auto-erotismo e o amor direcionado para um objeto externo.
Em outros estudos, o pai da Psicanálise mostra o mecanismo narcísico como um encolhimento da libido ao âmbito do ego e demonstra como estes eventos mentais conduzem a outros distúrbios, como a megalomania e a crença no poder supremo do pensamento. Mas é no livro Sobre o Narcisismo: uma introdução que Freud investe diretamente nas pesquisas sobre este tema, inclusive revelando que um equilíbrio entre o foco no ego e a libido direcionada para outro objeto sexual pode contribuir para que o sujeito desvie a sua energia psíquica de si mesmo, embora isto não ocorra completamente.
Aos poucos as especulações teóricas de Freud se transformaram em experiências clínicas, nas quais o psicanalista pôde entender mais profundamente os mecanismos do psiquismo humano, principalmente nos seus estágios iniciais. Estas observações influenciaram definitivamente outros autores, pertencentes às mais diversas escolas psicanalíticas. Nos estudos contemporâneos, aliam-se os mitos de Narciso e de Édipo – o personagem mítico que se apaixonou pela própria mãe –, propiciando um entendimento mais amplo do Narcisismo. Nos primeiros cinqüenta anos dos estudos psicanalíticos, a teoria de Édipo foi fundamental, sendo destronada depois pela de Narciso. Em nossos dias, com o desenvolvimento de escolas como a Psicologia do Self, de Heinz Khout, o narcisismo ganhou ainda mais destaque. Nesta corrente, porém, não é importante distinguir narcisismo primário ou secundário, mas sim normal ou doentio
Complexo de Édipo
A formulação do complexo de Édipo vem da mitologia grega e tem sofrido inúmeros desdobramentos ao longo da construção da teoria psicanalítica.
Quem foi Édipo?
Para construir o conceito de Complexo de Édipo, Freud utilizou-se da mitologia grega, mais especificamente do teatro, escrito por Sófocles chamado “Édipo Rei”.
O mito conta a história de Laio, rei de Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre seu futuro maldito: ele seria assassinado por seu próprio filho que se casaria com sua mulher, ou seja, a mãe deste. Para evitar que isso se concretizasse, Laio decide abandonar a criança num lugar distante, colocando-lhes pregos nos pés, para que morresse. Um pastor encontra a criança e lhe dá o nome de Edipodos (pés-furados). Essa criança, mais tarde é adotada pelo rei de Corinto. Ao consultar o oráculo, Édipo recebe a mesma mensagem que seu pai Laio recebera anos antes, mas, acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo foge de Corinto. Em sua fuga, Édipo se depara com um bando de negociantes e seu líder e acaba por matá-los todos em uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai. Ao chegar a Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge e livra a cidade de suas ameaças, assim recebe o trono de rei e a mão da rainha Jocasta, agora viúva. Os dois se casam e têm quatro filhos.
Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam o oráculo para tentar resolver essa questão e acabam por descobrir que são mãe e filho. Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter reconhecido a própria mãe.
O que é Complexo de Édipo?
Freud se apropria do mito de Édipo para formular sua ideia de que exista na relação da tríade (pai-mãe-criança) um desejo incestuoso da criança pela mãe e a interferência odiada do pai nessa relação.
Assim, o Complexo de Édipo é uma formulação usada para explicar o desenvolvimento sexual infantil. Esse conceito foi trabalhado diversas vezes durante a construção da teoria freudiana e posteriormente por seguidores da psicanálise, tornando-se uma formulação ainda em construção à qual se dedicam inúmeros autores ao redor do mundo.
Uma das características marcantes da evolução do conceito de Complexo de Édipo é a atribuição, cada vez maior, de valor à fantasia. Isso porque a formulação edípica foi justamente a saída de Freud, quando decide abandonar a Teoria do Trauma, que colocava no plano do real a origem da neurose. Para entender melhor, vamos refazer resumidamente esse caminho percorrido por Freud.
Inicialmente, baseado nos relatos clínicos, Freud chegou a acreditar que a neurose adulta era decorrente de um trauma sexual, ocorrido na infância, que retornava anos mais tarde, na puberdade. Essa teorização, todavia, foi sendo desconstruída à medida que Freud passa a considerar que as experiências de seus pacientes se tratavam não de traumas reais, mas de fantasias. A mudança na teoria freudiana a partir disso é significativa: atribui-se grande valor ao conflito psíquico e admite-se a ambivalência de sentimentos das crianças na relação com seus pais.
Segundo Freud, a resolução do Complexo de Édipo é responsável pela inserção da criança na realidade, pela quebra das relações simbióticas, através do reconhecimento das interdições, ou seja, pelo reconhecimento do pai na relação. Esta figura paterna, inicialmente percebida como mero obstáculo à realização dos desejos, é aos poucos introjetada.
O complexo de Édipo é estruturante da personalidade, e a dificuldade em ultrapassar esse momento e identificar-se a figura paterna pode ser a explicação de muitos comportamentos de dependência e imaturidade de indivíduos adultos. A inserção da figura paterna depende, entre outros elementos, da postura da mãe com relação ao pai. Não se pode falar em uma idade exata para que o complexo de Édipo se manifeste ou se dissolva. Freud falava em uma fase entre os três e os seis anos de idade. Para outros psicanalistas como Melanie Klein, a introjeção da figura paterna acontece bem antes, logo nos primeiros anos de vida.
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