sábado, 12 de outubro de 2013

Série filósofos - filósofos iluministas.

Locke (1632-1704)
 
VIDA E OBRA: Como o primeiro dos grandes filósofos empriristas ingleses, Locke quis determinar os limites do conhecimento humano. Uma vez que isso se dá através dos sentidos, sua aquisição deve ser gradual, limitada pela natureza finita de nossa experiência, que deixa algumas coisas fora do nosso alcance.
 
Locke nasceu na Inglaterra. O pai de Locke lutou ao lado dos parlamentaristas na Guerra Civil inglesa. Locke permaneceu fiel à ideia de que o povo, não o monarca, é o soberano supremo. Estudou na Westminster School e em Oxford, onde se formou em medicina e, mais tarde, tornou-se professor. Nessa época, seu contato com a escolástica aristotélica não o atraiu para a filosofia. A partir de 1675, porém, passou alguns anos na França, onde estudos da filosofia de Descartes provocaram nele um duradouro impacto. Em 1681, pouco após seu protetor, o conde de Shaftesbury, ser julgado por traição, partiu para a Holanda, onde trabalhou em seu Ensaio sobre o entendimento humano. Defendeu ativamente a ascensão de Guilherme de Orange e retornou à Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688. Em 1690, Locke publicou o Ensaio e os Dois tratados sobre o governo, as obras que lhe valeram sua reputação.

PRINCIPAIS IDEIAS: Locke foi profundamente influenciado pela teoria "corpuscular" da matéria, de Robert Boyle, uma restauração da ideia dos antigos atomistas de que o Universo é composto por partículas pequenas demais para serem vistas, e em cujos termos o comportamento e a aparência de todas as coisas materiais podem ser explicados. Esses corpúsculos sólidos podem ser descritos em termos geométricos - possuem posição, tamanho e forma e se movem no espaço -, mas nossa percepção de qualidades, como cores, odores e sons, é resultado dos arranjos insensíveis dessas partículas. A visão da realidade de Locke é, portanto, firmemente mecanicista.
 
Locke abraça uma teoria "representativa" da percepção, isto é, a percepção é consequência do impacto de objetos físicos sobre os nossos órgãos dos sentidos, e as sensações produzidas são como uma imagem da realidade. Só temos acesso direto às nossas próprias sensações e devemos inferir delas a natureza do mundo lá fora. Ele afirmava que só pode haver conhecimento das características observáveis dos objetos, não do que realmente são. Assim, ele abre espaço para que o cético questione o nosso conhecimento da realidade.
 
Política: A filosofia política de Locke foi tão influente quanto sua obra em teoria do conhecimento. Seguindo Hobbes, ele usou o estratagema do "estado de natureza" para justificar a autoridade política. Antes da politização, os homens se uniam em bandos para se defender e precisavam encontrar um juiz imparcial para servir de árbitro em conflitos internos. O juiz precisava do apoio da comunidade como um todo. Cada indivíduo tinha que reconhecer a autoridade suprema da lei. Há portanto um contrato implícito entre súditos e soberano: a autoridade deste não é absoluta; ele tem que responder, em última instância, perante a maioria. Se o soberano viola os termos do contrato, os governados têm o direito de se rebelar.
 
O argumento da tabula rasa foi usado pelo filósofo inglês John Locke (1632-1704), considerado como o protagonista do empirismo. Locke detalhou a tese da tabula rasa em seu livro, Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690). Para ele, todas as pessoas nascem sem conhecimento algum (i.e. a mente é, inicialmente, como uma "folha em branco"), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através da experiência. A partir do século XVII, o argumento da tabula rasa foi importante não apenas do ponto de vista da filosofia do conhecimento, ao contestar o inatismo de Descartes, mas também do ponto de vista da filosofia política, ao defender que, não havendo ideias inatas, todos os homens nascem iguais. Forneceu assim a base da crítica ao absolutismo e da contestação do poder como um direito divino ou como atributo inato.3
A teoria da tabula rasa também fundamenta uma outra corrente da filosofia e da psicologia, o behaviorismo clássico. O behaviorismo atual, que é o behaviorismo radical, não se baseia na tabula rasa.
 
Descartes (1596-1650)
 
VIDA E OBRA: A eloquência e a acessibilidade da prosa de Descartes inaugiraram a filosofia moderna. Solapando a filosofia escolástica tradicional do período medieval, ele lançou os fundamentos para uma abordagem sistemática da aquisição do conhecimento, baseada em medida e raciocínio matemático, sobre a qual a ciência se ergue até hoje.
Nascido numa aldeia perto de Tours, na França, Descartes foi educado num colégio jesuíta, onde revelou grande aptidão para matemática. Em 1617 iniciou uma carreira militar e viajou muito pela Europa durante a Guerra dos Trinta Anos, até renunciar a seu posto em 1621. Continuou a viajar até 1629, quando se estabeleceu na Holanda. Ali começou a trabalhar em seu Tratado sobre o mundo - um estudo da natureza e do funcionamento do universo físico.
 
Ao saber que a Inquisição romana condenara Galileu por sua defesa do sistema copernicano, em 1633, suspendeu a publicação do Tratado sobre o mundo. Sua primeira obra publicada O Discurso do método, introduziu suas ideias metafisicas, além de apresentar um relato autobiográfico de seu próprio desenvolvimento intelectual e um esboço de suas ideias sobre a abordagem apropriada à aquisição de conhecimento.
 
Fama crescente: Insatisfeito com a acolhida dada ao Discurso do método, Descartes escreveu, em 1641, as Meditações sobre a primeira fillosofia, numa tentativa de transmitir sua ideias filosóficas para um público muito mais amplo. Em 1644 publicou Princípios de filosofia, em que reafirmou suas ideias filosóficas, ao lado de discussões de física e cosmologia tomadas do anterior e então ainda inédito Tratado sobre o mundo.
Em 1649, com sua fama crescendo rapidamente pela Europa, foi convidado para lecionar filosofia para a rainha Cristina da Suécia. Aluna exigente, a rainha esperava que as aulas começassem às 5h da manhã, três vezes por semana, e durassem cinco horas cada uma. Desabituado de tal regime, bem como ao frio severo d inverno da Suécia, Descartes contraiu pneumonia e morreu após poucos meses no cargo.

PRINCIPAIS IDEIAS: Muito jovem, Descartes compreendeu que a filosofia tradicional que lhe ensinavam continha muito de duvidoso e discutível. Se ao menos fosse possível aplicar o modo matemático à filosofia e à ciência, pensava ele, poderíamos esperar estabelecer um conhecimento indiscutível e duradouro do mundo. Assim descobriu sua ambição: estabelecer os fundamentos e a estrutura de todo o conhecimento humano vindouro, unificando a ciência num único sistema.
 
O método da dúvida: Para descobrir algo "firme e constante nas ciências", seguindo o modelo matemático, Descartes acreditava precisar estabelecer primeiro princípios básicos indubitáveis. Para descobri-los, optou por duvidar de tudo em que acreditava. Se alguma crença pudesse sobreviver a esse batismo de fogo, raciocinou, seria um fundamento digno para seu novo corpo de conhecimento. Duvidou, então, dos seus cinco sentidos, afinal eles podem ser enganosos. Perguntou-se se não poderia estar sonhando e aventou a possibilidade de estar sendo enganado em todas as suas percepções por um espírito maligno. O fruto de seu ceticismo radical foi a primera certeza do seu novo sistema de conhecimento e a sua descoberta mais famosa está condensada na frase: "Penso, logo existo", afinal, disso ele não poderia duvidar nunca.
 
Dualismo: A partir do fato de que tinha acesso direto à sua própria mente consciente, mesmo que pudesse duvidar de qualquer coisa física, Descartes foi levado a supor que sua essência consistia em ser uma coisa pensante. Embora uma substância distinta, esse eu material está para Descartes intimamente unido ao corpo físico. E, enquanto o mundo físico, inclsusive o corpo, é matematicamente descritível e segue leis físicas precisas, o mundo da mente é livre para seguir os próprios pensamentos. A nossa capacidade de usar a linguagem e reagir às circunstâncias de maneiras imprevisíveis evidencia que que as mentes não são determinadas. Essa capacidade não pode ser reduzida a princípios mecânicos; logo, embora o mundo material deva ser reduzido à ciência matemática, a alma humana requer uma ciência própria.
 
Hobbes (1588-1679)
 
VIDA E OBRA: Primeiro materialista moderno, Hobbes corajosamente sustentou, numa época profundamente religiosa, que não existia substância espiritual. É mais conhecido por sua filosofia política, que afirma que é racional indivíduos se submeterem a um soberano forte para assegurar a ordem e a paz.
 
Thomas Hobbes nasceu na Inglatera. Após se formar em Oxford foi preceptor do conde de Devonshire e viajou muito pela Europa, conhecendo os intelectuais da época, como Descartes, Galileu e Gassendi. Mal voltara à Inglaterra, teve que fugir para a França em 1640, antes da deflagração da Guerra Civil inglesa, durante a qual apoiou os realistas. Nesse período, foi preceptor do futuro rei exilado, Carlos II. Iniciou sua trilogia filosófica com O Cidadão (1642). Sua grande obra, Leviatã, foi publicada em 1651, mas atraiu a atenção desfavorável das autoridades francesas, e Hobbes teve que retornar à Inglaterra no momento em que a Commonwealth de Oliver Cromwell chegava ao fim. Hobbes continuou a escrever e gozou de uma vida intelectual ativa até morrer, aos 91 anos.
 
PRINCIPAIS IDEIAS: Como os antigos atomistas, Hobbes sustenta que o mundo consiste exclusivamente de partículas materiais em movimento e que a própria ideia de uma substância não material, chave para os conceitos tradiconais de Deus e da alma humana, é contraditória. Assim, o comportamento de todo o Universo, inclusive a ação humana, é explicável com base em princípios puramente mecânicos. Isso implica que a mente pode ser explicada em termos de movimento no corpo e, em particular, dentro do cérebro. Sensação, imaginação e até pensamento abstrato são redutíveis a processos materiais: toda motivação, nossas aversões e apetites, não passam fundamentalmente do vaivém de partículas em movimento.
 
Dessa visão materialista da natureza humana brota a filosofia política de Hobbes. Tendo desejos semelhantes, os seres humanos estão fadados a entrar em conflito, num mundo de recursos limitados. No Leviatã, ele imagina um "estado de natureza" que é a situação anterior à formação da sociedade, em qu cada pessoa persegue os próprios interesses: um estado em que cada um estáem guerra com os demais. Como todos estariam em melhor situação se cooperassem, deve ser racional para cada um de nós restringir nossa liberdade e cumprir leis, contanto que possamos crer que todos farão o mesmo. Para Hobbes, isso pode ser alncançado por um contrato social que entregue o poder a um soberano capaz de impor a obediência universal às leis.
 
Hume (1711-1776)
 
VIDA E OBRA: Hume nasceu numa família de pequenos proprietários de terra na fronteira da Escócia e estudou direito na Universidade de Edimburgo. Rejeitou as ideias presbiterianas de sua criação e, após se formar, mudou-se para La Flèche, no norte da França, onde Descartes havia estudado. Ali se concentrou em sua escrita, e em 1739 publicou o Tratado da Natureza Humana. Candidatou-se à cátedra de filosofia nas Universidades de Edimburgo e Glascow, sem sucesso - decerto por causa de sua reputação a favor do ceticismo, em particular no tocante à religião. Seus Diálogos, que fizeram alguns dos mais desvastadores ataques à crença religiosa no cânone filosófico, só foram publicados após a sua morte.

PRINCIPAIS IDEIAS: Hume tentou descrever a mente humana da mesma maneira que outros fenômenos naturais, encontrando as leis gerais que explicam todos os processos mentais. Seguindo as pegadas empiristas de Locke e Berkeley, via os sentidos como fonte chave de conhecimento. Ele dividiu os conteúdos da mente em duas categorias: "impressões", as percepções que afetam os nossos sentidos; e "ideias", cópias menos vívidas das impressões. As ideias são os conceitos e pensamentos de coisas que não estamos mais experimentando, mas somos capazes de lembrá-las em nossa mente. O sentido filosófico dessa distinção é insistir que não há nada na mente - nem mesmo o pensamento mais abstrato - que não seja simplesmente sensação transformada. Para Hume todos os nossos raciocínios sobre os fatos estão baseados na relação de causa e efeito e, estes, por sua vez, estão baseados na experiência. Para Hume há um problema na fundamentação da ciência por meio da observação da experiência porque pela experiência eu apenas desenvolvo um hábito com relação aos acontecimentos, por exemplo, o que me garante que o Sol nascerá amanhã, assim como vem nascendo desde sempre? Eu só acredito que ele nascerá porque até hoje eu nunca vi acontecer o contrário. Ora, as leis da natureza são as interpretações que fazemos dela. Cada princípio científico pode ser contrariado pela natureza porque não é fundamentado pela razão. Nós prevemos, como se fosse um hábito psicológico.
  
Volteire - François Marie Arouet, o Voltaire ( 1694 - 1778)

Filósofo iluminista francês nascido em Paris, um dos mais influentes da história e famoso por criticar violentamente a Igreja e a intolerância religiosa, tornando-se o símbolo da liberdade de pensamento. Filho de abastada família burguesa, estudou leis com os jesuítas no Colégio Louis-le-Grand em Paris, e tornou-se escritor. Membro da Société du Temple, de libertinos e livres-pensadores, foi prisioneiro da Bastilha por 11 meses (1717-1718) como responsável por um panfleto satírico, embora alegasse inocência, período onde escreveu a tragédia Oedipe (1718), cujo sucesso o consagrou nos meios intelectuais.
Por desentendimentos com o influente duque de Rohan-Chabot, exilou-se na Inglaterra (1726-1729) e, de volta a França, escreveu o seu mais famoso livro, Lettres philosophiques ou Lettres sur les anglais (1734), um conjunto de "cartas" sobre os ingleses, nas quais fazia espirituosas comparações entre a liberdade inglesa e o atraso da França absolutista, clerical e obsoleta. Com o livro condenado pelas autoridades, refugiou-se no castelo de Cirey, e aí passou dez anos com sua amante, a marquesa du Châtelet. Voltou a Paris (1744), foi eleito para a Academia Francesa (1746) e introduzido por Madame de Pompadour na corte. Recuperado na corte tornou-se historiador real (1750) e esteve a convite na corte de Frederico II, o Grande, da Prússia, na corte de Potsdam (1750-1753), de onde saiu após depois de um atrito com o rei.

Voltando à França fez grandes negócios, inclusive especulações na bolsa, e estabelecido próximo a Genebra (1755), onde posteriormente comprou o castelo e a fazenda de Ferney (1758), onde instalou uma fábrica de tecidos e outra de relógios, e aí ficou até o fim da vida, tornando-se muito rico, inclusive ao morrer, tinha uma renda anual de 350.000 libras. Iniciou seus escritos anti-religiosos (1762) e retornou de Ferney para Paris como uma celebridade (1778), onde suas idéias tornaram-se influentes para a origem da Revolução Francesa. Defendeu a burguesia contra a aristocracia feudal e, embora detestasse a Igreja Católica e quaisquer formas de intolerância, não era ateu. Sua obra literária foi composta essencialmente de peças teatrais como Zaïre (1732) e Alzire (1736), livros de históriaA Histoire de Charles XII (1731I), Le Siècle de Louis XIV (1751) e Essai sur les moeurs et l'esprit des nations (1756), o dicionário Dictionnaire philosophique(1764) e os romances ou contos filosóficos Zadig (1747), Micromégas (1752) e Candide (1759), considerada sua obra-prima.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
 
VIDA E OBRA: Jean-Jacques Rousseau é conhecido como o primeiro filósofo do Romantismo e por seu Contrato social, em que afirma que o ser humano é inatamente bom e tem seu comportamento corrompido pela sociedade. Produziu também peças, poesia, música e uma das mais notáveis autobiografias da literatura européia.
 
Ao fugir de casa aos 16 anos, Rousseau foi para a França, onde ele se tornou protegido de madame de Warens, que o converteu ao catolicismo e se tornou sua amante. Rousseau ganhou a vida como preceptor, músico e escritor, primeiro em Lyon e, após 1742, em Paris. Ali viveu com uma mulher com quem teve cinco filhos ilegítimos, todos entregues a um orfanato. Colaborou com a Enciclopédia de Diderot. Em 1750, seu Discurso sobre as ciências e as artes ganhou o prêmio da Academia de Dijon. No subsequente Discurso sobre a origem da desigualdade, desenvolveu suas ideias sobre a influência corruptora da sociedade. Em 1762 publicou Emilio, em que expõe sua teoria educacional, e esbouçou sua teoria poltica em O contrato social. Foi perseguido por essas obras e teve seus livros queimados em sua Genebra natal. Ele entrou em um período conturbado, e em certa altura hospedou-se com David Hume na Inglaterra, mas suas acusações paranóicas a seu anfitrião o levaram de volta a Paris.
 
PRINCIPAIS IDEIAS: Como Hobbes antes dele, Rousseau iniciou sua filosofia política em O Contrato Social imaginado os seres humanos num "estado de natureza" para descrever as origens da organização social. Diferentemente de Hobbes, apresenta uma concepção romântica da natureza humana. Segundo Rousseau, em seu estado original mítico os seres humanos estão em união com a natureza e exibem compaixão natural uns pelos outros. É a sociedade que representa a origem da orpessão e da desigualdade, à medida que o desenvolvimento da razão corrompe e sufoca nossos sentimentos naturais de piedade.
 
Rousseau imagina um modo de organização diferente para a sociedade, acreditando que, à medida que as pessoas começassem a ver os benefícios da cooperação, poderiam abrir mão de bom grado de seus direitos naturais para se submeter à "vontade geral" da sociedade. A vontade geral não é simplesmente um agregado das vontades de cada indivíduo, mas o desejo do bem comum da sociedade como um todo. A liberdade em tal sociedade, para Rousseau, não era uma questão de se ter permissão para fazer o que bem se entende, pois satisfazer os próprios desejos não é liberdade, e sim, uma escrqavização às paixões. A liberdade genuína envolve viver segundo regras sociais que expressam a vontade geral, da qual cada um é participante ativo.

Rousseau segue a linha dos chamados contratualistas, em especial Locke e Hobbes, mantendo a ideia básica do pacto social como forma de legitimar o poder constituído.

Contudo, devem-se apontar algumas particularidades do pensamento rousseauniano. Apesar de ser considerado um iluminista Rousseau escreveu uma obra chamada “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, onde defendia que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, trata-se da ideia do “bom selvagem”, fundamental para se entender o pensamento de Rousseau.
 
Para Rousseau, nos primórdios na existência humana os homens viviam de forma “natural” e tinham poucas necessidades, que facilmente eram satisfeitas. Esse foi à época de ouro para os seres humanos, em que não havia desigualdade entre os homens, que viviam em paz e com liberdade. Contudo, o estabelecimento da propriedade privada, o desenvolvimento da civilização teria tornado os homens gananciosos mesquinhos, avarentos e invejosos, estabelecendo a desigualdade entre os homens e desfigurando a naturalidade humana e a sua bondade.
 
Assim para Rousseau o “pacto social” defendido por seus predecessores é um falso pacto social na medida em que coloca os indivíduos sobre grilhões, estabelecendo a diferença entre os homens, entre ricos e pobres, fortes e fracos.
 
Mesmo criticando as conquistas da civilização e dizendo que os homens se aperfeiçoam somente para o mal – e por isso mesmo – Rousseau se preocupou com a elaboração de bases para a formatação de um “homem ideal” e de um modelo de sociedade, que servirá de base para nada menos que os princípios da democracia moderna. Trata-se de recuperar a naturalidade há muito perdida pela corrupção do ser humano proporcionada pelas mazelas criadas pela sociedade.

Em sua obre Emílio, marco da pedagogia, Rousseau discorre sobre como o homem deve ser educado, quebrando com a visão elitista da educação e afirmando que ela deveria ser estendida a todos os indivíduos. Criticava a tradicional visão atribuída às crianças de “mini adultos” e da educação pautada pela rigidez do método de aprendizagem baseado na memorização. Rousseau, por sua vez, propunha uma visão diferenciada da infância, recuperando a ideia da “natureza” da criança e defendendo a progressão nos estudos, baseada no aspecto lúdico e na interação.
 
Para esse novo homem, Rousseau irá fundamentar a ideia de um novo “Contrato Social” (título de sua principal obra), originado do consentimento de todos os indivíduos que abdicam totalmente de seus direitos em favor da comunidade.
 
Defende que os homens através de um pacto se organizam numa comunidade política, e que essa comunidade deve ser, portanto, a expressão da vontade geral. Mais do que isso, para Rousseau o indivíduo abdica de sua liberdade, mas na medida em que ele é parte integrante da comunidade (por meio do contrato), ao obedecer à lei, obedece a si mesmo, constituindo uma condição de liberdade, trata-se de “uma lei, erguida acima de si, mas por si mesmo. A pessoa é livre na medida em que dá o livre consentimento à lei. E consente por considera-la válida e necessária”.
 
Outra diferença em relação ao pensamento de Rousseau diz respeito à soberania. Para Rousseau é a comunidade que da forma ao Estado, assim a soberania sempre estará com a comunidade, ou em outras palavras, com o povo; a soberania é inalienável desse corpo coletivo, não podendo ser representado.
 
Nesse âmbito, as leis não validades pelo povo são simplesmente nulas, e o povo jamais se submete ao governo, inexistindo “superiores”, sendo que os mandatários (que apenas executam as leis do poder soberano) podem ser eleitos ou destituídos de acordo com o desejo do povo.

O povo é soberano e é a sua vontade de deve prevalecer (vontade geral que diz respeito aos interesses coletivos e está acima dos interesses particulares): Rousseau defende a concepção da democracia direta, com constante participação do povo em assembleias, assim ao mesmo tempo o povo exerce uma cidadania ativa ao participar do processo decisório (enquanto soberano e cidadão) e passivo (enquanto súdito) na medida em que se submeta às leis.  

Rousseau é considerado um dos mais radicais dos pensadores contratualistas, rompendo com a visão elitista de poder e – não sem razão – serviu como base para legitimar as ações de revolucionários como Robespierre.

Recentemente, a Funai (Fundação Nacional do Índio) mapeou 39 grupos indígenas que vivem isolados na Amazônia e que, em tese, nunca tiveram qualquer contato com o "homem branco".

Neste estado "primitivo", o homem viveria em harmonia com seus semelhantes, livre da violência que aflige as grandes cidades? E, no caso do "homem civilizado", a ciência que o tornou dependente de tecnologias como luz elétrica e aparelhos celulares também contribuiu, de alguma forma, para sua evolução moral?

Para o filósofo
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que viveu numa época em que não existia luz elétrica e, muito menos, aparelhos celulares, as respostas a estas perguntas podem ser respondidas da seguinte forma: "O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros". Com isso, ele quer dizer que o homem possui uma natureza boa que é corrompida pelo processo civilizador. ( Teoria do bom selvagem)

Neste caso, bastaria irmos para a floresta e viver como nossos antepassados para sermos felizes? Não é essa a proposta de Rousseau. Em sua obra "Do Contrato Social" (1757/ 1762) ele reflete sobre como deveriam ser as instituições para que possamos ter uma organização social mais justa, que preserve a liberdade, bem supremo do homem.


Sentimento

Rousseau não construiu um sistema filosófico, como Aristóteles ou Kant, por exemplo, mas apresentou contribuições originais não somente à filosofia, mas também à pedagogia e à teoria política, influenciando movimentos políticos e intelectuais europeus como a Revolução Francesa e o Romantismo alemão.

Sua teoria da bondade natural do homem pode parecer estranha e, mesmo no século 18, foi objeto de escárnio por parte de filósofos como
Voltaire. Contudo, a crítica de Rousseau é direcionada aos poderes exacerbados da razão e da ciência, que ele foi o primeiro pensador a questionar em plena vigência do Iluminismo.

É muito comum agirmos de maneira polida e educada mesmo quando, na verdade, queremos prejudicar, manipular ou levar vantagem sobre os outros. Para Rousseau, certas normas sociais estabelecidas nos grandes centros urbanos afastaram, desta forma, o homem de sua verdadeira natureza. O caminho para este conhecimento primordial, segundo ele, é o sentimento, não a razão e o progresso científico.

Razão põe ordem no mundo, talvez em demasia, segundo o filósofo francês. Era preciso então sentir o mundo. E qual a forma de fazer isso, senão buscando uma comunhão com a natureza, que em suas formas é pura expressão de sentimento e liberdade, que experienciamos ao contemplar um pôr-do-sol ou quando caminhamos descalços na praia?

Ao dizer isso, Rousseau rompeu também com toda uma tradição do determinismo, proveniente de uma linha de começa com
Bacon e Galileu até Newton e Einstein, e que concebia o universo como um relógio preciso.

Seria necessário então, voltando à questão inicial, abrir mão de toda comodidade da vida moderna, como fez a personagem Danielle Rousseau do seriado "Lost" (inspirada no próprio filósofo)?


O contrato social

A metáfora do "bom selvagem" é somente uma forma que Rousseau encontrou para questionar a filosofia iluminista e a política moderna. O problema do "Contrato" é como resguardar a justiça e a liberdade do estado de natureza no meio social.

Para responder às suas necessidades de conservação, o homem precisa desenvolver habilidades e alterar a natureza, produzindo cultura. Sozinho, ele não teria como garantir sua sobrevivência. Busca, então, socializar-se.

Os homens primeiro se reuniram em pequenas comunidades, formadas por grupos familiares, o que Rousseau caracteriza como a "idade de ouro" da humanidade. Em seguida, nas primeiras formas de ordenação social e política, foi preciso exigir a obediência dos mais fracos aos mais fortes (regimes de escravidão), afastando o homem, assim, de sua condição igualitária.

Em Rousseau, portanto, é fundamental substituir a liberdade natural, irrestrita mas subordinada ao poder do mais forte (e sempre haverá alguém mais forte para assumir a liderança), pela liberdade convencional, sustentada pela criação de um pacto social, de forma a equilibrar ordem e justiça.

A principal cláusula deste contrato social afirma que "cada um, dando-se a todos, não se dá a ninguém". Quer dizer, somente garantindo a liberdade de todos é que as liberdades individuais serão também preservadas.

Um fumante, por exemplo, tem o direito de fumar. No entanto, essa liberdade não pode ferir a de um não-fumante, que em um recinto fechado vai inalar a mesma fumaça de cigarro involuntariamente. Como resolver isso? Criam-se regras, ao acordo de todos e que todos devem seguir, restringindo o fumo em locais adequados, de modo a conservar a liberdade tanto de fumantes quanto de não-fumantes.


Vontade geral

Desse modo, para que o pacto funcione, diz Rousseau, os cidadãos devem se submeter à vontade geral, que é soberana. Uma vez firmado o contrato, todos devem obedecer o que ficou deliberado por todos, não somente por uma maioria.

Ou seja, o filósofo não reconhece a representatividade, como vereadores, prefeitos, etc. Para ele, a soberania se exerce pela vontade popular, logo, pela participação direta do povo. Participação que não se resumiria a comparecer às urnas, por exemplo, mas em que cada cidadão tivesse participação efetiva nas decisões que afetem a comunidade.

Esta total submissão a um Estado, que expressa a vontade geral, pode parecer um tipo de totalitarismo, em que o indivíduo se submete integralmente à coletividade, a ponto de abrir mão de seu livre-arbítrio. Mas deve-se atentar que: 1) Rousseau subordina a liberdade individual à coletiva para afirmar a primeira; e 2) uma vez que este Estado não expresse mais a vontade geral, o povo tem o direito de derrubar o governo (apesar de Rousseau preferir as armas da educação do que as da revolução para isso).

Força não estabelece direitos: o poder só é obedecido quanto ele for legítimo e, para Rousseau, ele só é legítimo na medida em que se respeita o contrato.

O grande problema em Rousseau é aplicar suas teorias à prática. Formas de governo, como a democracia, demandam aperfeiçoamentos constantes. E nenhum sistema político e econômico foi perfeito o suficiente para equilibrar igualdade e liberdade. O contrato social, no entanto, continua servindo de inspiração para dilemas que acompanham o homem contemporâneo.


De acordo com Thomas Hobbes, a vida humana seria “desagradável, brutal e curta” sem autoridade política. Na sua ausência, vivemos em um Estado de natureza, onde cada pessoa tem ilimitadas as suas liberdades naturais, incluindo o “direito de todas as coisas” e, portanto, a liberdade de prejudicar todos os que ameaçam a nossa própria autopreservação. Neste sentido, haveria um interminável conflito de todos contra todos. Para evitar isso, homens livres estabelecem a comunidade política, da sociedade civil, através de um contrato social em que cada um ganha os direitos civis em troca de submeter-se ao direito civil ou a autoridade política. O contrato social é, portanto, um meio para um determinado fim — o benefício de todos só é legítimo na medida em que se reúne o interesse geral.

Rousseau, filósofo iluminista, entendia que a sociedade havia pervertido o homem natural que vivia harmoniosamente com a natureza, livre de egoísmo, cobiça possessividade e ciúme. A sua teoria política pode ser considerada como uma síntese do pensamento de Hobbes e Locke. O ferro e o trigo civilizaram o homem e arruinaram a raça humana. Para Rousseau, a maldade existente entre os homens explica-se na própria evolução humana, classificada por ele em três estágios diferentes:
 
1.º Estado – homem natural
2.º Estado – homem selvagem
3.º Estado – homem civilizado
 
O homem natural é um animal que se integra a natureza e a mesma é generosa para com ele, que vive isoladamente por vontade própria, independente do semelhante, mas dependente da natureza, de onde retira tudo o que precisa e é guiado pelo instinto da conservação. O homem selvagem, remetendo-nos às sociedades indígenas, já tem um interesse particular, marcas, vícios, conflitos a partir da consciência moral, de onde nasce a virtude. O homem civilizado tem seus interesses particulares fortalecidos e entram em conflito, pois sua consciência moral é abafada, existindo a oposição de interesses. Assim, o homem tornou-se egocêntrico e individualista, tornou-se um homem natural no pior sentido possível.

Kant (1724-1804)

VIDA E OBRAS: Kant caracterizou suas obras como uma ponte entre as tradições racionalista e empirista do século XVIII, e sua revolução na teoria do conhecimento e metafísica talvez seja o desenvolvimento filosófico mais importante dos tempos modernos. Mas sua influência nas áreas da filosofia da religião, ética e estética foi igualmente profunda.

Kant passou toda a sua vida em sua cidade natal, Königsberg, sem jamais se afastar de casa por um dia. Em 1740 ingressou na Universidade de Königsberg. Após se formar foi preceptor particular antes de se tornar docente na universidade, em 1755, ensinando diversas matérias, como física, antropologia e geografia, além de filosofia. Aos 45 anos foi nomeado professor de lógica e metafísica. Ele foi um dos mais influentes filósofos europeus desde os gregos antigos. Sua reputação foi crescendo aos poucos, chegou ao ponto em que ele passou a se preocupar com a direção assumida pelos que se diziam influenciados por sua filosofia, a saber, os primeiros proponentes do que veio a ser conhecido como Idealismo Alemão. Embora nunca fizesse viagens longas e tivesse uma rotina tão sistemática que as pessoas podiam acertar seus relógios por ele, não era uma figura solene. Na verdade, gozava de uma vida rica social e era conhecido por suas brilhantes palestras. Textos essenciais: Crítica da razão pura; Fundamentos da metafísica dos costumes; Crítica da razão prática; Crítica do juízo.
PRINCIPAIS IDEIAS: O primeiro problema que Kant enfrentou foi descobrir como fazer descobertas positivas sobre o que se situa além da experiência humana. Foi estimulado pela insistência cética de Hume de que o conhecimentos sobre o mundo requer experiência sensorial - que é impossível estender nosso conhecimento apenas usando a razão. Se correta, essa teoria restringe os limites do conhecimento humano. Em particular, torna impossível o conhecimento da existência de substâncias materiais, de causa e efeito e do eu.
 
Para superar essa dificuldade, Kant tentou mostrar que podemos descobrir verdades significativas sobre a realidade "a priori" examinando as condições de possibilidade de nossa experiência. Em vez de fazer a pergunta tradicional - nosso conhecimento reflete precisamente a realidade? - Kant pergunta como a realidade reflete a nossa cognição. Ele admitiu que o que conhecemos é determinado pela natureza do nosso aparelho sensorial e cognitivo. Em outras palavras, embora se inicie com a experiência, o conhecimento requer ordenação pela mente humana. E é possível usando a razão, descrever a estrutura que a experiência deve assumir e assim descobrir verdades universais sobre nosso mundo.
Então, o que é essa estrutura? Kant observou que toda nossa experiência do mundo é espaço-temporal: espaço e tempo são condições a priori da experiência sensorial e são a estrutura necessária que impomos à nossa experiência. Tentou também isolar as categorias de pensamento que nos permitem organizar o material dos sentidos. Essas categorias são condições necessárias para a possibilidade do conhecimento. Como espaço e tempo, estas são características do mundo tal como aparece para as mentes, não como é em si. Desse modo, Kant supera o ceticismo de Hume, mostrando que podemos adquirir conhecimento do mundo tal como aparece para nós. Mas isso significa que não podemos ter conhecimento do mundo além das aparências. E, como podemos apenas aplicar a razão ao Universo tal como aparece (fenômeno) não podemos usá-la para discutir o Universo como um todo ou o que reside além dele. Isso levou Kant a condenar muita especulação metafísica tradicional - a existência de Deus, a causa do Universo e se ele tem limites no espaço e no tempo, a imortalidade da alma -, já que estas questões não podem ser resolvidas por apelo à experiência real.

Ética: Se a ciência trata do mundo aparente que obedece a leis causais, o que dizer do ser humano? Nossas ações são determinadas por leis físicas? Kant acreditava que era evidente pela experiência que somos livres, e assim devemos ser mais do que seres fenômenicos. Nosso eu numênico é que deve ser a fonte do livre-arbítrio, dando lugar à ação moral. Para Kant, só agentes capazes de deliberar racionalmente sobre suas escolhas podem ser ditos livres. Não podemos esperar que nossos deveres sejam prescritos por nenhuma autoridade mais elevada, nem impostos por nossas emoções: devemos descobri-los por nós mesmos, mediante o uso autônomo da razão.
 
Um dever moral é uma exigência incondicional ou "categórica" ao nosso comportamento. Não requer que façamos algo pelo que podemos ganhar; diz que devemos fazê-lo só porque é nossa obrigação. Kant compara esses imperativos categóricos, que são genuinamente morais, com os imperativos hipotéticos que não o são. Estes exigem que façamos algo para alcançar alguma outra meta. Para Kant, só um imperativo que tenha realmente alguma aplicação universal (que seja em todas as circunstâncias equivalentes) pode ser moral. Nossa obrigação deve ser sempre agir como desejaríamos que todos os outros agissem. Para Kant, isto equivale a dizer que devemos sempre tratar os outros como fins em si mesmos, e nunca como meios para nossos fins, isto é, devemos respeitar os objetivos dos outros, em vez de usá-los como meios para alcançar os nossos próprios fins.
 
Montesquieu (1689-1755)
 
VIDA E OBRA: harles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu, nasceu na França, foi um dos grandes filósofos políticos do Iluminismo. Curioso insaciável, tinha um humor mordaz. Ele escreveu um relatório sobre as várias formas de poder, em que explicou como os governos podem ser preservados da corrupção.Nobre, de família rica, Charles-Louis formou-se em direito na Universidade de Bordeaux, em 1708, e foi para Paris prosseguir em seus estudos. Com a morte do pai, cinco anos depois, voltou à cidade natal, La Brède, para tomar conta das propriedades que herdou.Casou-se com Jeanne Lartigue, uma protestante. O casal teve duas filhas. Em 1716 ele herdou de um tio o título de Barão de La Brède e de Montesquieu, além do cargo de presidente da Câmara de Bordeaux, para atuar em questões judiciais e administrativas da região. Pelos próximos onze anos ele esteve envolvido em julgamentos e aplicações de sentenças, inclusive torturas. Nessa época também participou de estudos acadêmicos, acompanhando os desenvolvimentos científicos e escrevendo teses.
 
Em 1721, Montesquieu publicou as "Cartas Persas", um sucesso instantâneo que lhe trouxe a fama como escritor. Inspirou-se no gosto da época pelas coisas orientais para fazer uma sátira das instituições e dos costumes das sociedades francesa e européia, além de fazer críticas fortes à religião católica e à igreja: foi a primeira vez que isso aconteceu no século 18. O livro tem um estilo divertido, mas também é desanimador: apresenta a virtude e o autoconhecimento como impossíveis de serem atingidos. Montesquieu começou dividir seu tempo entre os salões literários em Paris, os estudos em Bordeaux, o cargo na Câmara e a atividade de escritor. Logo, ele deixaria a função pública para se dedicar aos livros. Foi eleito para a Academia Francesa em 1728. Viajou pela Europa e decidiu morar na Inglaterra, onde ficou por dois anos. Estava muito impressionado com o sistema político inglês e decidido a estudá-lo. Na volta a La Brède, escreveu sua obra-prima, "O Espírito das Leis": foi outro grande sucesso, e também bastante criticada, como haviam sido as "Cartas Persas".

PRINCIPAIS IDEIAS: ontesquieu quis explicar as leis humanas e as instituições sociais: enquanto as leis físicas são regidas por Deus, as regras e instituições são feitas por seres humanos passíveis de falhas. Definiu três tipos de governo existentes: republicanos, monárquicos e despóticos, e organizou um sistema de governo que evitaria o absolutismo, isto é, a autoridade tirânica de um só governante. Para o pensador, o despotismo era um perigo que podia ser prevenido com diferentes organismos exercendo as funções de fazer leis, administrar e julgar. Assim, Montesquieu idealizou o Estado regido por três poderes separados, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Essa é a teoria da separação de poderes e teve enorme impacto na política, influenciando a organização das nações modernas. O pensador levou dois anos escrevendo "Em defesa do Espírito das Leis", para responder ao vários críticos.Apesar desse esforço, a Igreja católica colocou "O Espírito das Leis" no seu índice de livros proibidos, o Index Librorum Prohibitorum. Mas isso não impediu o sucesso da obra, que foi publicada em 1748, em dois volumes, em Genebra, na Suíça, para driblar a censura. Seus livros seguintes continuaram a ser controvertidos, desagradando protestantes (jansenistas), católicos ordodoxos, jesuítas e a Universidade Sorbonne, de Paris. Montesquieu morreu, aos 66 anos, de uma febre. Estava quase cego. Deixou sem concluir um ensaio para a Enciclopédia, de Diderot e D'Alembert.
 
Denis Diderot (1713 - 1784)

Filósofo e hábil escritor e enciclopedista francês nascido em Langres, na região francesa da Champagne, um dos símbolos do Iluminismo e um dos ideólogos da revolução francesa. Filho de um mestre de cutelaria de boa posição, estudou com os jesuítas, iniciou a carreira eclesiástica e chegou a receber a tonsura em 1726. Estudou em Paris (1729-1732) onde se graduou em artes. Ainda estudou leis, literatura, filosofia e matemática, até ser contratado pelo produtor Andre Le Breton para traduzir uma enciclopédia inglesa (1745), a Cyclopaedia, do inglês Ephraim Chambers.
 
Ateu e materialista, a partir deste ponto passou a trabalhar ao lado do matemático e filósofo Jean le Rond d’Alembert, e organizou uma enciclopédia (Encyclopédie, 1751-1772) que pretendia reunir todo o conhecimento científico e filosófico da época, e que fosse o veículo das novas idéias contra as forças, para ele reacionárias, da igreja e do estado, e que destacasse os princípios essenciais das artes e das ciências. Por essa razão os iluministas também são conhecidos como "enciclopedistas". Esta enciclopédia foi planejada juntamente com d’Alembert sob o título Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers (1750).
 
Foram publicados 17 volumes de texto e 11 de pranchas de ilustração (1751-1772) que se tornou um grande êxito literário e onde ele foi redator e, sobretudo,diretor e supervisor dessa grande iniciativa. De inspiração racionalista e materialista, propunha a imediata separação da Igreja do Estado e o combate às superstições e às diversas manifestações do pensamento mágico, entre elas as instituições religiosas. Sua publicação sofreu violenta campanha contrária da Igreja e de grupos políticos afinados com o clero. Sofreu intervenção da censura e condenação papal, mas acabou por exercer grande influência no mundo intelectual e inspirou os líderes da Revolução Francesa.
 
Seus mais importantes colaboradores foram: Montesquieu e François-Marie Arouet Voltaire (literatura), Étienne Condillac e o Marquês de Condorcet(filosofia), Jean-Jacques Rousseau (música), Georges Louis Leclerc, conde de Buffon (ciências naturais), François Quesnay e Anne-Robert-Jacques Turgot, barão de l'Aulne (economia), Holbach (química), Diderot (história da filosofia) e D’Alembert (matemática). Também escreveu novelas, comédias, peças teatrais e brilhantes correspondências para um largo círculo de amigos e colegas. Paralelamente desenvolveu uma prolífica produção, principalmente na área romancista, em grande parte publicados postumamente. Os mais citados são Pensées philosophiques (1746), Lettre sur les aveugles à l'usage de ceux qui voient (1749), que valeram três meses na prisão e, ao sair desta, Prospectus (1750), que D'Alembert converteria no ano seguinte no Discours préliminaire da Enciclopédia, e Jacques le Fataliste et son maitre (1796), La Religieuse (1796), Eléments de physiologie (1774-1780) e Le Neveu de Rameau (1821). A despeito de sua competência e importância histórica viveu seus últimos anos em extrema pobreza e precisou ser ajudado economicamente pela imperatriz Catarina da Rússia, sua admiradora, até morrer em Paris.
 
Adam Smith (1723 - 1790)

(Provavelmente Kirkcaldy, Fife, 5 de junho de 1723  Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um economista e filósofo escocês. Teve como cenário para a sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII.

É o pai da economia moderna, e é considerado o mais importante teórico doliberalismo econômico. Autor de "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", a sua obra mais conhecida, e que continua sendo usada como referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.
Adam Smith ilustrou bem seu pensamento ao afirmar "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse".

Assim acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só à queda do preço das mercadorias, mas também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer os competidores.

Ele analisou a divisão do trabalho como um fator evolucionário poderoso a propulsionar a economia. Uma frase de Adam Smith se tornou famosa: "Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade." Como resultado da atuação dessa "mão invisível", o preço das mercadorias deveria descer e os salários deveriam subir.

As doutrinas de Adam Smith exerceram uma rápida e intensa influência na burguesia(comerciantes, industriais e financistas), pois queriam acabar com os direitos feudais e com o mercantilismo.

Schopenhauer (1788-1860)

VIDA E OBRA: A prosa de Schopenhauer está entre as mais magníficas na língua alemã, mas sua filosofia é conhecida pelo pessimismo, que ele contrapôs ao otimismo de Hegel, seu contemporâneo. A vida é um processo de contínuo sofrimento para o qual a arte pode ser uma trégua temporária.

Na infância, Schopenhauer passou períodos em Hamburgo, Paris e num internato inglês. Em 1806, após a morte do pai, possivelmente por suicídio, mudou-se com a mãe para Weimar. Ela era uma romancista de sucesso e promovia saraus literários na casa da família. O jovem Schopenhauer teve uma educação liberal. Doutourou-se na Universidade de Iena e iniciou uma carreira acadêmica, assumindo um cargo na Universidade de Berlim. Ensinou ali ao mesmo tempo que Hegel, a quem desprezava, rotulando-o como charlatão. Schopenhauer acabou deixando a universidade. Viveu o resto de seus dias de sua herança, uma figura solitária e irascível que alcançou certa fama mais tarde na vida.

Schopenhauer chegou ao seu sistema filosófico relativamente cedo em sua carreira, como exposto em Sobre a raiz quadrupla do princípio da razão suficiente e O Mundo como vontade e como representação. Suas obras posteriores são essencialmente defesas e refinamentos desse sistema. Produziu também dois ensaios importantes, Sobre a liberdade da vontade e Sobre a base da moralidade.
PRINCIPAIS IDEIAS: Schopenhauer segue Kant, tratando o mundo do fenômeno (o mundo em que vivemos) como sujeito à determinação causal. Mas enquanto para Kant o mundo numênico (o mundo como ele é em si mesmo) estava além do nosso conhecimento. Schopenhauer afirmava que podemos ter acesso a ele "a partir de dentro", através da "vontade". Ele identifica a vontade como uma força impessoal que controla todas as coisas, inclusive nós. Enquanto que no mundo em que vivemos, as coisas nos aparecem de forma diversa, há uma pluralidade, a vontade é a força única que está por trás de tudo o que vemos e ela nos rege. O Universo é, portanto, um grande impulso cósmico para a existência manifestada em seres conscientes particulares, isto é, nós somos manifestação da vontade inconsciente que rege todo o Universo.
 
Influenciado pelo pensamento hindu, Schopenhauer chama o reino fenômenico de "o véu de Maia", caracterizado como um ciclo interminável de luta e sofrimento. A vontade produz desejos nunca totalmente saciáveis, e como estamos sujeitos ao seu controle, não temos domínio sobre nossas próprias vidas - daí o famoso pessimismo de Schopenhauer.
Existe uma forma de escapar desse ciclo interminável do desejo e Schopenhauer encontrará nas artes, uma forma de entrar em contato com essa totalidade que permeia tudo, mas, essa forma de transcendência dura o tempo que dura a fruição de uma obra de arte.
 
Porém, existe outra via para escapar do sofrimento e pode ser encontrada na superação da luta produzida pela vontade, que podemos alcançar seguindo um estilo de vida ascético.  

Hegel (1770 - 1831)

Se a razão – como diz Hegel – “é a certeza consciente de ser toda a realidade” e a verdade reside apenas no todo, as partes se tornam racionais à medida que participam do todo de forma consciente. O Estado para Hegel é um todo ético organizado, isto é, o verdadeiro, porque é a unidade da vontade universal e da subjetiva. É, como entende o referido autor, a substância ética por excelência, significando com isso que Estado e a constituição são os representantes da liberdade concreta, efetiva.

O direito estatal externo repousa sobre relações entre Estados autônomos. Contudo, o Estado para Hegel é o que é em-si e para-si e, portanto, tem a efetividade de sua universalidade ou totalidade plena. Esta totalidade refere-se à união do espírito objetivo e o espírito subjetivo em que o indivíduo tem sua realidade e objetividade moral sendo parte do todo ético. Dessa forma, o indivíduo tem uma relação jurídica para com o Estado, isto é, tem um tribunal acima de si que realiza o direito enquanto liberdade. Mas as relações entre estados, diz Hegel, não são da mesma natureza que as dos indivíduos em sua vida privada e o Estado: sendo cada Estado uma totalidade em-si e para-si, sua vontade reside na particularidade para a qual se volta (substância ética, o povo). Daí que, não havendo nada acima do Estado, a relação entre os Estados se dá na forma do contrato e do respeito mútuo. Um Estado precisa ser reconhecido por outro para que tenha sua legitimidade absoluta.

Verifica-se que tal consideração sobre o Estado mostra-o, em sua individualidade, no estado de natureza. Isto nos leva a compreender que se não há acordo entre as vontades particulares dos Estados em meio a uma disputa, esta só pode ser resolvida com a guerra. A guerra, para Hegel, é legítima, pois além de ser considerada transitória (porque contém em si a possibilidade da paz), ela também é válida para a saúde moral dos povos, renovando a vaidade dos bens e coisas temporais.

Assim, fica de certo modo evidenciada a pouca simpatia do filósofo pela criação de um Estado mundial. Para que isto fosse possível, seria necessário que houvesse um acordo unânime entre todos os Estados de tal forma que prevalecesse a vontade universal, o que, segundo Hegel, dificilmente ocorrerá porque as considerações desta organização sempre repousariam sobre uma forma de contingência, isto é, sobre princípios de uma vontade particular.

Entretanto, o problema é: se o Estado é a razão efetivada, as contradições em seu interior não levariam à superação deste, já que a lógica de Hegel sempre prevê uma síntese? Mesmo que a razão não leve ao seu contrário, as contradições no interior do Estado serviriam somente para aperfeiçoar as suas instituições, uma vez que “a história universal é o progresso na consciência da liberdade” e o Estado, conforme Hegel, é o fim (télos) da história? Além disso, ainda conforme a sua lógica, não deveria Hegel ter concebido uma organização mundial, um todo pleno (assim como preferiu um Estado a uma coleção anárquica de indivíduos) do que uma coleção de Estados anárquica?

Portanto, são essas as principais questões com relação ao direito estatal externo hegeliano. O que se evidencia é a possibilidade de que Hegel teve um momento de sua particularidade, que pode ter seu contraste no fato de que, na juventude, idolatrava Napoleão e desprezava a Prússia, mas, em adulto, foi um servidor fiel do Estado prussiano. Se verdadeiramente há um progresso da liberdade na consciência, por que este não se dá a nível cosmopolita, restringindo-se a um espírito objetivo de um povo e, com isso, de vários povos, não sendo, portanto, universal? Hegel vê o Estado em sua multiplicidade de relações exteriores, sem nenhum fundamento que as justifique ou as legitime senão o acordo contratual entre os Estados visando, cada um, o seu bem-próprio. Em caso contrário, dar-se-á a guerra que, como já vimos, é até benéfica e devidamente justificada.

Karl Marx (1818-1883)
 
VIDA E OBRA: As ideias de Marx tiveram um efeito profundo na história mundial: 66 anos após sua morte, cerca de um terço da população do globo vivia sob regimes que se diziam fiéis à sua filosofia. Marx pensava que a realidade era historicamente constituída, contendo conflitos internos que levam a mudanças.
 
Karl Marx nasceu na Alemanha. Embora os ancestrais de Marx fossem rabinos, seus pais se converteram ao luteranismo e ele foi veementemente anti-religioso desde muito jovem. Estudou Direito na universidade, mas voltou-se para a filosofia, mostrando seu interesse precoce pelo materialismo ao fazer sua tese de doutorado sobre os atomistas gregos, Demócrito e Epicuro. Envolveu-se com os Jovens Hegelianos, sendo particularmente influenciado pela versão materialista do hegelianismo de Feuerbach, mas seu ateísmo o excluiu da carreira acadêmica. Em 1843 foi para Paris e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu colaborador por toda a vida. A família de Engels conduzia um próspero negócio em Manchester, e através dele Marx se inteirou das condições na Inglaterra industrial e da teoria econômica britânica. Exilados em 1845, os dois foram para Bruxelas, onde escreveram o Manifesto Comunista (1848). Voltaram à Alemanha para participar da revolução daquele ano, mas Marx teve que buscar refúgio em Londres, onde passou o resto da vida com a família na pobreza, sustentado pelo negócio de Engels. O primeiro volume do notável O Capital foi lançado em 1867; o segundo e o terceiro foram publicados póstumamente.

PRINCIPAIS IDEIAS: Como Hegel, Marx acreditava que o processo histórico estava aberto à investigação racional e que a lei que governava suas transformações era dialética - em outras palavras, as situações históricas contêm conflitos internos que as tornam instáveis, levando à sua extinção e ao surgimento de um novo estado de coisas. Diferentemente de Hegel, contudo, via a lógica que impelia o curso da história como firmemente material, não espiritual. Já que o motor da mudança social eram forças materiais que afetam as ações humanas. Marx passou a focalizar a economia. Segundo ele, são os meios de produção e distribuição, e o conflito dialético entre diferentes classes sócioeconômicas que estes geram, que determinam o curso da história. Eles compelem as mudanças sociais observáveis entre, digamos, sociedades feudais e industriais, e determinam a natrueza de classes sociais distintas e conflitos de classes.
 
Marx analisou o capitalismo em termos de oposição entre os que possuem os meios de produção, os capitalistas, e os operários industriais. O trabalho é a fonte última de valor, e o lucro é o resultado da exploração dos operários: extrai-se mais valor do seu trabalho do que eles recebem em salários. Os operários são alienados dos produtos do seu trabalho porque não têm posse sobre eles, e são dsumanizados e isolados pela produção em massa. Segundo Marx, o capitalismo conduz inevitavelmente a uma maior polarização entre capitalistas e operários, à medida que lucros sempre maiores são extorquidos de uma força de trabalho cada vez maior e mais empobrecida. Isso terminará por levar à revolução. Depois que os operários assumirem o controle dos meios de produção, os lucros serão usados em benefício de todos, pondo fim ao conflito de classes e aos processo de mudança dialética. Marx considerava essa análise uma demonstração científica da inevitabilidade do fim da história e da instituição do comunismo.

Jean-Paul Sartre (1905-1980)
 
VIDA: Sartre estudou filosofia na École Normale Supérieure, onde conheceu sua companheira de toda vida, Simone de Beauvoir. Sua palestra de 1945 O existencialismo é um humanismo fez o nome de Sartre, junto com várias obras para teatro. Simpatias marxistas o levaram ao ativismo político, apoiando, por exemplo, a luta argelina contra do domínio colonial francês. Em 1964 recusou o Nobel de Literatura. Em 1972, já perdendo a visão, produziu seu estudo sobre Flaubert, O idiota da família.
 
PRINCIPAIS IDEIAS: Maior expoente do existencialismo no pós-guerra, Sartre ensinou que a liberdade humana é total, exigindo que assumamos a responsabilidade pelo que fazemos e por quem nos tornamos. Para Sartre, é através de nossas escolhas e ações que nos criamos livremente, mas enfrentar a responsabilidade que isso acarreta tem seu preço psicológico. A "náusea" do título de seu primeiro romance refere-se à ação patológica do herói, Roquentin, à realidade de sua própria liberdade e à sua busca de significado num mundo de coisas que lhe é radicalmente indiferente. Em O ser e o nada, Sartre explorou mais nosso ser-no-mundo, denunciando a má-fé - nossa tendência de nos enganarmos -, com a qual as pessoas tendem a se esquivar da responsabilidade por suas ações.

PRINCIPAIS OBRAS: O ser e o Nada; A Náusea; Crítica da Razão Dialética; O Idiota da Família.

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