domingo, 13 de outubro de 2013

Os pensadores da educação - Parte 2.

Erasmo de Roterdã

Embora fosse clérigo e profundamente cristão, o filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1469-1536) passou para a história por se opor ao domínio da Igreja sobre a educação, a cultura e a ciência. A influência religiosa vigorou praticamente sem contestação durante toda a Idade Média no Ocidente e ainda no tempo de Erasmo era preciso ousadia para ir contra ela. De qualquer modo, ousadia individual fazia parte das atitudes que um número crescente de intelectuais
começava a enaltecer no período de transição para a Idade Moderna, entre eles o filósofo holandês. O pensamento nascente defendia a liberação da criatividade e da vontade do ser humano, em oposição ao pensamento escolástico, segundo o qual todas as questões terrenas deviam subordinar-se à religião.
 
O antropocentrismo - o predomínio do humano sobre o transcendente - era o eixo dessa nova filosofia, que seria posteriormente conhecida sob o nome de humanismo. A palavra deriva da expressão latina studia humanitatis, que se referia ao aprendizado, nas universidades, de poética, retórica, história, ética e filosofia, entre outras disciplinas. Elas eram conhecidas como artes liberais, porque se acreditava


Filho ilegítimo de um padre, acabou por ordenar-se monge. Estudou na Holanda e França antes de viajar para a Inglaterra em 1498, onde estudou grego na Universidade de Oxford. Publica seu primeiro tratado teológico em 1503, o Manual do Cavaleiro Cristão, e logo depois parte para Veneza e Roma, para ser recebido pelo papa Júlio II. Em 1499 retorna à Inglaterra, e faz amizade com intelectuais locais, em especial Thomas More. É nesta época que escreve sua obra-prima, O Elogio da Loucura, que defendia a tolerância e a liberdade de pensamento e denunciava as ações da Igreja..

Embora fosse clérigo e profundamente cristão, Erasmo de Roterdã ficará conhecido pela sua oposição ao domínio exercido pela Igreja sobre a educação, a cultura e a ciência. Era preciso muita ousadia para ir contra as instituições religiosas da época, que tinham um controle rígido sob vários aspectos da vida das pessoas.

O pensamento de Erasmo era caracterizado pela liberação da criatividade e da vontade do ser humano, que ia de encontro ao pensamento escolástico, segundo o qual todas as questões terrenas tinham resposta na doutrina religiosa. Essa liberdade de pensamento será utilizada contra Erasmo, que é acusado de inspirar Martinho Lutero a se rebelar contra a Igreja, num episódio que se desdobraria em outras disputas teológicas até o final de sua vida.

B F Sikinner

Nenhum pensador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano como o norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Sua obra é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e consultórios, até os anos 1950.  O behaviorismo restringe seu estudo ao comportamento (behavior, em inglês), tomado como um conjunto de reações dos organismos aos estímulos externos. Seu princípio é que só é possível teorizar e agir sobre o que é cientificamente observável. Com isso, ficam descartados conceitos e categorias centrais para outras correntes teóricas, como consciência, vontade, inteligência, emoção e memória - os estados mentais ou subjetivos.

Os adeptos do behaviorismo costumam se interessar pelo processo de aprendizado como um agente de mudança do comportamento. "Skinner revela em várias passagens a confiança no planejamento da educação, com base em uma ciência do comportamento humano, como possibilidade de evolução da cultura", diz Maria de Lourdes Bara Zanotto, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


O Behaviorismo  – do termo inglês behaviour ou do americano behavior, significando conduta, comportamento – é um conceito generalizado que engloba as mais paradoxais teorias sobre o comportamento, dentro da Psicologia. Estas linhas de pensamento só têm em comum o interesse por este tema e a certeza de que é possível criar uma ciência que o estude, pois suas concepções são as mais divergentes, inclusive no que diz respeito ao significado da palavra ‘comportamento’. Os ramos principais desta teoria são o Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical.

Esta teoria teve início em 1913, com um manifesto criado por John B. Watson – “A Psicologia como um comportamentista a vê“. Nele o autor defende que a psicologia não deveria estudar processos internos da mente, mas sim o comportamento, pois este é visível e, portanto, passível de observação por uma ciência positivista. Nesta época vigorava o modelo behaviorista de S-R, ou seja, de resposta a um estímulo, motor gerador do comportamento humano. Watson é conhecido como o pai do Behaviorismo Metodológico ou Clássico, que crê ser possível prever e controlar toda a conduta humana, com base no estudo do meio em que o indivíduo vive e nas teorias do russo Ivan Pavlov sobre o condicionamento – a conhecida experiência com o cachorro, que saliva ao ver comida, mas também ao mínimo sinal, som ou gesto que lembre a chegada de sua refeição.

Assim, qualquer modificação orgânica resultante de um estímulo do meio-ambiente pode provocar as manifestações do comportamento, principalmente mudanças no sistema glandular e também no motor. Mas nem toda conduta individual pode ser detectada seguindo-se esse modelo teórico, daí a geração de outras teses. Eduard C. Tolman propõe o Neobehaviorismo Mediacional ao publicar, em 1932, sua obra Purposive behavior in animal and men. Na sua teoria, o organismo trabalha como mediador entre o estímulo e a resposta, ou seja, ele atravessa etapas que Tolman denomina de variáveis intervenientes – elos conectivos entre estímulos e respostas -, estas sim consideradas ações internas, conhecidas como gestalt-sinais.

Esta linha de pensamento conduz a uma tese sobre o sistema de aprendizagem, apoiada sobre mapas cognitivos – interações estímulo-estímulo – gerados nos mecanismos cerebrais. Assim, para cada grupo de estímulos o indivíduo produz um comportamento diferente e, de certa forma, previsível. Tolman, ao contrário de Watson, vale-se dos processos mentais em suas pesquisas, reestruturando a linha mentalista através da simbologia comportamental. Ele via também no comportamento uma intencionalidade, um objetivo a ser alcançado, com traços de uma intensa persistência na perseguição desta meta. Por estas características presentes em sua teoria, este autor é considerado, portanto, um precursor da Psicologia Cognitiva.

Skinner criou, na década de 40, o Behaviorismo Radical, como uma proposta filosófica sobre o comportamento do homem. Ele foi radicalmente contra causas internas, ou seja, mentais, para explicar a conduta humana e negou também a realidade e a atuação dos elementos cognitivos, opondo-se à concepção de Watson, que só não estendia seus estudos aos fenômenos mentais pelas limitações da metodologia, não por eles serem irreais. Skinner recusa-se igualmente a crer na existência das variáveis mediacionais de Tolman. Em resumo, ele acredita que o indivíduo é um ser único, homogêneo, não um todo constituído de corpo e mente.

O behaviorismo filosófico é uma teoria que se preocupa com o sentido dos pensamentos e das concepções, baseado na idéia de que estado mental e tendências de comportamento são equivalentes, melhor dizendo, as exposições dos modos de ser da mente humana é semelhante às descrições de padrões comportamentais. Esta linha teórica analisa as condições intencionais da mente, seguindo os princípios de Ryle e Wittgenstein. O behaviorismo não ocupa mais um espaço predominante na Psicologia, embora ainda seja um tanto influente nesta esfera. O desenvolvimento das Neurociências, que ajuda a compreender melhor, hoje, o que ocorre na mente humana em seus processos internos, aliado à perda de prestígio dos estímulos como causas para a conduta humana, e somado às críticas de estudiosos renomados como Noam Chomsky, o qual alega que esta teoria não é suficiente para explicar fenômenos da linguagem e da aprendizagem, levam o Behaviorismo a perder espaço entre as teorias psicológicas dominantes.

Pestalozzi

O teórico que incorporou o afeto à sala de aula

Para o educador suíço, os sentimentos tinham o poder de despertar o processo de aprendizagem autônoma na criança

Para a mentalidade contemporânea, amor talvez não seja a primeira palavra que venha à cabeça quando se fala em ciência, método ou teoria. Mas o afeto teve papel central na obra de pensadores que lançaram os fundamentos da pedagogia moderna. Nenhum deles deu mais importância ao amor, em particular ao amor materno, do que o suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827).


Antecipando concepções do movimento da Escola Nova, que só surgiria na virada do século 19 para o 20, Pestalozzi afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas. "Segundo ele, o amor deflagra o processo de auto-educação", diz a escritora Dora Incontri, uma das poucas estudiosas de Pestalozzi no Brasil.

 

A escola idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma extensão do lar como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral - isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade. "Pestalozzi chega ao ponto de afirmar que a religiosidade humana nasce da relação afetiva da criança com a mãe, por meio da sensação de providência", diz Dora Incontri.

Anisio Teixeira

o inventor da escola pública no Brasil

O educador propôs e executou medidas para democratizar o ensino brasileiro e defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado

Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século 20, Anísio Teixeira (1900-1971) foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para todos. Como teórico da educação, Anísio não se preocupava em defender apenas suas idéias. Muitas delas eram inspiradas na filosofia de John Dewey (1852-1952), de quem foi aluno ao fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.

Dewey considerava a educação uma constante reconstrução da experiência. Foi esse pragmatismo, observa a professora Maria Cristina Leal, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que impulsionou Anísio a se projetar para além do papel de gestor das reformas educacionais e atuar também como filósofo da educação. A marca do pensador Anísio era uma atitude de inquietação permanente diante dos fatos, considerando a verdade não como algo definitivo, mas que se busca continuamente.

Para o pragmatismo, o mundo em transformação requer um novo tipo de homem consciente e bem preparado para resolver seus próprios problemas acompanhando a tríplice revolução da vida atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial, pela tecnologia; e social, pela democracia. Essa concepção exige, segundo Anísio, "uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução".


Maria Tontessori

Poucos nomes da história da educação são tão difundidos fora dos círculos de especialistas como Montessori. Ele é associado, com razão, à Educação Infantil, ainda que não sejam muitos os que conhecem profundamente esse método ou sua fundadora, a italiana Maria Montessori (1870-1952). Primeira mulher a se formar em medicina em seu país, foi também pioneira no campo pedagógico ao dar mais ênfase à auto-educação do aluno do que ao papel do professor como fonte de conhecimento. "Ela acreditava que a educação é uma conquista da criança, pois percebeu que já nascemos com a capacidade de ensinar a nós mesmos, se nos forem dadas as condições", diz Talita de Oliveira Almeida, presidente da Associação Brasileira de Educação Montessoriana.  Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino. Montessori defendia uma concepção de educação que se estende além dos limites do acúmulo de informações. O objetivo da escola é a formação integral do jovem, uma "educação para a vida". A filosofia e os métodos elaborados pela médica italiana procuram desenvolver o potencial criativo desde a primeira infância, associando-o à vontade de aprender - conceito que ela considerava inerente a todos os seres humanos.

O método Montessori é fundamentalmente biológico. Sua prática se inspira na natureza e seus fundamentos teóricos são um corpo de informações científicas sobre o desenvolvimento infantil. Segundo seus seguidores, a evolução mental da criança acompanha o crescimento biológico e pode ser identificada em fases definidas, cada uma mais adequada a determinados tipos de conteúdo e aprendizado.

Maria Montessori acreditava que nem a educação nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais importantes seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e nutrir paz e densidade interiores para ter capacidade de amar. A educadora acreditava que esses seriam os fundamentos de quaisquer comunidades pacíficas, constituídas de indivíduos independentes e responsáveis. A meta coletiva é vista até hoje por seus adeptos como a finalidade maior da educação montessoriana.


Paulo freire

Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. "Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.

O MÉTODO PAULO FREIRE

Não é possível se falar da compreensão de educação de Paulo Freire sem nos referirmos e nos determos numa parte intrínseca dela: o seu “Método de Alfabetização”. Esse vai além da simples alfabetização. Propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do mundo. Suas idéias nasceram no contexto do Nordeste brasileiro a partir da década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes eram analfabetos, com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades.

Freire aplicou, pela primeira vez, publicamente, o seu método no “Centro de Cultura Dona Olegarinha”, um C írculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP) para discussão dos problemas cotidianos na comunidade de “Poço da Panela”.
Dos 5 alunos, três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 abandonaram o “curso”.

O método de alfabetização de Paulo Freire é resultado de muitos anos de trabalho e reflexões de Freire no campo da educação, sobretudo na de adultos em regiões proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, de Pernambuco. No processo de aprendizado, o alfabetizando ou a alfabetizanda é estimulado(a) a articular sílabas, formando palavras, extraídas da sua realidade, do seu cotidiano e das suas vivências. Nesse sentido, vai além das normas metodológicas e lingüísticas, na medida em que propõe aos homens e mulheres alfabetizandos que se apropriem da escrita e da palavra para se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo. O método Paulo Freire estimula a alfabetização/educação dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, os participantes da mesma experiência, através de tema/palavras gerador(as) da realidade dos alunos, que é decodificada para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. As experiências acontecem nos Círculos de Cultura.

Para Paulo Freire, cidadão significa "indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado" e cidadania "tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão". É assim que ele entende "a alfabetização como formação da cidadania" e como "formadora da cidadania". (FREIRE, Paulo. Política e Educação, Cortez, 1993.) A práxis freireana trata a educação para além da sala de aula, relaciona-se a todo um contexto de opressão social e ausência de democracia. De maneira ampla e diversificada, suas idéias alcançam as áreas da economia, das ciências sociais, da física, da química, da psicologia, da política, entre outras. Trata, evidentemente, de construir a cidadania para cada um e para todos.

Foi um humanista, seu pensamento inspirou-se no personalismo de Emmanuel Mounier, bem como no existencialismo, na fenomenologia e no marxismo, sem, contudo, tornar-se mais um multiplicador e repetidor dessas doutrinas. Soube assimilar elementos fundamentais para incluí-los na sua concepção pedagógica.

  Os textos de Paulo Freire unem correntes diferentes do humanismo e marxismo, conferindo-lhes pluralidade e fazendo com que um público mais numeroso tenha acesso à sua obra.

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire.

Introdução

Na introdução do livro ,Freire, esclarece o público alvo (docentes formados ou em formação), insistindo que formar um(a) aluno(a) é muito mais que treinar e depositar conhecimentos simplesmente e, ainda que, para formação, necessitamos de ética e coerência que precisam estar vivas e presentes em nossa prática educativa, pois esta faz parte de nossa responsabilidade como agentes pedagógicos. Ele fala da esperança e do otimismo necessários para mudanças e da necessidade de nunca se acomodar, pois "somos seres condicionados, mas não determinados". Paulo Freire apresenta três temas básicos para construir a Pedagogia da Autonomia, que leva à formação para vida, são eles:

 a) não há docência sem discência; b) ensinar não é transferir conhecimento e; c) ensinar é uma especificidade humana. O tema central da obra é “a formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativa progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos”.

1°. Não há docência sem discência- “dosdicência”

Freire aponta que existem diferentes tipos de educadores: críticos, progressistas e conservadores, mas, apesar destas diferenças, todos necessitam de saberes comuns tais como:

• conseguir dosar a relação teoria/prática; • criar possibilidades para o(a) aluno(a) produzir ou construir conhecimentos, ao invés de simplesmente transferir os mesmos; • reconhecer que ao ensinar, se está aprendendo; e não desenvolver um ensino de "depósito bancário", onde apenas se injetam conhecimentos (informações) nos alunos! Saber “despertar no aluno a curiosidade, a busca do conhecimento, a necessidade de aprender de forma crítica”.

Destaca a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa, pois sem ela a teoria pode ir virando apenas discurso; e a prática, ativismo e reprodução alienada. Quando diz que não há docência sem discência, quer dizer que: quem ensina ‘aprende o ensinar’, e quem aprende ‘ensina o aprender’, sendo este posicionamento muito importante para o autor.

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Desse modo, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno, as duas atividades se explicam e se complementam; os participantes são sujeitos e não objetos um do outro.
Aprendendo socialmente h e mulheres descobriram que é possível ensinar.

Procura também mostrar que a teoria deve ser coerente com a prática do professor, que passa a ser um modelo e influenciador de seus educandos: não seria convincente falar para os alunos que o alcoolismo faz mal à saúde e tomar bebidas alcoólicas, deve-se ter “raiva” da bebida, pois a emoção é o que move as atitudes dos cidadãos. Várias vezes, o autor fala da “justa raiva” que tem um papel altamente formador na educação. Uma raiva que protesta contra injustiças, contra a deslealdade, contra a exploração e a violência. Podemos definir esta “justa raiva” como aquele desconforto que sentimos mediante os quadros descritos acima.

1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica.

O educador comprometido com sua proposta de educação deve afirmar a rigorosidade do método com o qual trabalha, tendo clareza em seus objetivos e com um discurso que não pode ser diferente da prática. A educação democrática não pode usar o método transferidor, não pode limitar o ensino à transferência de conteúdos verificada na definição de educação bancária. Uma das principais obrigações é o ensinar a pensar certo o que não quer dizer que o ensinado vai ser o que o professor tem como certo, como sua verdade, mas sim, dialogar sobre essas possíveis verdades. Tanto educador quanto educando devem ser sujeitos na construção do conhecimento. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Educador e educando devem negar a passividade, o “depósito” de conteúdos em um “recipiente vazio”. Educar é substantivamente formar.
Só quem pensa certo, mesmo que as vezes pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo. Uma das condições para isto é não estarmos demasiados certos de nossas certezas.

1.2 Ensinar exige pesquisa.

De acordo com Paulo Freire, não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. O professor tem que ser pesquisador. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. É preciso pesquisar para se conhecer o que ainda não se conhece e comunicar ou anunciar novidades. Há o dever de respeitar os saberes do educando e os das classes populares. É preciso discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade, a violência, a convivência das pessoas, implicações políticas e ideológicas. O conhecimento da realidade é muito importante. Freire afirma que não há distância entre ingenuidade e criticidade; ao ser curioso, há crítica. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. O professor, assim como o aluno, é movido pela curiosidade. Para o autor, o pensar certo, do ponto de vista do professor, implica no respeito ao senso comum existente no educando, durante o processo de sua necessária superação. O respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando contribuirão para que ele possa sair da consciência ingênua e passe a ter uma consciência crítica.

1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos.

É preciso estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos. Respeitar e utilizar esses saberes.

1.4 Ensinar exige criatividade. A curiosidade é inerente ao processo de ensino-aprendizagem. Não há criatividade sem curiosidade.

1.5 Ensinar exige estética e ética. Se, se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é formar.

1.6 Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo. A prática educativa em si deve ser um testemunho rigoroso de decência e de pureza, já que nela há uma característica fundamentalmente humana: o caráter formador. Para isso, o professor deve se utilizar, como diz Freire, da corporeificação das palavras, como exemplo, e ainda destaca a importância de propiciar condições aos educandos, em suas relações uns com os outros ou com o professor, de treinar a experiência de ser uma pessoa social, que pensa, se comunica, tem sonhos, que tem raiva e que ama. Isto despe o educador e permite que se rompa a neutralidade do mesmo. Com esta postura o autor quer dizer que a educação é uma forma de intervenção no mundo, que não é neutra, nem indiferente.
Vc sabe com quem está falando?

1.7 Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação.
Pensar certo é fazer certo, é ter segurança na argumentação é saber discordar do seu oponente sem ser contra ele ou ela, sem qualquer tipo de discriminação. Ao educador, cabe desafiar o educando e produzir sua compreensão do que sendo comunicado.

1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. A prática docente crítica envolve o movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. O “pensar certo” tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática (práxis). É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.

Na prática de não fumar, opto, decido; nesta prática assumo risco e aí se concretiza materialmente!

1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural. Ao nos assumirmos não estamos excluindo os outros, significa assumir-se como ser histórico e social, pensante, transformador e criador. A questão da identidade cultura é fundamental na prática educativa e tem a ver diretamente com assumir-nos enquanto sujeitos. A construção de um saber junto ao educando depende da importância que o educador dá a parte social, à comunidade à qual ele trabalha para conseguir aproximar os contextos a realidade vivida, compondo assim um dialogo aberto com o aluno. Dado o exposto, Freire simplifica: “não há docência sem discência”.



Ir além dele. Esta é a diferença entre o ser condicionado e o ser determinado.
 
2 - Ensinar não é transferir conhecimentos. Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

2.1 Ensinar exige consciência do inacabamento. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre homens e mulheres o inacabamento se tornou consciente. A História de qual fazemos parte é um tempo de possibilidades, não de determinismo.

2.2 Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado. Somos seres condicionados, mas conscientes do inacabamento, e, por isso, sabemos que podemos Dito em poucas palavras por Freire: “o que está condicionado, mas não determinado”. Nossa presença no mundo não é a de quem nele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História. Assim como as barreiras são difíceis para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sabemos também que os obstáculos não são eternos. Assim, homens e mulheres se tornam educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão. Passamos assim, a ser sujeitos e não apenas objeto da nossa história, pois não devemos ver situações como fatalidades e sim estímulo para mudá-las.

2.3 Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um, é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. Saber que devo respeito a autonomia e a identidade do educando, exige de mim uma prática que seja em tudo coerente com este saber.

2.4 Ensinar exige bom senso. Quanto mais praticamos de forma metódica a nossa capacidade de indagar, duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos podemos nos tornar e com isso o nosso bom senso pode ir se tornando mais crítico. O exercício do bom senso vai superando o que há nele de instintivo por meio da avaliação que fazemos dos fatos e dos acontecimentos em que nos envolvemos. O educador precisa do bom senso em seu trabalho.

2.5 Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores.

A luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que faz parte dela. Uma das formas de luta contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação, de um lado, é a nossa recusa em transformar nossa atividade docente em puro bico, e de outro, a nossa rejeição a entendê-la e a exercê-la como prática afetiva de “tias e de tios”.

 2.6 Ensinar exige apreensão da realidade. A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade para nela intervir, recriando-a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto do nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo das plantas. Aprender, para nós, é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito.

Portanto é importante que a realidade seja sempre um dado presente no processo ensino-aprendizagem.

2.7 Ensinar exige alegria e esperança. Há uma estreita relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança faz parte da natureza humana. A esperança de que (juntos) professor e alunos podem aprender, ensinar, produzir, e, juntos igualmente resistir aos obstáculos é a nossa alegria. O ensinar busca a conscientização das pessoas, pois o ser humano que tenha esperança é capaz de mudar realidades. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica, sem ela não haveria História, mas puro determinismo.

2.8 Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Aqui, Freire, fala da necessidade de não aceitar o determinismo como um modo de explicação das desigualdades no mundo, mas como sujeitos interventores. Não visa a adaptação e sim a intervenção (mudança) na realidade. Como educadores devemos conhecer nossos alunos, não podemos desconsiderar os saberes dos grupos populares e a realidade histórico-político- social vivida por eles, pois todos estão inseridos num ciclo de aprendizagem. A essa atitude, corresponde a expulsão do opressor de dentro do oprimido. Mudar é difícil mas é possível, e a partir disto vamos programar nossa ação político-pedagógica. EX: o que nos traz o conhecimento sobre a realidade dos terremotos.

2.9 Ensinar exige curiosidade.

O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjeturar, de comparar. O fundamental é que professores e alunos saibam que a postura deles (professor e alunos), é dialógica, ou seja, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente1 curiosos. Mas, não podemos esquecer, que a curiosidade, assim como a liberdade deve estar sujeita a limites eticamente assumidos por todos. Minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro e expô-la aos demais.

3. Ensinar é uma especificidade humana Neste capítulo, Freire mostra a necessidade de segurança, do conhecimento e da generosidade do educador para que tenha autoridade, competência e liberdade na condução de suas aulas. Homens e mulheres são seres programados, mas, programados para aprender.

3.1 Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. A segurança da autoridade docente implica numa outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar a altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe; a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor.

Epistemologia:conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, ou sociais, sejam lógicos, matemáticos, ou lingüísticos), sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos, e avaliar os seus resultados e aplicações. Dic. Aurélio.

O caráter formador do espaço pedagógico é autenticado pelo clima de respeito existente. Este clima nasce de relações sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente. O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do professor. É impossível separar o ensino dos conteúdos da formação ética dos educandos, a teoria da prática, a autoridade da liberdade, a ignorância do saber, o respeito ao professor do respeito aos alunos, o ensinar do aprender. Como professor, não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha. Defende a necessidade de se exercer a autoridade com a segurança fundada na competência profissional, junto à generosidade.

3.2 Ensinar exige comprometimento Freire ressalta aqui a importância de aproximar o discurso do desempenho, o discurso teórico à prática pois afinal o professor é o exemplo para os alunos. O docente pode desconhecer algumas coisas mas tem que saber muito sobre seu trabalho, deve estar sempre preparado. Ensinar exige comprometimento, sendo necessário que se aproxime cada vez mais os discursos das ações. Sendo professor, é necessário conhecer o que ocorre no espaço escolar e estar ciente de que a sua presença nesse espaço não passa desapercebida pelos alunos.

3.3 Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no Mundo. A educação jamais é neutra, ela pode implicar tanto o esforço da reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Para Freire, a Pedagogia da Autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão, da responsabilidade, ou seja, em experiência respeitosas da liberdade. Para isso, ao ensinar, o professor deve ter liberdade e autoridade, em que a liberdade deve ser vivida em coerência com a autoridade. O professor como ser político, emotivo, pensante não pode ser imparcial em suas atitudes, deve sempre mostrar o que pensa, apontando diferentes caminhos, evitando conclusões, para que o aluno procure a qual acredita, com suas explicações, se responsabilizando pelas conseqüências e construindo assim sua autonomia. Para que isso ocorra deve haver um balanço entre autoridade e liberdade. Deste modo, destaca-se que somente quem sabe escutar é que aprende a falar com os alunos. Finaliza dizendo que a atividade docente é uma atividade alegre por natureza, mas com uma formação científica séria e com a clareza política dos educadores.

Foi somente a percepção de que homens e mulheres são seres “programados, mas para aprender” e conseqüentemente para ensinar, conhecer e intervir, que faz o autor entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos, não somente transmitindo conteúdos, mas redescobrindo, construindo e ressignificando, ou seja, dando um novo significado a estes conhecimentos, além de transcenderem e participarem de suas realidades históricas, pessoais, sociais e existenciais. Mesmo com todas as dificuldades para se educar, isto é, condições de trabalho,salários baixos, descasos, formas de avaliação, ainda há muitos professores exercendo sua função de maneira eficaz. Com certeza, isso se deve ao que o autor chama de vocação, que significa ter afetividade, gostar do que faz, ter competência para uma determinada função, com isso muita coisa pode ser mudada através da prática educativa.

 

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