domingo, 24 de janeiro de 2016

Porque o comunismo ainda não dominou o mundo?

 A mente comunista não funciona segundo os cânones da psicologia usual, mas segue uma lógica própria onde se misturam, em doses indistinguíveis, a habilidade dialética, o auto-engano histérico e a mendacidade psicopática.

Meu artigo anterior (publicado no Diário do Comércio)suscitou uma pergunta interessante na área de comentários: Se há tanta gente nas altas esferas colaborando com o comunismo, como é que ele ainda não dominou o mundo?

A primeira e mais óbvia resposta é que “o comunismo” como regime, como sistema de propriedade, é uma coisa, e o “movimento comunista” enquanto rede de organizações é outra. O primeiro é totalmente inviável, mas por isso mesmo o segundo pode crescer indefinidamente sem jamais ser obrigado a realizá-lo, limitando-se, em vez disso, a colher os lucros do que vai roubando, usurpando, prostituindo e destruindo pelo caminho.

São duas faixas de realidade completamente distintas, que se mesclam numa confusão desnorteante sob a denominação de “comunismo”.

Uma analogia tornará as coisas mais claras. Nenhum ser humano pode levar uma vida razoável com base numa loucura, mas, por isso mesmo, nada o impede de ficar cada vez mais louco: ele se estrepa, mas a loucura progride.  A força da loucura consiste precisamente em furtar-se ao teste de realidade. Os comunistas não podem realizar a economia comunista. Se têm uma imensa facilidade em arrebanhar pessoas para que lutem por esse fim irrealizável, é precisamente porque ele é irrealizável, o que é o mesmo que dizer: inacessível a  toda avaliação objetiva de resultados. Jamais existirá uma economia comunista da qual seus criadores digam: “Eis aqui o comunismo  realizado. Podem julgar-nos e dizer se cumprimos ou não as nossas promessas.” É da natureza mais íntima do ideal comunista ser uma promessa indefinidamente auto-adiável, imune, por isso, a todo julgamento humano. Seu prestígio quase religioso vem exatamente disso: o comunismo traz o Juízo Final do céu para a Terra, mas também sem data marcada.

Daí o aparente paradoxo de um movimento que, quanto mais cresce e mais poderoso se torna, mais se afasta dos seus fins proclamados. A esse paradoxo acrescenta-se um segundo: quanto mais se afasta desses fins, mais o movimento está livre para alegar que foi traído e que tem direito a uma nova oportunidade, com meios mais “puros”. Mas o paradoxo dos paradoxos reside numa faixa ainda mais profunda. Se alguém diz que vai fazer o impossível, com certeza não fará nada ou fará outra coisa. Se fizer, poderá ao mesmo tempo dar a essa coisa o nome daquilo que pretendia e alegar que ela ainda não é, ou que não é de maneira alguma, aquilo que pretendia. Daí a ambigüidade permanente do discurso comunista, que pode sempre se alardear um movimento poderoso destinado a uma vitória inevitável, e ao mesmo tempo minimizar ou negar a sua própria existência, jurando que ela não passa de uma “teoria da conspiração”, de uma invencionice de lacaios do capital.

É alucinante, mas é o que acontece todos os dias. Definitivamente, a mente comunista não funciona segundo os cânones da psicologia usual, mas segue uma lógica própria onde se misturam, em doses indistinguíveis, a habilidade dialética, o auto-engano histérico e a mendacidade psicopática.

Por isso mesmo é que o crescimento vertiginoso do movimento comunista acompanha, pari passu, não a decadência do capitalismo, mas a escalada do seu sucesso. O comunismo como regime, como sistema econômico, não existe nem existirá nunca. O comunismo só pode existir como movimento político que vive de parasitar o capitalismo e, por isso mesmo, cresce com ele.

Mas, por mais que sobreviva e se fortaleça, o corpo parasitado não sai ileso da parasitagem: limitado cada vez mais à função de fornecedor de recursos e pretextos para o parasita, ele vai perdendo todos os valores morais, religiosos e culturais que originalmente o inspiraram e reduzindo-se à mecanicidade do puro jogo econômico, cada vez mais fácil de criticar, enquanto o parasita se adorna de todo o prestígio da moral e da cultura.

modus operandi dessa parasitagem é duplo: de um lado, as economias comunistas só sobrevivem graças à ajuda capitalista vinda do exterior. De outro lado, em cada nação, o crescimento da economia capitalista alimenta cada vez mais generosamente a cultura comunista.

Na mesma medida em que a mais absoluta inviabilidade impede a construção da economia comunista, o comunismo militante alcança vitória atrás de vitória no seu empenho de transformar o capitalismo numa geringonça infernal e sem sentido.

Toda a lógica do comunismo, em última análise, deriva da idéia hegeliana do “trabalho do negativo”, ou destruição criativa. Mas “destruição criativa” é apenas uma figura de linguagem, uma metonímia. A destruição de uma coisa só pode dar lugar ao crescimento de outra se esta for movida desde dentro por uma força criativa própria, que nada deve à destruição.  Esperar que a destruição, por si, crie alguma coisa, é como querer que nasça um pinto de um ovo frito.

Publicado no Diário do Comércio.

http://olavodecarvalho.org

A falácia do polilogismo.

“A humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão.” (Mises)

Em 1944, o economista Ludwig von Mises escreveu Omnipotent Government, onde explica o crescimento da idolatria ao Estado que levou ao nazismo na Alemanha, fomentando um ambiente de guerras ininterruptas. Em uma parte do livro, Mises explica uma das coisas que os nazistas pegaram emprestado do marxismo: o polilogismo.

Até a metade do século XIX, ninguém contestava o fato de que a estrutura lógica da mente é comum a todos os seres humanos. “Todas as inter-relações humanas são baseadas na premissa de uma estrutura lógica uniforme”, diz Mises. Podemos nos comunicar justamente porque apelamos a algo comum a todos, a estrutura lógica da razão.

Claro que alguns homens podem pensar de forma mais profunda e refinada que outros, assim como algumas pessoas não conseguem compreender um processo de inferência em longas cadeias de pensamento dedutivo. Mas isso não nega a estrutura lógica uniforme. Mises cita como exemplo alguém que pode contar apenas até três, lembrando que mesmo assim sua contagem, até seu limite, não difere daquela feita por Gauss ou Laplace.

É justamente porque todos consideram este fato inquestionável que os homens entram em discussões, trocam idéias ou escrevem livros. Seria simplesmente impossível uma cooperação intelectual entre os indivíduos sem isso. Os homens tentam provar ou refutar argumentos porque compreendem que as pessoas utilizam a mesma estrutura lógica. Qualquer povo existente reconhece a diferença entre afirmação e negação, pode entender que A não pode ser, ao mesmo tempo, o contrário de A.
No entanto, apesar de esse fato ser bastante evidente, ele foi contestado por Marx e pelos marxistas, entre eles o “filósofo proletário” Dietzgen. Para eles, o pensamento é determinado pela classe social da pessoa, e o pensamento não produz verdades, mas ideologias. Para os marxistas, os pensamentos não passam de um disfarce para os interesses egoístas da classe social a qual esse pensador pertence.
Nesse contexto, seria inútil discutir qualquer coisa com pessoas de outra classe social. O que se segue disso é que as “ideologias não precisam ser refutadas por meio do raciocínio discursivo; elas devem ser desmascaradas através da denúncia da posição da classe, a origem social de seus autores”. Se uma teoria científica é revelada por um burguês, o marxista não precisa atacar seus méritos. Basta ele denunciar a origem burguesa do cientista.

O motivo pelo qual os marxistas buscaram refúgio no polilogismo pode ser encontrado na incapacidade de refutação por métodos lógicos das teorias econômicas “burguesas”. Quando o próprio Mises demonstrou que o socialismo seria impraticável pela impossibilidade de cálculo econômico racional, os marxistas não apontaram qualquer erro em sua análise lógica. Preferiram apelar para o estratagema do polilogismo, fugindo do debate com a desculpa de que sua teoria era uma defesa dos interesses de classe.

O sucesso dessa tática marxista foi incrível, sem precedentes. Foi usado como “prova” contra qualquer crítica racional feita ao marxismo e sua pseudoeconomia. Isso permitiu um crescimento assustador do estatismo moderno.

Conforme Mises lembra, “o polilogismo é tão intrinsecamente sem sentido que ele não pode ser levado consistentemente às suas últimas conseqüências lógicas”. Nenhum marxista foi corajoso o suficiente para tentar fazer isso. Afinal, o princípio do polilogismo levaria à inferência de que os ensinamentos marxistas não são objetivamente verdadeiros, mas apenas afirmações “ideológicas”.
Os marxistas negam essa conclusão lógica de sua própria postura epistemológica. Para eles, sua doutrina é a verdade absoluta. São completamente inconsistentes. O próprio Marx não era da classe dos proletários. Mas para os marxistas, alguns intelectuais conseguem se colocar acima desse paradoxo. Os marxistas, claro. Não é possível refutar isso, pois se alguém discorda, apenas prova que não faz parte dessa elite especial, capaz de superar os interesses de classe e enxergar além.
Os nacionalistas alemães tiveram que enfrentar o mesmo tipo de problema dos marxistas. Eles não eram capazes de demonstrar suas declarações ou refutar as teorias econômicas contrárias. “Logo”, explica Mises, “eles buscaram abrigo sob o telhado do polilogismo, preparado para eles pelos marxistas”. Algumas mudanças foram necessárias para a adaptação, mas a essência é a mesma. Basta trocar classe por nação ou raça, e pronto.

Cada nação ou raça possui uma estrutura lógica própria e, portanto, sua própria economia, matemática ou física. Pela ótica marxista, pensadores como Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estavam errados porque eram burgueses; pela ótica nazista, eles estavam errados porque eram judeus. O coletivismo, seja de classe ou raça, anula o indivíduo e sua lógica universal.

Tanto o polilogismo marxista como o nacional-socialista se limitaram à afirmação de que a estrutura lógica da mente é diferente para as várias classes ou raças. Nenhum deles tentou elaborar melhor isso, tampouco demonstrar como exatamente ocorria tal diferença. Nunca entraram nos detalhes, preferindo, ao contrário, concentrar o foco na conclusão.

No fundo, o polilogismo tem todas as características de um dogma. Se há divergência de opinião dentro da própria classe ou raça, ele adota um mecanismo peculiar para resolver a questão: os oponentes são simplesmente tratados como traidores. Para os marxistas e nazistas, existem apenas dois grupos de adversários: aqueles errados porque não pertencem à mesma classe ou raça, e aqueles oponentes da mesma classe ou raça que são traidores. Com isso, eles ignoram o incômodo fato de que há dissensão entre os membros da sua própria classe ou raça.

Deixo os comentários finais com o próprio Mises: “O polilogismo não é uma filosofia ou uma teoria epistemológica. Ele é uma atitude de fanáticos limitados, que não conseguem imaginar que alguém pode ser mais razoável ou inteligente que eles mesmos. O polilogismo também não é científico. Ele é a substituição da razão e da ciência por superstições. Ele é a mentalidade característica de uma era do caos”.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A subversão.

Yuri Bezmenov, ex-agente da KGB, em um vídeo de 1984 (isto mesmo: EUA, 1984), já advertia a América e o ocidente para o plano de subversão pelo qual nós estávamos passando. É preciso mais de 20 anos para mudar a mente de uma nação inteira, pois é o tempo de 1 ou 2 gerações que aprendem algo e tomam o poder, ocupam posições importantes na sociedade. E os 20, 25, 30 anos se passaram, e aqui estamos nós com o resultado. E não pára por aí.

Quem nasceu antes de 1985 sabe muito bem do que se trata. Quem tem 30 anos ou mais tem a impressão de que nasceu em um mundo e de repente foi despejado em outro, diante de estranhos, com ferramentas estranhas, idioma estranho. Mas agora estamos aqui, neste mundo do modo que está. Talvez o divisor de águas neste ponto tenha sido a queda das Torres Gêmeas do WTC em 2001, pois antes o mundo era uma coisa, agora é outra...

 Mas voltando ao Brasil. Aqui o PT assumiu o governo em 2003, e de lá pra cá muita coisa "boa tem acontecido", como diz a Xuxa. O governo esqueceu seus planos como Fome Zero, e muito mais pessoas passam fome hoje do que "antigamente". Basta dar uma passeada pelas ruas da cidade e conferir. Os mendigos aumentaram, os de antigamente ainda estão lá junto dos novos, o crack tomou conta, virou pandemia, e impossível aceitar o discurso de governo que se preocupa com os pobres.

A criminalidade mudou muito. "Em 1991 meu cunhado foi assaltado. O ladrão levou uma jaqueta, uma carteira e um par de botas de couro. A bota era nova. Por ser morador antigo da região e conhecer os caras da rua, ele descobriu o autor, que foi encontrado um mês depois usando a jaqueta, as botas e a carteira em outro bairro."

Os criminosos assaltavam uma pessoa porque queriam ter uma roupa bonita daquelas, um par de sapatos daqueles. Mas o governo utiliza o estereótipo de antigamente para justificar o crime de hoje que é totalmente diferente. Hoje, ou o crime é organizado ou é cometido por drogados viciados que não querem usar "uma roupa igual a da zelite".

Eles roubam porque são viciados, e matam com muito mais facilidade, principalmente se são menores de idade, se conhecem a pessoa, se a pessoa não tem nada a oferecer e principalmente por causa da impunidade. Isto tudo patrocinado por um governo que fomenta a criminalidade sem se preocupar com o futuro do criminoso e muito menos da vítima.

Retornando à subversão, com certeza ela deu certo. A subversão é baseada em bagunça, em caos. Cristo disse que reino dividido não subsiste. E é exatamente esta ideia do marxismo instalado no Brasil desde a década de 50. O modelo soviético seduziu o ocidente porquê ele dá poderes totais ao governo, aos tiranos, ao estado, que se torna dono do indivíduo, e deste tira toda a liberdade. O comunismo e o fascismo são a mesma coisa quando dizem: "Tudo para o estado, nada contra o estado, nada fora do estado, nada pára o estado..."

O comunismo, que começou na União Soviética se espalhou pelo mundo. O modelo russo do início do séc XX baseado em gulags e escravidão total do povo soviético só deu certo porquê a propaganda era massiva, a subversão, a lavagem cerebral, a repressão era intensa. O medo do Partido Vermelho era a política corrente. Pessoas eram presas sem motivo, assassinadas ou mandadas para os campos de trabalho forçado. E os que ficavam livres recebiam notícia que aqueles presos tinham feito um comentário maldoso sobre o partido ou sobre Stalin. E isto ocorre em Cuba, na Coréia do Norte, na China, na Venezuela, nos países islâmicos, e começou a ocorrer aqui no Brasil.

Não esqueçamos do que tem ocorrido aos jornalistas que criticam o governo. Eles tem sido pressionados e a maioria tem sido extirpada dos seu trabalho por pressão de grupos comunistas (que se vêem como paladinos da liberdade), como o caso da jornalista Rachel Sheherazade, que foi processada pelo PCdoB.

O ensino público do Brasil já deixou de ser doutrinação há muito tempo. Este tempo já passou. Já é ponto pacífico entre professores e crianças que já não são mais levadas a pensar, que o marxismo é a oitava maravilha do mundo. Por um lado a mídia bombardeia nosso cotidiano de violência, por outro lado as crianças aprendem que para uma nação só cresce com o sacrifício de muita gente, como ocorre no marxismo. Então a conclusão é: - Nós vamos nos tornar uma nação melhor porque tem muita gente morrendo. E o governo militar passou por aqui e não fez absolutamente nada para combater o comunismo. Combateu a guerrilha que estava com fuzis nas mãos, e esqueceu da "guerrilha principal", que se infiltrou em universidades, igrejas e escolas, e acabaram por tomar conta de todo o sistema educacional do país.

O que vemos é que violência e morte é algo muito normal, e como  o comunismo matou muita gente, isto não importa tanto, afinal, pessoas morrem. Para os jovens, o comunismo é bom porquê lá tem um jovem revolucionário com uma boina e cara de maconheiro, super simpático, que queria só libertar seu povo dos tiranos capitalistas. Che Guevara, neste caso, é o exemplo máximo da propaganda mentirosa sobre o comunismo. Vendem a imagem do cara legal, que queria a liberdade, quando na verdade era um assassino frio, que fuzilava velhos, mulheres e crianças com o mesmo sangue frio que fumava charutos cubanos.

A subversão ocorre em níveis até mais profundos do que este. Assista aqui o vídeo de Yuri Bezmenov para começar a entender sobre isto.


A palestra de um ex-agente da KGB que servia aos interesses da (extinta?!?) União Soviética ou URSS como “jornalista subversivo” na Índia. Após desertar e sumir no meio de uma comunidade hippie com um disfarce e identidade falsa, ele finalmente chega ao Canadá em meados dos anos de 1970. Lá recebeu cidadania como refugiado e teve uma vida produtiva até morrer em 1993. Sua principal ocupação foi a partir de então denunciar todas as estratégias de subversão usadas pela URSS e demais países comunistas e socialistas que visavam com isso destruir lenta e gradualmente os valores mais importantes de uma nação democrática, como crer em Deus e ter seus valores morais e culturais preservados.

Para isso a KGB (serviço secreto da URSS) explorava seus agentes comunistas altamente treinados e doutrinados, travestidos de jornalistas, professores, estudantes, artistas, atletas ou médicos (Ops! isso me parece familiar...). Mas no meio da missão, ele desistiu de tudo, começou a simpatizar com a diversidade cultural e com a simpatia do povo indiano e desertou. E revelou ao mundo, principalmente aos norte-americanos, em diversas palestras e entrevistas que a subversão em suas diversas linhas de ataque já começava a surtir efeito nos Estados Unidos e em diversos países tidos como democráticos. Ele ainda alertava que para corrigir todo o estrago precisaria um processo de reeducação cultural e política que duraria toda uma geração, ou seja, de 10 a 15 anos.

Para meu espanto, a palestra aqui transcrita e que deixou os norte-americanos perplexos, foi concedida em 1983. Já era uma realidade o estrago social e não havia uma consciência popular dos danos causados pelos agentes da KGB naquela época. Passaram-se 31 anos, foram duas gerações totalmente alienadas e usadas como “idiotas úteis” pela subversão comunista em todo o mundo. Penso que reverter tudo isso atualmente é quase impossível. No Brasil já estamos colhendo no dia a dia os frutos desta subversão que causou grandes estragos na área religiosa, cultural, econômica e política, que nos levará à anarquia total e finalmente ao golpe final. Confiram a palestra dada por Yuri Bezmenov no ano de 1983 e tirem suas próprias conclusões. E que Deus nos ajude!

  "Subversão, vale lembrar, nunca é um ato imediato e radical; ao contrário, é quando entendemos muito bem os mecanismos e lacunas de um contexto a ponto de intervir sobre ele sem que ninguém perceba diretamente."

Para refletir. "O homem que está por vir".

A maioria não lutará por ideias abstratas como o marxismo, a menos que essas ideias sejam sentimentalmente e miticamente enxertadas em uma nação.
Eis o  porquê Dugin está trabalhando duro.

Foi Aristóteles quem nos disse em sua Metafísica que nossos antepassados “antigos e antiguíssimos” retratavam o sol, a lua e os corpos planetários como deuses. Esses antepassados acreditavam que “o divino envolve toda a natureza”. Mitos eram propagados pelos nossos ancestrais, disse Aristóteles, com o fim de “persuadir o povo e para fazê-lo submeter-se às leis e ao bem comum” (1).
Um famoso sedutor de multidões e criador de mitos do século passado chamado Adolf Hitler escreveu um livro intitulado Mein Kampf no qual postulava a teoria (leia-se mito) dos judeus como “os inimigos da raça ariana”. Ele confidenciaria mais tarde a seu criado particular, Heinz Linge, que os judeus não eram na verdade “uma raça”, mas representavam um estado de espírito ou ideia (i.e. um mito opositor).
Quando pensamos em um mito, pensamos em algo antigo pertencente aos povos primitivos. Selvagens e bárbaros acreditam em mitos, dizemos para nós mesmos (enquanto nós acreditamos na ciência!). Os vikings fundaram sua sociedade em cima de mitos, assim como os antigos germânicos, romanos, gregos e celtas. Não obstante, não somos muito diferentes hoje. O comunismo e o nazismo são mitos também. Ambos, por sua vez, desprezam o mito da democracia. Na Segunda Guerra Mundial, os três mitos do mundo moderno — comunismo, nazismo e democracia — lutaram uns contra os outros.
Seria tolice nossa achar que essa guerra acabou de uma vez por todas em 1945. Guerras que são combatidas em nome de ideias (leia-se mitos) são apenas interrompidas por períodos de paz. A continuação delas é assegurada pela mesma lei de causa e efeito que desencadeou o primeiro confronto. Relacionado a isso, o ideólogo russo e metafísico do Kremlin, Aleksandr Dugin, fez uma notável confissão em seu livro A quarta teoria política. Ele reclamou que seu partido nacional-bolchevique “havia degenerado em uma formação barulhenta e insignificante e depois começou a servir a forças ultraliberais antirrussas ‘laranjas’, alimentadas pelo Ocidente”.
Eis que vemos uma notável admissão de que um experimento deu errado, pois os agentes de Moscou (i.e. Dugin e seus associados) tentaram tomar para si os nazistas e usá-los sob a bandeira do nacional-bolchevismo, o que acabou dando errado e voltando contra eles mesmos. Para a infelicidade de Moscou, o nacional-socialismo nunca foi fácil de controlar. O marxismo aberto que impera na mídia e nas universidades parece ter obtido suas maiores vitórias por meio da infiltração, subversão e falsa propaganda. Ele sempre está tentando fazer uma dessas duas coisas: (1) ou fingindo reformar-se a si mesmo enquanto se alia aos liberais ocidentais ou (2) fingindo se nazificar para se unir aos nacional-socialistas. Ambas as estratégias possuem um problema fundamental. Fingimento ou acaba em você se tornando aquilo que você apenas fingia ser ou você é inevitavelmente desmascarado como o fingidor. Eis que chegamos aos limites da enganação e o ponto de partida para a próxima guerra mundial.
Há razões para pensar que a Europa começa a adotar um tipo reformado de nacional-socialismo, que por sua vez não será exclusivamente alemão. Essa nova formação será certamente desencadeada como reação à erupção do islamismo militante no continente europeu e pela derradeira debacle do multiculturalismo esquerdista. A incompatibilidade do Islã com a cultura europeia deverá, com o passar do tempo, servir como estimulante político. O levantar dessa nova cosmovisão não significará, claro, uma inevitável volta a um tipo de hitlerismo ortodoxo.
É sabido que a KGB se infiltrou no movimento nazista internacional após a Segunda Guerra Mundial, especialmente considerando que alguns dos principais oficiais nazistas — como Martin Bormann e Heinrich Muller — eram provavelmente agentes soviéticos (v. o livro de Louis Kilzer, Hitler’s Traitor). No nosso caso atual, um instrumento revivido pode facilmente se transformar numa metástase que pode se transformar no terror dos espiões-chefe de Moscou.  Ainda não sabemos como os alemães passaram os russos para trás durante o crucial período de 1989-90, dado que os russos pouco fizeram para unir a Alemanha e beneficiar os alemães. Se a inteligência alemã e suas estruturas militares eram tão débeis quanto sempre se mostraram, como eles conseguiram tomar a frente? Se os serviços de inteligência alertaram os democratas cristãos acerca da promoção de Angela Merkel ao mais alto cargo do governo alemão e os democratas cristãos ignoraram os alertas do serviço de inteligência, devemos nos perguntar: por que?
O nacionalismo tem vida própria. O marxismo nunca foi capaz de mobilizar aquilo que Hitler chamava de “as grandes massas”, pois é uma ideologia de divisão de classes. Na verdade, classes não guerreiam umas com as outras. São nações que guerreiam umas contra as outras. Essa verdade é auto-evidente na história. Stálin passou a ser nacionalista após a invasão alemã de 1941. Putin está adotando o nacionalismo agora mesmo, pois ele acredita que a guerra está chegando — isso ele aprendeu com Stálin. A maioria não lutará por ideias abstratas como o marxismo, a menos que essas ideias sejam sentimentalmente e miticamente enxertadas em uma nação. Eis porquê Dugin está trabalhando duro. Ele deve incitar o espírito bolchevique na Rússia pari passu ao seu flerte com a direita europeia, ou seja, ele precisa tornar um alinhamento artificial em algo natural. Como se vê, ele está traçando um caminho que foi antecipando por outra pessoa.
Na tarde do dia 30 de abril de 1945, quando Hitler disse a Heinz Linge que iria atirar em si mesmo e que esperava que Linge queimasse seu corpo, o infeliz criado perguntou ao führer: “Pelo quê vamos lutar agora?”. A última resposta citável de Hitler foi: “Pelo homem que está por vir”. A enigmática resposta, que parece ser assaz vaga, era na verdade concisa. Anteriormente, Hitler havia afirmado a razão pela qual lutava até o fim em Berlim. Ele disse que os historiadores não seriam gentis com ele nos anos que se seguiriam após a guerra; Entretanto, ele seria visto de modo diferente no futuro. Ele sugeriu sucintamente que o comunismo e a democracia estavam fadados ao fracasso. (Tal previsão é fácil de fazer, já que todas as instituições humanas são falhas.)
Em cinco séculos, nossos descendentes podem até concluir que Hitler era o mais astuto dos totalitários. Com efeito, ele foi um “arquiteto político”. E não seria acidental dizer que os políticos russos de hoje frequentemente usam a arquitetura como metáfora. Isso por si só já diz algo, pois Hitler estudou para ser um arquiteto e esteve envolvido em vários projetos arquitetônicos. Na verdade, todo o Terceiro Reich foi um projeto arquitetônico.
Pode se dizer que o design de Hitler era defeituoso. Não obstante, ele foi esperto — como se viu acima — e suas previsões frequentemente foram cumpridas. Ele sabia que outros viriam e fariam a mesma coisa que ele. Ele sabia que as potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial iriam implodir e talvez um dia se destruiriam. Esse dia pode estar por vir, embora esperamos que ele não esteja.
Dado o que está acontecendo atualmente, podemos nos perguntar quais “outros” mitos podem surgir em nosso tempo. Talvez algo inteiramente novo possa aparecer amanhã. Entretanto, a história nunca nos dá algo totalmente novo. Nosso legado e nossas tradições são solo rico para inspirações. Se a história se repete, e se as velhas ideias estão fadadas a voltar, o homem que está por vir inevitavelmente aparecerá — seja como a segunda vinda de um George Washington ou a segunda vinda de um Adolf Hitler.
(1) N.T.: Aristóteles - Metafísica (1074b2 a 1074b5.). Tradução: Marcelo Perine. Edições Loyola, 2005.
Tradução: Leonildo Trombela Junior

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pierre Bourdieu.

Frases de Pierre Bourdieu:
“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro poder crítico”

“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias sociais que eles legitimam”

Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França. Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou nele profundas marcas negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. De volta à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-1983) na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de 300 títulos, entre livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche en Sciences Sociales e Liber. Em 1982, propôs a criação de uma “sociologia da sociologia” em sua aula inaugural no Collège de France, levando esse objetivo em frente nos anos seguintes.


Quando morreu de câncer, em 2002, foi tema de longos perfis na imprensa européia. Um ano antes, um documentário sobre ele, Sociologia É um Esporte de Combate, havia sido um sucesso inesperado nos cinemas da França. Entre seus livros mais conhecidos estão A Distinção (1979), que trata dos julgamentos estéticos como distinção de classe, Sobre a Televisão (1996) e Contrafogos (1998), a respeito do discurso do chamado neoliberalismo.

Embora a maioria dos grandes pensadores da educação tenha desenvolvido suas teorias com base numa visão crítica da escola, somente na segunda metade do século 20 surgiram questionamentos bem fundamentados sobre a neutralidade da instituição. Até ali a instrução era vista como um meio de elevação cultural mais ou menos à parte das tensões sociais. O francês Pierre Bourdieu empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um jogo de dominação e reprodução de valores.

Suas pesquisas exerceram forte influência nos ambientes pedagógicos nas décadas de 1970 e 1980. “Desde então, as teorias de reprodução foram criticadas por exagerar a visão pessimista sobre a escola”, diz Cláudio Martins Nogueira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “Vários autores passaram a mostrar que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente na sala de aula.” Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram contestadas.

Na mesma época em que as restrições a sua obra acadêmica se tornaram mais freqüentes, a figura pública do sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas à mídia, aos governos de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser incluído na tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980).
 

Valores incorporados

O livro A Reprodução (1970), escrito em parceria com Jean-Claude Passeron, analisou o funcionamento do sistema escolar francês e concluiu que, em vez de ter uma função transformadora, ele reproduz e reforça as desigualdades sociais. Quando a criança começa sua aprendizagem formal, segundo os autores, é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe, desde a organização pedagógica até o modo como prepara o futuro dos alunos.

Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de conceitos, como habitus e capital cultural. Todos partem de uma tentativa de superação da dicotomia entre subjetivismo e objetivismo. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências, tomada isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada da realidade social”, explica Nogueira. A noção de habitus procura evitar esse risco. Ela se refere à incorporação de uma determinada estrutura social pelos indivíduos, influindo em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que se inclinam a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre de modo consciente.

 
Um exemplo disso: a dominação masculina, segundo o sociólogo, se mantém não só pela preservação de mecanismos sociais mas pela absorção involuntária, por parte das mulheres, de um discurso conciliador. Na formação do habitus, a produção simbólica – resultado das elaborações em áreas como arte, ciência, religião e moral – constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de modo indireto, escamoteando hierarquias e constrangimentos.

Assim, estruturas sociais e agentes individuais se alimentam continuamente numa engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como cada um lida com a linguagem. Tudo que a envolve – correção gramatical, sotaque, habilidade no uso de palavras e construções etc. – está fortemente relacionado à posição social de quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para Bourdieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias, mas isso não costuma ser percebido. “É necessário que os dominados as percebam como legítimas, justas e dignas de serem utilizadas”, afirma Nogueira.
 

Capital cultural

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados. Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social.

Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado – que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.

Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos – que caracteriza o marxismo – e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita.
 

Os sutis artifícios da perpetuação

Para Bourdieu, a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável, de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a ser vista como incontornável.

terça-feira, 24 de junho de 2014

A doutrina de Aleksandr DUGIN.

 


Seus ensinamentos, transformados harmoniosamente na ideologia do movimento Eurásia, não podem ser examinados separados da concepção do mundo de seu mentor espiritual René GUÉNON, em cuja biografia estão contidos alguns dados que nos permitem de maneira mais objetiva avaliar o lado espiritual da doutrina de A. DUGIN.

Além disso, ficam também esclarecidos o papel e a posição da Igreja Ortodoxa, elaborados por A. DUGIN em documentos programáticos e outros escritos relacionados com a organização da OPOD (Movimento Pan-russo Social e Político) Eurásia e com a criação da futura União da Eurásia.

Todos os documentos utilizados para a preparação desta seção foram publicados em órgãos periódicos públicos de informação. As opiniões de A. DUGIN, de seus mentores e de seus seguidores foram tiradas de monografias, almanaques, dos órgãos de informação de massa por ele dirigidos e de outras edições, distribuídas basicamente por empresas comerciais controladas pelo movimento Eurásia e por outras estruturas dependentes do autor.

Sobre o autor da doutrina

Aleksandr Gelevitch DUGIN [1] nasceu em 1962 no distrito de Tcheliabinsk. Seu pai foi um general que trabalhou na administração central do sistema de informações do Estado Maior das Forças Armadas da URSS. O papai general colocou o filho, que não concluíra a Escola de Aviadores de Moscou, no arquivo da KGB. DUGIN conhece cerca de 10 línguas europeias, e domina a língua hebraica. As pretensões de A. DUGIN o tornaram, aos 35 anos, o homem número 2 do Partido Nacional Bolchevique de Eduard LIMONOV. Entusiasmou-se pela maçonaria e pelo fascismo. Foi inimigo do “Império Soviético”. Atualmente, defende opiniões totalmente opostas.


Em 1991 foi publicado seu primeiro livro “Caminho do Absoluto” onde estão expostos os fundamentos de sua orientação religiosa. Em 1992 começa a editar a revista “Elementos”. Em 1993 publica o best-seller “Teoria da Conspiração” que se tornou o equivalente do livro de ação inglês “Caça aos Espiões”. No livro “Teoria da Conspiração” foi desenvolvido o tema das relações secretas entre a CIA e a KGB.

Segundo sua própria confissão, A. DUGIN na juventude intitulava-se “um fascista místico” e hoje em dia modificou esta denominação para “fascista ortodoxo”.

A. DUGIN considera o esotérico francês da primeira metade do século vinte René GUÉNON (15.11. 1886 – 07.01. 1951) como seu mestre, como autoridade reconhecida e incontestável, como emissário autêntico da teoria escatológica, considerando-o a figura chave desse período. Escreve: “René GUÉNON é o emissário do supremo centro para a última época, para o período de Kali Yuga, e os princípios da Tradição por ele formulados (o conjunto dos “conhecimentos não humanos transmitidos de uma geração à outra pela casta dos sacerdotes ou por outras instituições semelhantes) servirão de baluarte de salvação para aqueles que terão que, lutar contra “este Mundo” e seu “Príncipe”, fazer renascer a Tradição na sua dimensão autêntica, não humana e “angélical” e, fechando o ciclo, elaborar os fundamentos sagrados da Idade do Ouro que se aproxima.” [2]
Um dos objetos fundamentais das pesquisas de GUÉNON é uma versão da metafísica, na qual as concepções do hinduísmo exerceram uma grande influência.

Na tentativa de justificar GUÉNON (e, por conseguinte, suas próprias concepções sobre cristianismo), A. DUGIN diz que “a particularidade do tradicionalismo de GUÉNON faz às vezes com que os membros conservadores da Igreja considerem erroneamente o esoterismo e a síntese a que ele se refere como ocultismo e sincretismo.”[3]
E, 1912 GUÉNON se converteu ao Islamismo e adotou o nome árabe de Abd-el-Vakhed-Iakhia – Servidor Único.

Mais adiante [4], todavia, DUGIN indica que “GUÉNON recebeu iniciação maçônica do neo-rosacruz Theodor REUSS, que foi amigo, companheiro de armas e responsável pela iniciação de A. CROWLEY”. [5]

Lembremos que GUÉNON constitui uma autoridade incontestável para A. DUGIN.

O Neopaganismo à luz das concepções metafísicas de R. GUÉNON e de A. DUGIN

As primeiras pesquisas religiosas de A. DUGIN datam do início dos anos 90 do século passado e estão ligadas à fundação do almanaque “Anjo Gentil”, em cujas publicações são examinadas as fontes espirituais dos ensinamentos de um novo messias. Eis o que escreve a equipe de redação nesta edição [6]:


“Nossa tarefa fundamental ... constitui a restauração da tradição integral em toda a sua dimensão total ... O almanaque ‘Anjo Gentil’ combate a favor da restauração do espírito medieval, da forma de pensar medieval , da religiosidade medieval e da concepção de estado medieval.” Entretanto, como veremos a seguir, A DUGIN interpreta estes conceitos “medievais” do ponto de vista do neopaganismo.

Dentro dos limites da Tradição mencionada, DUGIN reconhece a primazia do não ser: “qualquer metafísica tradicional de pleno valor reconhece a prioridade do não ser sobre o ser”. [7] Aqui está uma das posições (respostas) da gnose escatológica de A. DUGIN: “O ser apareceu como prova de que o não ser que o continha antes de sua aparição não é a última instância, e de que, além de seus limites está presente o Outro, que não coincide nem com o ser, nem com o não ser[8]. Do seu ponto de vista o ser “não pode também afirmar sua própria primazia sobre o não ser, pois contradiria a verdade, já que o ser puro não é outra coisa senão a tradução na realidade, sob sua forma lógica, das possibilidade do não ser que o precedeu.”[9]

De maneira generalizada a doutrina espiritual de A. DUGIN está concentrada no almanaque “O Fim do Mundo. Escatologia e Tradição” (Moscou, Ed. Arktogaia, 1998). O próprio A. DUGIN denomina esta publicação de “manual de historia da religião”. Todavia, os aspectos históricos das várias crenças contidas neste trabalho são apresentados sob seu ponto de vista próprio (e totalmente peculiar). Isto contradiz definição do livro como obra histórica e lhe confere um aspecto dogmático. A mistura de concepções cristãs, runologia, conceitos pagãos, várias teorias da cosmogonia é só uma pequena lista das liberdades de um diletante para com os materiais da coletânea.

Ao inserir na coletânea histórica [10] um capítulo do livro “Caminho do Absoluto”, (”Gnose Escatológica”), A. DUGIN constata assim que sua doutrina religiosa já está formada.
Justificando o surgimento de novas religiões e cultos dentro dos limites da Tradição, A. DUGIN escreve literalmente o seguinte: “As normas e as estruturas esotéricas da Tradição se transformam em conformidade com a situação do ambiente cósmico, e, por conseguinte, aparecem novas religiões e tradições, novas redações do culto e novas práticas.”[11]
Esta afirmação tem consequências de longo alcance. Se o ambiente cósmico constitui o não ser que gera o ser, então o surgimento de novas religiões e cultos (possível somente nos limites do ser) é um fato objetivo (do ponto de vista metafísico) e isto significa que cedo ou tarde uma nova religião nos limites do Estado da Eurásia irá aparecer e além disso será absurdo resistir-lhe.

É de se notar que esta afirmação está inserida na seção do “manual” consagrada à analise dos ensinamentos religiosos de A. CROWLEY.

Desta forma, podemos desde já definir a doutrina religiosa de A. DUGIN como uma interpretação da metafísica do hinduísmo combinada a conceitos do marxismo ortodoxo. Sob o aspecto linguístico, esta doutrina reveste a forma de uma terminologia pseudocientífica, extremamente atraente para diletantes que, como o próprio A. DUGIN, não concluíram um curso universitário e que compartilham dos ideais da ideologia comunista.

A Ortodoxia na interpretação de A. DUGIN

DUGIN faz uma análise da Ortodoxia a partir da posição tradicionalista de GUÉNON, avançando a tese: “A Igreja Cristã ... se seguir uma orientação tradicionalista e conservadora, em regra geral, na melhor das hipóteses, constitui o apoio fundamental para a conservação do aspecto esotérico, ritualístico e dogmático... . A Igreja ou limita sua atividade não litúrgica por um moralismo simplificado, ou , o que é pior, tenta ocupar-se da apologética baseada em teorias fundamentalmente profanas, contemporâneas e antitradicionalistas, ou ainda, o que é terrível, tende ao sincretismo, ao ecumenismo e mesmo ao neoespiritualismo mais baixo....”. [12]


Nas obras de A. DUGIN manifesta-se claramente o efeito da lei da dicotomia. Por exemplo, a tentativa de pesquisar as crenças pré-cristãs e pré-ortodoxas da Rússia leva A. DUGIN a conclusões paradoxais. Eis uma delas: “O Cristianismo não substituiu, mas elevou e consolidou a fé antiga pré-cristã.” [13]

Escreve: “Quando temos diante de nós uma tradição realmente importante e autêntica, podemos quase sempre descobrir nela seu transcendentalismo e seu caráter imanente, sendo que esta última característica constitui sua parte interior e esotérica.”[14], ou seja, para A. DUGIN o paganismo é também uma suposta Ortodoxia, todavia melhor e mais original. “O aspecto imanente” é a concepção mística do mundo de A. DUGIN e de seus seguidores. Esta concepção provém em particular do fato de que basta pensar em uma “conspiração” e a ideia de conspiração já se torna realidade e, na medida, que sou “eu” que penso, então isto é uma realidade bem mais importante do ponto de vista metafísico do que a realidade concreta [15]

O “aspecto imanente” não distingue ideias que tem seu fundamento na vida quotidiana e também as ideias nominais (ou ordinariamente fictícias), e dá preferência às fictícias. A incapacidade da tentativa de associar o “aspecto imanente” ao Cristianismo manifesta-se de maneira particularmente visível na tentativa de interpretação do Credo, tentada por A. DUGIN, onde ele geralmente descamba para uma franca heresia[14]. Assim, ele afirma que o Credo de Niceia é uma profissão de fé com “uma pequena concessão a preconceitos cristãos”. Além disso, A. DUGIN geralmente chama o Credo de “Fórmula da Fé [16]. Ao fazer isto, considera que os primeiros três membros (ou, na terminologia de A. DUGIN, pontos) fornecem uma imagem absoluta e acabada da metafísica [17]

Nas suas “obras” [18] A. DUGIN simplesmente blasfema ao afirmar certo aspecto real (existencial ou ontológico) da Trindade. Ele nega a revelação de que Deus é o criador do mundo e que este sempre transcende qualquer aspecto material.

DUGIN introduz uma inovação na doutrina da imortalidade da alma. Escreve em particular: “A Alma, uma forma sutil, tecida de substâncias da atmosfera, sobrevive ao corpo no qual ela passou sua vida terrena e pode viver de modo independente mesmo depois da morte corporal ... Mas o caminho para o céu do espírito ... é impossível para a alma individual, pois, este mundo, por definição não admite em si seres revestidos de forma”.[19] Entretanto, de acordo com a doutrina ortodoxa, Deus cria a alma pelo seu sopro criador [20].

DUGIN em um sentido puramente teosófico insiste na “descoberta dentro da personalidade humana” de uma substância radicalmente diferente do velho “eu” habitual do indivíduo. Afirma que esta descoberta se passa durante o batismo [21]. E nisso A. DUGIN vê uma saída para a “salvação” do ser humano.

Tal afirmação contradiz diametralmente a definição de João Damasceno: “a alma é uma substância viva, simples e incorpórea, por natureza invisível aos olhos humanos, imortal, dotada de entendimento e inteligência e não possui uma imagem (forma) determinada”. Ela age com auxílio do corpo orgânico e comunica-lhe vida, crescimento, sentimento e força de geração. A inteligência ou o espírito pertence à alma não como algo diverso, separado dela, mas como sua mais pura parte. O que são os olhos para o corpo, assim é a inteligência para a alma. A alma é um ser livre, dotado de capacidade de vontade e ação. Ela é “suscetível de mudança por parte da vontade”. [22]

As concepções e declarações errôneas e por vezes francamente heréticas de A. DUGIN são complementadas pela runologia, pela doutrina sobre o caráter cíclico das fases cósmicas e pelas demais crenças pagãs.

De acordo com a mencionada lei da dicotomia, utilizada por A. DUGIN largamente para elaborar os seus trabalhos, chega à conclusão inevitável de que existem dois tipos de hinduísmo segundo GUÉNON – um bom e um mau. O “mau” é o ocidental e o “bom”, o oriental, supostamente ortodoxo. A. DUGIN vê “um futuro brilhante” para a ortodoxia com a combinação do princípio esotérico da Igreja (isto é, com a organização eclesiástica) com a gnose esotérica pagã. Esta abordagem, como ele descreve, abre “possibilidades ilimitadas para uma compreensão profunda e inesperada da ortodoxia russa”[23].

Assim, A. DUGIN afirma que na pessoa dos “heréticos gnósticos” já existe um fundo de ortodoxia, faltando somente o aparato metafísico. Por isso, o único caminho consiste em adotar a religião tradicional e, em seguida, tentar, no âmbito desta religião, penetrar pela prática espiritual, ritual e intelectual nos seus aspectos esotéricos interiores, nos seus mistérios” [24]. A. DUGIN aconselha que, “para que os gnósticos não se submetam à influência das ideias cristãs, estes devem aspirar a minimizar a dimensão humana, terrena e secular da Igreja ..., é indispensável a despeito de tudo insistir na totalidade mística e na perfeição da Igreja, destacando seu aspecto atemporal, benéfico e transformador”[25]. Além disso, pensa que: “ a tarefa fundamental para se aplicar os princípios do tradicionalismo integral ao cristianismo e, em particular, para a ortodoxia, pressupõe tornar-se um seguidor imediato e ortodoxo de GUÉNON” [26].

Isto nada mais é que um apelo à criação dentro da ortodoxia de uma nova tendência (seita), isto é, uma tentativa de um simples cisma.

A. DUGIN evidentemente desconhece que a mantenedora da verdadeira tradição – a Igreja – se protege e se protegerá com antecedência contra sociedades secretas no seu seio. Ele apresenta a situação de tal forma que pelo seu desejo pode juntar à Igreja suas convicções pagãs.

Segundo a opinião audaz de A. DUGIN, “Se nós fomos resgatados pelo Cristo, então, em princípio em nós não há pecado, e é necessário ir corajosamente para o mundo da deificação e não contar meticulosamente suas imperfeições” [27]. Pela mesma razão coloca-se em dúvida um lado fundamental da vida espiritual como o arrependimento, como a confissão, em outras palavras, o leitor é de fato conclamado a uma recusa voluntária de participar nos mistérios mais importantes da Igreja, que constituem uma parte obrigatória da vida ortodoxa.

“A revolução religiosa é vista por DUGIN como a preservação de todos os aspectos dogmáticos, rituais, doutrinários e simbólicos da fé ortodoxa. Esta revolução, porém, destrói aquelas contribuições intelectuais, de caráter nobre e protestante ou de soviético conformista, e mais frequentemente de fundo liberal, que erroneamente são assimilados hoje em dia com a Igreja e que afastam dela muitas pessoas dignas, fortes e nobres de tendência revolucionária” [28].

Por seus objetivos, A. DUGIN aproxima-se dos chamados modernistas, adeptos de Kotchetkov, de Men, de Borisov e de Jeludkov - e semelhantes. Ele tenta de modo persistente “assimilar” a ortodoxia ao paganismo, e os modernistas acima citados vão ao seu encontro, expondo a ortodoxia dentro deles, e também no espírito e na alma de seus adeptos. “Este homem se colocou fora da Divindade e da lei humana, escolheu para si um ponto de vista fora do bem e do mal, acima da lei e da felicidade” [29]. E se os representantes das correntes renovadoras acima enumeradas seguem o caminho de uma suposta simplificação, DUGIN, ao contrário, com todas as suas forças esforça-se para tornar o evidente incompreensível e ambíguo, utilizando para tanto o aparato conceptual e linguístico da metafísica.

Podemos supor que as doutrinas religiosas de A. DUGIN constituem uma compilação de crenças ocidentais (protestantes) e orientais (hindus). Não possuem nenhum fundamento espiritual da ortodoxia e não podem ser consideradas uma doutrina religiosa completa no sentido atribuído a este conceito pelos homens de ciência – teólogos e filósofos.

Posição de A. DUGIN com relação ao Islamismo

Uma das primeiras medidas oficiais tomadas pelo movimento “Eurásia” foi uma conferência sobre o Islamismo “Ameaça do Islã e ameaça para o Islã”. A conferência realizou-se no dia 29 de junho de 2001 no prédio do “Hotel-Presidente” sob a presidência do porta-voz da Câmara de Deputados, G. Seleznev, do grão mufti da Rússia Talgat Tadjuddin e de A. Dugin (nesta época ele tinha-se tornado conselheiro de Seleznev para questões de geopolítica). Um número especial da “Revista da Eurásia” foi consagrado às relações do Movimento com o Islã. A Divisão de relações exteriores da igreja ortodoxa do Patriarcado de Moscou publicou nas páginas desta edição um artigo do padre Vsevolod (Tchaplin), artigo este que ocupa apenas um pouco mais de 5% do volume total da revista.


Cabe notar que em todos os artigos sobre o Islã não há qualquer referência às numerosas manifestações extremistas dos pseudomuçulmanos. Além disso, no artigo [31] do autor permanente do jornal, Khoj-Akhed Nukhaev, propõe-se a criação “no território da Chechênia meridional uma casa comum da Eurásia, uma organização construída segundo os princípios da doutrina dos cãs tártaros (reunião dos muçulmanos, cristãos e judeus e todos os homens de boa vontade, prontos para submeter-se a esta organização em torno de uma missão comum de revitalização da Terra e cura da alma da humanidade contemporânea).

As ideias de Kh-A. Nukhaev estão bem próximas das de DUGIN. Por exemplo, ele propõe construir o Estado da Eurásia em duas etapas:
Na primeira etapa será fundada a CUEA – Confederação Unificada dos Estados Autoritários.

Na segunda, ela se transformará na Casa Comum da Eurásia.
Podemos imaginar que o Islamismo é mais próximo de DUGIN como fundamento espiritual da ideia de Eurásia. São interessantes as reflexões de DUGIN a respeito da “terceira capital” [32]. Ao examinar o papel desempenhado pelas cidades de Kiev, Moscou e São Petersburgo na história da Rússia, ele, notando o fato de que na Rússia moscovita a etnia torna-se particularmente grã-russa, designa este estado, todavia, como turco-eslavo. Do seu ponto de vista, a capital ideal da Eurásia seria Kazan. Para confirmar suas palavras, escreve: “Ivan o Grande (Terrível) apresenta-se com o legítimo herdeiro da vontade geopolítica da Horda de Ouro, como um tzar especialmente grão-russo, no qual as raízes eslavas se unem com o sangue tártaro sob o estandarte da ortodoxia bizantina”. Ele considera que “o Tartastan representa o modelo de uma entidade federativa da Eurásia.

Graças ao impulso tártaro, turco, os russos se conscientizaram como grão-russos, separando-se para sempre do modelo pequeno-russo de Estado. O elemento tártaro é o fator mais importante tanto para a etno-gênese dos grão-russos como para a forma de governo – para a gênese da própria Rússia – Eurásia”. E, finalmente, a afirmação mais interessante: ”O Islamismo dos cãs tártaros é valioso para a Eurásia não como “uma forma incompleta de ortodoxia”, mas como a variedade ortodoxa do Islamismo. E, inversamente, para o Islamismo ortodoxo não há tradição mais próxima do que a Igreja Ortodoxa” [33].
A. DUGIN considera que os métodos metafísicos servem não só para o estudo da ortodoxia, mas também para o do Islamismo. Assim, ele cita a coincidência da opinião do conhecido metafísico muçulmano Gueidar Djemal com a sua própria: “O Fim é mais fundamental do que o começo ... A Negação é a mais fundamental de todas as realidades”[34]. É revelador que este artigo de A. DUGIN foi por ele publicado no jornal dos comunistas russos “Amanhã” nº 21 (338) no ano 2000. Ao fazê-lo, A. DUGIN revelou um total desconhecimento com um documento analítico com “Jiad do povo tártaro na Rússia”[35], no qual a “proximidade” agressiva do Islã com a ortodoxia foi refletida em mais de uma acepção.

Se levarmos em conta o apelo de A. DUGIN para a superioridade da união com os estados muçulmanos, e a possível tomada do poder por eles da União Européia, surge então a seguinte pergunta:

Qual mecanismo A. DUGIN propõe utilizar para prevenir a repetição da situação que hoje em dia se formou no Afeganistão (tem-se em vista o julgamento de missionários cristãos pelos talibãs)?

Levando-se em conta que, segundo as palavras do Cheiq-ul-Islam Talgat Tadjuddin, a população muçulmana manifesta seu pleno apoio ao presidente Putin, podemos com segurança considerar que ela também assim procederá para com a A. DUGIN, que abertamente demonstrou uma posição favorável em relação às ações do dirigente do país.

Posição em relação à maçonaria contemporânea

Na concepção de A. DUGIN, a maçonaria é em princípio “um movimento iniciático bom, dividido pela influência de forças exteriores num ramo ruim “egípcio” e num bom, cristão e escocês”[36]. Por esta afirmação, A. DUGIN revela sua total incompreensão da teoria maçônica, que nega qualquer religião como base da existência espiritual da sociedade.

Apesar disso, oferece certo interesse a conversa que teve A. DUGIN (ele neste caso se apresentou como autor do almanaque “Anjo Gentil” – AG) com o chefe do ramo francês da “Ordem dos Templários Orientais” (mais tarde reformada por A. CROWLEY), um tal irmão Marcion (Christophe Bouchet) [37] quando da sua chegada na Rússia.

Examinando a ação dos maçons no decurso de alguns séculos, o irmão Marcion analisa o lado oculto da ação da SS na Alemanha de Hitler, considerando que “a maioria dos trabalhos dedicados à pesquisa do nacional-socialismo são simplificações vulgarizadoras que aspiram a apresentá-lo como o um mal absoluto”. Ele, baseado nas publicações de Savitri Devi Mukherji, esposa do brâmane Mukherji, considera que “no interior no Nacional-socialismo existiu uma evidente tendência messiânica”.

Nesta mesma passagem, o irmão Marcion afirma que “tudo o que se diz ter-se passado nos campos de concentração nazistas (e também nos stalinistas) não passa de um enorme exagero”. (Evidentemente o irmão Marcion desconhece os materiais do julgamento de Nurenberg).

Segundo a confissão do irmão Marcion, seções de lojas maçônicas existem em muitos países da Europa Ocidental, incluindo a Iugoslávia, onde, há alguns anos, o número dos seguidores de Crowley era muito grande. À pergunta relacionada com a fé dos maçons ele responde literalmente assim: “Eles creem no poder e na necessidade de dominar, subjugar e governar a si próprios”.

As teorias de Crowley à luz do enfoque metafísico de A. Dugin

A tentativa mal dissimulada de conciliar a ortodoxia com crenças que lhe são opostas deve-nos por de sobreaviso. Neste sentido, A. DUGIN até tenta demonstrar que A. Crowley não é perigoso para qualquer crença como geralmente é descrito. O autor produz uma série de citações que justificam Crowley, tentando provar que ele é somente um dos mais importantes pesquisadores (filósofos) dos nossos tempos. Tal atitude para com o “messias” do satanismo é mais do que reveladora, como também o fato de que, analisando a doutrina de Crowley, ele põe a palavra “satanismo” entre aspas. Exteriormente tenta tomar a posição de um analista independente das diversas crenças, sobre as quais a coletânea contém informações.


Na base das reflexões de A. DUGIN também se encontram aqui as concepções metafísicas de Guénon, bem conhecidas por ele. Opondo iniciação e contra-iniciação, ele pensa que “as mais terríveis e sérias deturpações e dessacralizações cabem às pessoas com as melhores intenções, convencidas que são ortodoxas e portadoras do bem mais evidente”. E mais adiante: “Na maioria das vezes os não conformistas religiosos ( “hereges” , “satanistas”) buscam a plenitude da experiência sagrada, que os representantes da ortodoxia não podem lhes oferecer. Não é culpa deles, mas seu infortúnio, e a verdadeira culpa cabe àqueles que permitiram que sua autêntica tradição se transformasse em uma fachada superficial detrás da qual não há simplesmente nada. E talvez precisamente estas forças e grupos suspeitos caminham para a realidade profunda, enquanto que os profanos que permanecem na periferia por todos os meios criam obstáculos” [38].

Por meio de reflexões corriqueiras, A. DUGIN chega mais adiante à conclusão de que o papel “dos satanistas” (ou da Ordem de Seth) na divisão das igrejas ortodoxa, católica e protestante é simplesmente insignificante: pois a formação de A. Crowley se deu no seio da irmandade protestante de Plymouth, cujo propagador foi seu pai. É interessante a seguinte afirmação de A. DUGIN: “todas as vezes que Crowley acentuava o seu “satanismo”, só expressava uma clara compreensão do valor de sua posição diante do campo metafísico que ele conscientemente abandonara. E nada mais”. Desta forma, a doutrina espiritual de A. Crowley se reduz somente a uma negação dos dogmas do protestantismo. Por este mesmo raciocínio, deixa entender que desconhece algo de maléfico nos satanistas russos e na atividade de seitas semelhantes em muitos países do mundo. Mais do que isso, propõe considerar A. Crowley como “herege da heresia”, “um Anticristo no seio do anti-cristianismo”, e que é especialmente indispensável levar em conta, ao se avaliar Crowley, seu autêntico significado para a Rússia [39].

Em outras palavras, A. DUGIN culpa o próprio cristianismo pelo aparecimento das concepções anti-cristãs de A. Crowley: a identificação que Crowley faz de si próprio com o “Anticristo” “não era para ele a expressão do caráter destrutivo de sua missão, mas tão somente uma assimilação de denominações e títulos para provocar, no contexto cultural cristão; títulos estes que os profetas cristãos atribuem, no âmbito de seu contexto religioso (a religião de um Deus que morreu e ressuscitou) a “profetas de uma nova era” [40] que lhes são incompreensíveis”. E de maneira geral, do ponto de vista de A. DUGIN, o próprio A. Crowley de modo “reflexo” e irônico descreve sua magia sexual em termos de Anticristo.

Isto é, toda a doutrina de Crowley se reduz a um gracejo! Neste ponto é oportuno lembrar algumas formulações de Crowley em um de seus livros relativo aos sacrifícios humanos: “dependendo dos objetivos místicos devem ser executados esfaqueamentos, espancamentos até a morte, afogamentos, envenenamentos, decapitações, estrangulamentos, autos da fé etc.” [41], ou ainda “O sangue lunar é o melhor, também o é o menstrual, o sangue fresco de uma criança e um fragmento da hóstia sagrada, em seguida, o sangue dos inimigos, depois o de um sacerdote ou de um crente e, em último lugar, o sangue de um animal qualquer” [42]. A. Crowley também recomenda: “O objeto mais conveniente para estes casos é uma criança de sexo masculino, inocente e intelectualmente desenvolvida (“Apontamentos mágicos do irmão “Perturabo” – pseudônimo litúrgico de A. Crowley)”. Dá entender que no período entre 1912 e 1928 ele executou tais sacrifícios numa média de até 150 ao ano [43]

E a parte final do artigo. “Impossível excluir a possibilidade de que o seu negativismo mais repulsivo e evidente, sua antinomia e sua “natureza maléfica” estejam mais próximos da verdade e nos ajudem a adquirir orientações espirituais corretas, pois, não é verdade que o caminho do paraíso esta revestido de maus pensamentos”?[44].

Ao que foi dito não é possível acrescentar mais nada. É verdade, ainda, que no livro “O Fim do Mundo” foi integrada totalmente a obra fundamental de A. Crowley “O Livro da Lei”, o que pode ser considerado uma forma de propaganda para os seguidores de A. DUGIN.
Tentemos formular as posições religiosas de A. DUGIN a partir da breve análise dos materiais acima examinados:
  1. Visão do mundo contrária à Ortodoxia, baseadas na primazia do não ser sobre o ser, com emprego do aparato conceptual e linguístico da metafísica.
  2. Presença na sua doutrina de concepções diretamente ligadas à visão do mundo hindu (tantrismo, metafísica indiana), e também com elementos da Teosofia que refletem as opiniões de R. Guénon (iniciado na Maçonaria, supostamente na Ordem reformada dos Templários Orientais – ou Ordo Templi Orientis, a O.T.O.).
  3. Apelos para “uma reforma” da Ortodoxia, em particular por meio da erosão da Ortodoxia como verdadeira crença, da introdução no interior da Igreja de seus inimigos, da liquidação das tradições ortodoxas, da sua submissão ao Islã e, no final das contas, sua destruição pelo emprego do aparelho administrativo da famigerada União da Eurásia. Como etapa intermediária, uma utilização conjuntural da Ortodoxia para atingir seus próprios objetivos políticos no confronto com os partidários da aliança atlântica na marcha para uma real dominação do mundo.
  4. Uma evidente preferência pelo Islã em detrimento das outras crenças religiosas, no seio de uma relação condescendente para com a maçonaria e o satanismo.
  5. A crença religiosa de A. DUGIN ao contrário das outras doutrinas religiosas tradicionais está dirigida para uma classe social de elite. Para sua compreensão exige-se um preparo específico, em particular de natureza filosófica. E isto coloca esta crença na categoria das ideologias ocultistas e místicas em função da critica que faz das posições conceptuais das principais religiões do mundo.
  6. A arbitrariedade na interpretação dos postulados fundamentais do Cristianismo e uma difusão deste tipo de material através de fontes de informação publicamente acessíveis colocam A. DUGIN fora dos muros da Igreja.
O centro de distribuição da doutrina de A. DUGIN é a loja “Transilvânia” (sita em Moscou, à Rua Tverskaia 6/1 5, telefone 229-87-86/33-45, site www.arktogaia.com). Citemos o conteúdo deste site publicado no jornal:
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  • Análise dos acontecimentos correntes
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Nas instalações da “Transilvânia” se encontra também a loja “Artogaia-2”, onde estão expostos praticamente todos os trabalhos de A. DUGIN, bem como obras fundamentais sobre um vasto círculo de problemas de teologia, política e economia (em particular as obras de G. Wirth, A. Crowley e outros apologistas das crenças anticristãs, os documentos programáticos do movimento “Eurásia” e suas publicações periódicas).
Tendo-se em conta as posições atuais de A. DUGIN, líder de um movimento social populista, podemos supor que, no futuro próximo, a base e a esfera de difusão de sua doutrina irá ampliar-se pelo uso das possibilidades oferecidas pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho da Federação e por meio de suas possibilidades editoriais e gráficas. Sobretudo, deve-se esperar um visível apoio do governo para o conglomerado editorial “Arktogaia”, e o emprego de outros meios de informação de massa que deverão fazer propaganda da doutrina de A. DUGIN. Já hoje em dia a base gráfica, utilizada para a impressão dos trabalhos do movimento “Eurásia”, é o complexo de produção gráfica “VINITI”, um das mais modernas e poderosas empresas editoriais no sistema de distribuição de informação de caráter técnico-científico e social da Rússia.

Bibliografia:

Referente à seção: “A doutrina de Aleksandr DUGIN”:
  1. Serguei RIUTKIN. “O crítico Dugin”// Internet, www.russ.ru,9.06.98.
  2. “Anjo Gentil” – Moscou. Atogaia, tomo 1, 1991, pag. 10.
  3. Ibidem, pag. 29.
  4. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 359.
  5. Ibidem, pag. 47.
  6. Ibidem, pag. 1.
  7. “Anjo Gentil”, Artogaia, Tomo 1, 1991, pag. 23.
  8. A. Dugin. O Fim do mundo. Escatoçogia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag 19.
  9. Ibidem, pag. 19.
  10. Ibidem, pag.17.
  11. Ibidem, pag. 365.
  12. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção “O tradicionalismo de Guénon” .
  13. A. Dugin. A Igreja cristã”. Moscou.Artogaia, 1998, pag. 29.
  14. A. Dugin. “O Mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 19.
  15. A. Dugin “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 23.
  16. R. Verchillo. “Contra o novo paganismo” “Tver ortodoxa”, nº 7-8, 199.
  17. “O esoterismo cristão”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  18. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 225.
  19. “O esoterismo cristão” Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  20. Ibidem, pag. 68.
  21. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 12.
  22. Ibidem, pag. 33-34.
  23. Arquimandrita Alípio e arquimandrita Isaías. “Teologia dogmática – ciclo de conferências”. Mosteiro de Troitsko Serguievo, 2000.
  24. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 148.
  25. A. Dugin. “O mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 55.
  26. Ibidem, pag. 245-246.
  27. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 29.
  28. Ibidem, pag. 10.
  29. Ibidem, pag. 10.
  30. Roman Verchillo. “Contra o novo paganismo” (“A propósito das obras de A. Dugin”). Tver ortodoxa, nº 7-9, julho-agosto de 1999. (Mensageiro do centro de informações e análise do prelado Mark, bispo de Éfeso (fascículo 13).
  31. Khoj-Akhmed Nukhaev. “Não estamos interessados na derrota da Rússia”. Resenha sobre a Eurásia, fascículo especial, pag. 4.
  32. A. Dugin. “A terceira capital”. Na coletânea: “A doutrina da Eurásia: teoria e prática”. Moscou. Artogaia, 2001, pag. 39.
  33. Ibidem, pag. 44.
  34. A. Dugin. “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil, tomo 1, Artogaia, 1991, pag. 22.
  35. I. N. Lotfullin e F. G. Islaev. “O jiad do povo tártaro na Rússia”. Kazan, 1998, pag. 156.
  36. A. Dugin. “Teoria da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 48.
  37. Ibidem.
  38. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção: “Teoria geral da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 209.
  39. Ibidem, pag. 366.
  40. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 362.
  41. Ibidem, pag. 366.
  42. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1. Edições Lokid-Mif, pag. 167-177.
  43. Ibidem, pag. 384 (citação do livro de Crowley: “O livro das leis”, parte 3, versículo 24”.
  44. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1, Edições Lokid-Mif, pag. 17.
Original:Новые религиозные объединения России деструктивного и оккультного характера: справочник.
Русская православная церковь.
Московская патриархия. Миссионерский отдел Миссионерский отдел Московского Патриархата Русской Православной Церкви.
Белгород, 2002.

Tradução: Luiz H. Guimarães