sábado, 4 de janeiro de 2014

Um pouco do pensamento de Olavo de Carvalho.

Olavo critica fortemente o chamado movimento globalista, que em sua visão não trata-se apenas da simples defesa de abertura de mercados, mas sim da "introdução de regulamentações em escala mundial que transferem a soberania das nações para organismos internacionais", procurando o estabelecimento de uma "Nova Ordem Global". Tal ordem estaria associada à uma "uniformização econômica do planeta", e traria "no seu bojo as sementes de uma neo-religião híbrida, meio ecológica, meio ocultista (...) e cuja implantação resulta pura e simplesmente na destruição completa do cristianismo e do judaísmo". Os principais agentes do globalismo seriam as fundações Ford, Rockefeller e MacArthur, como também George Soros e seus associados, o Clube Bilderberg, o Council on Foreign Relations, a Comissão Trilateral, como também, politicamente, o "Partido Democrata, Diálogo Interamericano, os Clintons, os Kennedys e uma multidão de Carters". Segundo Olavo esses chamados agentes globalistas financiam a esquerda política latino-americana visando obter um "instrumento para enfraquecer a resistência americana, facilitando a implantação do governo mundial que a ONU já declarou ser seu objetivo prioritário para as próximas décadas".

Afirma ainda que essa elite globalista nada tem a ver com o capitalismo liberal. "Ao contrário: tudo fez para promover três tipos de socialismo: o socialismo fabiano na Europa Ocidental e nos EUA, o socialismo marxista na URSS, na Europa Oriental e na China e o nacional-socialismo na Europa central. Gastou, nisso, rios de dinheiro. Criou o parque industrial soviético no tempo de Stálin, a indústria bélica do Führer e, mais recentemente, a potência econômico-militar da China (...)".

Olavo aponta que o chamado socialismo fabiano ("terceira via, keynesianos, sociais-democratas" ) "distingue-se do marxista porque forma quadros de elite para influenciar as coisas desde cima em vez de organizar movimentos de massa. Seu momento de glória veio com a administração keynesiana de Roosevelt, que, a pretexto de salvar o capitalismo, estrangulou a liberdade de mercado e criou uma burocracia estatal infestada de comunistas (...). No poder, os fabianos dão uma maquiada na economia capitalista enquanto fomentam por canais aparentemente neutros a disseminação de idéias socialistas, promovem a intromissão da burocracia em todos os setores da vida (não necessariamente os econômicos) e subsidiam a recuperação do socialismo revolucionário. Quando este está de novo pronto para a briga, (...) novamente eles fingirão salvar a pátria enquanto salvam, por baixo do pano, o socialismo". "O fabianismo nunca foi inimigo do socialismo marxista: adora-o e cultiva-o, porque a economia marxista, incapaz de progresso tecnológico, lhe garante mercados cativos, e também porque sempre considerou o comunismo um instrumento da sua estratégia global. Os comunistas, é claro, respondem na mesma moeda, tentando usar o socialismo fabiano para seus próprios fins e infiltrando-se em todos os partidos socialistas democráticos do Ocidente".

Com essa linha de raciocínio, afirma que a Guerra Fria "foi, em grande parte, puro fingimento: a elite Ocidental concorria com o comunismo sem nada fazer para destruí-lo. Ao contrário, ajudava-o substancialmente. (...) A concorrência entre “capitalismo” e “socialismo” foi um véu ideológico para uso das multidões, mas a luta entre Oriente e Ocidente é para valer".

Nesse sentido Olavo enxerga como atuantes três grandes "projetos de dominação global": além do movimento acima mencionado (globalismo stricto sensu ou ocidental), estariam em ação os "globalistas islâmicos" que visariam a unificação de Estados muçulmanos em um "grande projeto do Califado Universal" (ver: Irmandade Muçulmana), como também um bloco "russo-chinês" cuja classe dominante seria oriunda da "Nomenklatura comunista" e composta "essencialmente de burocratas, agentes dos serviços de inteligência e oficiais militares", classe essa que, uma vez que teria admitido "a derrota do comunismo, (...) reagiu e criou do nada uma nova estratégia independente, o eurasianismo, mais hostil a todo o Ocidente do que o comunismo jamais foi".

Direita ideológica

Olavo define o conservadorismo como a "política que se constitui da síntese inseparável de economia de livre mercado, democracia parlamentar, lei e ordem, moral judaico-cristã e predomínio da cultura clássica na educação".

Ainda afirma que "é uma farsa monstruosa situar nazismo e fascismo na extrema-direita, subentendendo que a democracia liberal está no centro, mais próxima do socialismo. Ao contrário: o que há de mais radicalmente oposto ao socialismo é a democracia liberal. Esta é a única verdadeira direita. É mesmo a extrema-direita: a única que assume o compromisso sagrado de jamais se acumpliciar com o socialismo. Nazismo e fascismo não são extrema-direita, pela simples razão de que não são direita nenhuma: são o maldito centro, são o meio-caminho andado, são o abre-alas do sangrento carnaval socialista".

Sobre o golpe militar de 1964, Olavo afirma que os militares "não eram conservadores de maneira alguma, eram indivíduos formados na tradição positivista – forte nos meios militares até hoje – que abomina o livre movimento das idéias na sociedade e acredita que o melhor governo possível é uma ditadura tecnocrática". "O positivismo nada tem de conservador: é, com o marxismo, uma das duas alas principais do movimento revolucionário. Compartilha com sua irmã inimiga a crença de que cabe à elite governante remoldar a sociedade de alto a baixo, falando em nome do povo para que o povo não possa falar em seu próprio nome". "E, na concorrência de poder e prestígio, eles eliminaram alguns políticos de direita da mais alta qualidade, como Carlos Lacerda. A Arena era ideologicamente inócua. De lá para cá, a classe política, que era de maioria direitista, acabou sendo marginalizada e deixando um espaço vazio. Esse espaço foi preenchido pelos políticos de esquerda que voltavam do exílio. Quando veio a Constituição de 1988, a esquerda já era praticamente hegemônica".

Nesse mesmo sentido, diz que o governo militar "se ocupou de combater a guerrilha, mas não de combater o comunismo na esfera cultural, social e moral. Havia a famosa teoria da panela de pressão, do general Golbery do Couto e Silva. Ele dizia: 'Não podemos tampar todos os buraquinhos e fazer pressão, porque senão ela estoura'. A válvula que eles deixaram para a esquerda foram as universidades e o aparato cultural. Na mesma época, uma parte da esquerda foi para a guerrilha, mas a maior parte dela se encaixou no esquema pregado por Antonio Gramsci, que é a revolução cultural, a penetração lenta e gradual em todas as instituições de cultura, mídia etc". "O período militar foi a época de maior progresso da indústria editorial de esquerda no Brasil. Nunca se publicou tanto livro de esquerda".

Segundo ele "o povo brasileiro é profundamente conservador. Sobretudo no aspecto social (ver: Conservadorismo social). É maciçamente contra o aborto, o feminismo radical, as quotas raciais, o gayzismo organizado. No entanto, não há político que fale em nome do povo". "O Brasil não tem uma direita há muito tempo. Nas últimas eleições presidenciais, os discursos de todos os candidatos eram semelhantes. O Partido Democratas foi inspirado na esquerda norte-americana. Portanto, não pode ser considerado exemplo de partido conservador". Acrescenta que "o PSDB é que não é [de direita]. O PSDB é um partido da Internacional Socialista que está comprometido com o globalismo de esquerda, com todos esses valores politicamente corretos. É a direita da esquerda. No Brasil, infelizmente, a política ficou reduzida a isso: uma luta entre a esquerda da esquerda e a direita da esquerda. Quem é conservador mesmo não se deixa enganar por PSDB".

Olavo também é crítico do liberalismo. "O conservadorismo é a arte de expandir e fortalecer a aplicação dos princípios morais e humanitários tradicionais por meio dos recursos formidáveis criados pela economia de mercado. O liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários. O conservadorismo é a civilização judaico-cristã elevada à potência da grande economia capitalista consolidada em Estado de direito. O liberalismo é um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de direito".

Ciência

Olavo criticou fortemente a figura de Isaac Newton, vendo-o como uma fonte de "uma burrice formidável", e procurou refutar aspectos da mecânica newtoniana com argumentos filosóficos. Segundo ele, ainda, "a ciência de Galileu e Newton fazia pouco caso da observação da natureza, preferindo a construção de modelos matemáticos sem equivalência na realidade sensível".

Acrescenta, ainda, que "um fundo de charlatanismo parece já ter sido introduzido na física por Galileu, quando proclamou ter superado a noção da ciência antiga, segundo a qual um objeto não impelido por uma força externa permanece parado — uma ilusão dos sentidos, segundo ele. Na realidade, pontificava, um objeto em tais condições, permanece parado ou em movimento retilíneo e uniforme. E, após ter assim derrubado a física antiga, esclarecia discretamente que o movimento retilíneo e uniforme não existe realmente, mas é uma ficção concebida pela mente para facilitar as medições. Ora, se o objeto não movido de fora permanece parado ou tem um movimento fictício, isto significa, rigorosamente, que ele permanece parado em todos os casos, exatamente como o dizia a física antiga, e que Galileu, mediante um novo sistema de medições, conseguiu apenas explicar por que ele permanece parado. Ou seja, Galileu não contestou a física antiga, apenas inventou um modo melhor de provar que ela tinha razão, e que o testemunho dos sentidos, sendo verídico o bastante, não tem em si a prova da sua veracidade — coisa que já era arroz-com-feijão desde o tempo de Aristóteles. Foi este episódio que inaugurou a mania dos cientistas modernos de tomarem simples mudanças de métodos como se fossem “provas” de uma nova constituição da realidade".

Olavo defende que a Inquisição não promoveu um atraso no desenvolvimento científico. "Basta examinar o Index Librorum Prohibitorum para verificar que nele não consta nenhuma das obras de Copérnico, Kepler, Newton, Descartes, Galileu, Bacon, Harvey e tutti quanti. A Inquisição examinava apenas livros de interesse teológico direto, que nada poderiam acrescentar ao desenvolvimento da ciência moderna". O processo de Galileu teria sido uma "farsa concebida pelo Papa, padrinho de Galileu, para que seu protegido se livrasse de um grupo de inquisidores fanáticos mediante uma simples declaração oral sem efeitos práticos, após a qual ele pôde continuar divulgando suas idéias sem que ninguém voltasse a incomodá-lo". "Giordano Bruno não fez nenhuma descoberta (...). Nem sequer estudou as ciências modernas, física, astronomia, biologia ou matemática. Ele não foi condenado por defender teorias científicas, mas por prática de feitiçaria, que na época era crime".

Olavo opõe-se a astrônomos e cientistas em geral que recusam a possibilidade da astrologia de tornar-se um ramo de estudo científico, vendo isto como uma postura partidária. "Existe uma correspondência estrutural entre a figura dos astros no céu na hora do nascimento e o caráter do indivíduo. Isso é comprovável". Olavo enxerga como referência na área o trabalho de Michel Gauquelin, cuja obra principal residiu na proposição e análise do suposto efeito Marte.

Ele também faz críticas ao heliocentrismo e à teoria da relatividade. Segundo ele o heliocentrismo não seria uma teoria científica superior ao geocentrismo: "No confronto entre geocentrismo e heliocentrismo não existe nenhuma prova definitiva de um lado nem do outro". A experiência de Michelson-Morley, na visão de Olavo, não trata-se de um forte indício da constância da velocidade da luz, e sim de uma evidência em favor do geocentrismo: estando a Terra parada em relação ao éter, não seria esperada variação na velocidade da luz. A teoria da relatividade seria uma teoria com "noções estranhas" e que "nunca foram provadas", mas "intelectualmente elegantes", feita justamente para "salvar as aparências" do heliocentrismo. "O cidadão chamado Albert Einstein achou que era preferível modificar a física inteira só para não admitir que não havia provas do heliocentrismo".

Outro alvo de crítica é o darwinismo. Segundo Olavo, "tudo o que ele (Darwin) fez foi arriscar uma nova explicação para essa teoria (teoria da evolução) – e a explicação estava errada. Ninguém mais, entre os autoproclamados discípulos de Darwin, acredita em 'seleção natural'. A teoria da moda, o chamado 'neodarwinismo', proclama que, em vez de uma seleção misteriosamente orientada ao melhoramento das espécies, tudo o que houve foram mudanças aleatórias. (...) O 'design inteligente' não é apenas um complemento final da teoria darwinista, mas a sua premissa fundamental, espalhada discretamente por todo edifício argumentativo de A Origem das Espécies". Adiciona, ainda, que "o darwinismo é genocida em si mesmo, desde a sua própria raiz. Ele não teve de ser deformado por discípulos infiéis para tornar-se algo que não era".

Também é crítico do trabalho de Georg Cantor a respeito de números transfinitos, acusando-o de confundir "números com seus meros signos", vendo seu trabalho como um "jogo de palavras" e uma "falsa lógica".

Quanto à resistência que suas idéias sofreram dentro da comunidade científica, chegou a afirmar: "Não conheço fanáticos mais irracionais do que os adeptos de teorias científicas".

Livros publicados

  • A imagem do homem na astrologia. São Paulo: Jvpiter. 1980.
  • O crime da Madre Agnes ou A confusão entre espiritualidade e psiquismo. São Paulo: Speculum. 1983.
  • Questões de simbolismo astrológico. São Paulo: Speculum. 1983
  • Universalidade e abstração e outros estudos. São Paulo: Speculum. 1983.
  • Astros e símbolos. São Paulo: Nova Stella. 1985.
  • Astrologia e religião. São Paulo: Nova Stella. 1986.
  • Fronteiras da tradição. São Paulo: Nova Stella. 1986.
  • Símbolos e mitos no filme "O silêncio dos inocentes". Rio de Janeiro: Instituto de Artes Liberais. 1992.
  • Os gêneros literários: seus fundamentos metafísicos. 1993.
  • O caráter como forma pura da personalidade. 1993.
  • A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Instituto de Artes Liberais & Stella Caymmi. 1994.nota 1
  • Uma filosofia aristotélica da cultura. Rio de janeiro: Instituto de Artes Liberais. 1994.
  • O jardim das aflições: de Epicuro à ressurreição de César - Ensaio sobre o materialismo e a religião civil. Rio de Janeiro: Diadorim. 1995.62
  • Aristóteles em nova perspectiva: Introdução à teoria dos quatro discursos. Rio de janeiro: Topbooks. 1996.68
  • O imbecil coletivo: atualidades inculturais brasileiras. Rio de Janeiro: Faculdade da Cidade. 1996.
  • O futuro do pensamento brasileiro. Estudos sobre o nosso lugar no mundo. 1998.
  • O imbecil coletivo II: A longa marcha da vaca para o brejo e, logo atrás dela, os filhos da PUC, as quais obras juntas formam, para ensinança dos pequenos e escarmento dos grandes. Rio de Janeiro: Topbooks. 1998.
  • Coleção história essencial da filosofia. São Paulo: É Realizações. 2002-2006.
  • A Dialética Simbólica - Ensaios Reunidos São Paulo: É Realizações. 2006.
  • Maquiavel ou A Confusão Demoníaca São Paulo: Vide Editorial. 2011.69
  • A filosofia e seu Inverso, São Paulo: Vide Editorial. 2012.
  • Os EUA e a nova ordem mundial (coautor Alexandre Dugin), São Paulo: Vide Editorial, 2012.
  • O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, Rio de Janeiro: Record, 2013.
  • Apoteose da vigarice, São Paulo: vide Editorial, 2013
Como autor secundário
  • Arthur Schopenhauer - Como vencer um debate sem precisar ter razão: em 38 estratagemas (dialética erística). Introdução, notas e comentários de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997.
  • Otto Maria Carpeaux - Ensaios reunidos, 1942-1978. Organização, introdução e notas de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: UniverCidade & Topbooks. 1999.
  • Émile Boutroux - Aristóteles. Introdução e notas de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Record. 1999.
  • René Guénon - A Metafísica Oriental. Tradução de Olavo de Carvalho.

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