Além dos comerciantes, a própria crise econômica feudal também instigou a população a questionar os dogmas impostos pela Igreja. Os clérigos estavam muito mais próximos das questões materiais envolvendo o poder político e a posse de terras, do que preocupados com as mazelas sofridas pela população camponesa. Um dos mais claros reflexos dessa situação pôde ser notado com o relaxamento dos costumes que incitava padres, bispos e cardeais a não cumprirem seus votos religiosos.
Já no século XII apareceram os primeiros movimentos que questionavam as crenças e práticas do catolicismo. Entre outras manifestações, podemos destacar o papel exercido pelos cátaros, originários da região sul da França. Naquela região as distinções culturais históricas propiciaram a ascendência de uma fé cristã à parte dos ditames da Igreja Católica. Realizando uma leitura própria do texto, os cátaros tinham valores morais bastante rígidos que se contrastava com o comportamento dos líderes clericais.
No século posterior, vendo a grande presença do movimento religioso, o papa Inocêncio III ordenou a realização de uma cruzada que – entre 1209 e 1229 – aniquilou o movimento cátaro. Além disso, as acusações de feitiçaria eram bastante corriqueiras entre indivíduos considerados suspeitos ou infiéis. Já na Idade Média, a Igreja criou o Tribunal da Santa Inquisição que percorria diversas regiões da Europa, reprimindo aqueles que ameaçassem seu poderio religioso e ideológico.
Outros intelectuais, nos séculos XIV e XV, também indicavam como os valores absolutos da Igreja já não tinham a mesma força mediante as transformações históricas experimentadas. O inglês John Wycliffe (1330 – 1384) redigiu alguns ensaios onde denunciava as ações corruptas da Igreja e defendia a salvação espiritual por meio da fé. Em certa medida, as teorias lançadas por esse pensador viriam a influenciar as obras de Martinho Lutero, no século XVI.
Jan Huss (1370 – 1415) foi um padre que se preocupou em traduzir o texto bíblico em outras línguas e denunciou o comportamento dos clérigos católicos. A pregação por ele empreendida, ao longo da Boêmia, motivou a violenta reação das autoridades do Sacro-Império Germânico que ordenaram sua morte pela fogueira. A morte de Huss deu origem a um movimento popular conhecido como hussismo. A grande maioria de seus integrantes eram camponeses pobres insatisfeitos com sua condição de vida.
O movimento renascentista também deu passos importantes no questionamento do papel exercido pela Igreja Católica. A teoria empirista de Francis Bacon; o heliocentrismo defendido por Nicolau Copérnico; e a física newtoniana descentralizou o monopólio intelectual da Igreja. O conhecimento gerado por esses e outros indivíduos lançava a idéia de que o homem não necessitava da chancela de uma instituição que o concedesse o direito de conhecer a Deus ou o mundo.
No seguimento do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilônico da igreja no papado de Avignon, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores religiosos fundamentais.
Pré-Reforma
A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero.
A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.
No século XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversos questionamentos sobre questões controversas que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras ideias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lolardos". Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Este pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.
Razões políticas na Reforma
A Reforma protestante foi iniciada por Martinho Lutero, embora tenha sido motivada primeiramente por razões religiosas, também foi impulsionada por razões políticas e sociais.
- Os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Católica e governantes das monarquias européias, tais governantes desejavam para si o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa, muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis;
- Práticas como a usura era condenada pela ética católica, assim a burguesia capitalista que desejava altos lucros econômicos sentiram-se mais "confortáveis" se pudessem seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista, necessidade que foi atendida pela ética protestante e conceito de Lutero de que a fé sem as obras justifica (Sola fide);
- Algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza e dos príncipes de se apossar das riquezas da igreja católica e de ver-se livre da tributação papal. Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses pequenos nobres desejavam às terras da igreja. Somente com a Reforma, estas classes puderam expropriar as terras;
- Durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas, substituindo-os por religiosos com formação luterana;
- Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas liderados por Thomas Münzer, que provocou a Guerra dos Camponeses. Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam. Lutero escreveu posteriormente: "Contras as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde".
- Após a Guerra dos Camponeses os anabatistas continuaram sendo perseguidos e executados em países protestantes, por exemplo, a Holanda e Frísia, massacraram aproximadamente 30.000 anabatistas nos dez anos que se seguiram a reforma.
No início do século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as ideias dos pré-reformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante.
Essas teses condenavam a "avareza e o paganismo"
na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências
significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente
copiadas e impressas. Após um mês se haviam espalhado por toda a Europa.
Após diversos acontecimentos, em junho de 1518 foi aberto um
processo por parte da Igreja Romana contra Lutero, a partir da publicação das
suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em
heresia. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia
notória. [25] Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito
"Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum
Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi
exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um
ano. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua tradução
da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de
1522.
Enquanto isso, em meio ao clero saxônio, aconteceu renúncias
ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos
monásticos. Entre outras coisas, muitos realizaram a troca das formas de
adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas
igrejas e a ab-rogação do celibato. Ao mesmo tempo em que Lutero escrevia
"a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e
rebelião". Seu casamento com a ex-freira cisterciense Catarina von Bora
incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma.
Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja
Romana. Em janeiro de 1521 foi realizada
a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma, pois nela Lutero foi
convocado para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e pediu a
reforma. Autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico
pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam
sacerdotes católicos das igrejas, substituindo-os por religiosos com formação
luterana.
Toda essa rebelião ideológica resultou também em rebeliões
armadas, com destaque para a Guerra dos camponeses (1524-1525). Esta guerra
foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros
reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em
Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as
guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. A revolta
foi incitada principalmente pelo seguidor de Lutero, Thomas Münzer, que
comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma
sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero
por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era
vontade divina, motivo pelo qual eles romperam, sendo que Lutero condenou
Münzer e essa revolta.
Em 1530 foi apresentada na Dieta imperial convocada pelo
Imperador Carlos V, realizada em abril desse ano, a Confissão de Augsburgo,
escrita por Felipe Melanchton com o
apoio da Liga de Esmalcalda. Os representantes católicos na Dieta resolveram
preparar uma refutação ao documento luterano em agosto, a Confutatio Pontificia
(Confutação), que foi lida na Dieta. O Imperador exigiu que os luteranos
admitissem que sua Confissão havia sido refutada. A reação luterana surgiu na
forma da Apologia da Confissão de Augsburgo, que estava pronta para ser
apresentada em setembro do mesmo ano, mas foi rejeitada pelo Imperador. A
Apologia foi publicada por Felipe Melanchton no fim de maio de 1531,
tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a
Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537.
Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido
determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical.
Queriam uma reforma mais profunda. Foi parte importante dessa reforma radical
os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total
separação entre igreja e estado e o "novo batismo" (que em grego é anabaptizo).
João Calvino.
Enquanto na Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na
França e na Suíça a Reforma teve como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio .
João Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado
sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual
começou a ser visto como um representante importante do movimento protestante.
Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533
onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e
João Calvino permanece desde então como uma figura central da história da
cidade e da Suíça. Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã, que são
uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas
Reformadas.
Os problemas com os huguenotes somente concluíram quando o
Rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Édito de Nantes, declarando tolerância
religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas
sob condições muito restritas. O catolicismo se manteve como religião oficial
estatal e as fortunas dos protestantes franceses diminuíram gradualmente ao
longo do próximo século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau, que
revogou o Édito de Nantes e fez do catolicismo única religião legal na França.
Em resposta ao Édito de Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo
declarou o Édito de Potsdam, dando passagem livre para franceses huguenotes
refugiados e status de isenção de impostos a eles durante 10 anos.
Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das
igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas
doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi
apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças
significativas na vida civil e em assuntos de estado em Zurique.
No Reino Unido
O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito
tempo atrás havia uma forte corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto
o movimento Lollardo, que inspirou os Hussitas na Boémia. No entanto, ao redor
de 1520 os lollardos já não eram uma força ativa, ou pelo menos um movimento de
massas.
Henrique VIII
Embora Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Católica com
o livro Assertio Septem Sacramentorum (Defesa dos Sete Sacramentos), que
contrapunha as 95 Teses de Martinho Lutero, Henrique promoveu a Reforma Inglesa
para satisfazer as suas necessidades políticas. Sendo este casado com Catarina
de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao Papa
Clemente VII a anulação do casamento.
Perante a recusa do Papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor
da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de
1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo
assim o Anglicanismo. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam
excomungados, perseguidos e executados, tribunais religiosos foram instaurados
e católicos foram obrigados à assistir cultos protestantes, muitos importantes
opositores foram mortos, tais como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns
sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuchos. Quando Henrique foi
sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em
ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta diferenciando o
anglicanismo ainda mais do catolicismo.
Seguiu-se uma breve reação católica durante o reinado de
Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura
a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento votou o
regresso à obediência ao Papa. Um
consenso começou a surgir durante o reinado de Elizabeth I. Em 1559, Elizabeth
I retornou ao anglicanismo com o restabelecimento do Ato de Supremacia e do
Livro de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos
(1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre o protestantismo e o
catolicismo: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como
sacramentos o Batismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o
fausto das cerimônias religiosas.
John Knox.
A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da
Tradição Católica (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra
sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, A Igreja cristã na
Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento
reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "via
média" entre o catolicismo e o protestantismo. Em 1561 apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo. Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta de 1570 ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja de Cristo. Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista, junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo sistema era congregacionalista, sendo um claro exemplo de igreja desse sistema.
Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com
João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma
Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja
Presbiteriana, a Church of Scotland (ou Kirk), foi fundada como resultado
disso.
Nos Países Baixos e
na Escandinávia
Erasmo de Roterdão.
A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de muitos outros países,
não foi iniciado pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários
movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos
protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento
Anabatista gozava de popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o
calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante
dominante no país desde a década de 1560 em diante. No início de agosto de
1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote no Flandres
(atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir das imagens
católicas,esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e
sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios
católicos para destruir estátuas e imagens de santos em toda a Holanda, pois de
acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos. Duras
perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram
para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos
Oitenta Anos e eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda,
ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).
Teve grande importância durante a Reforma um teólogo
holandês: Erasmo de Roterdã. No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente
chamado a tomar partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se
simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como
"uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que,
"É claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente
necessárias.”. Lutero e Erasmo
demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero devido a
seu medo de mudanças na doutrina. Em seu Catecismo (intitulado Explicação do
Credo Apostólico, de 1533), Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por
aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita como válida
fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os livros
deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos. Estas e outras discordâncias, como por
exemplo, o tema do Livre arbítrio fez com que Lutero e Erasmo se tornassem
opositores.
Na Dinamarca, a difusão das ideias de Lutero deveu-se a Hans
Tausen. Em 1536 na Dieta de Copenhaga, o
rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido
confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen,
discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana
nacional. A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma consequência da dominação
da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi introduzida
na Noruega e entre 1541 e 1550 na
Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos
Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa, que rompeu
com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste
país estabelecendo-se em 1527. Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de
Augsburgo. Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início
do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja
Evangélica Luterana da Finlândia.
Em outras partes da
EuropaNa Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o Luteranismo ganhou uma posição entre a população de língua alemã, o Calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara. Provavelmente, os protestantes chegaram a ser maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contra-Reforma no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo.
Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou
em Portugal e Espanha. Ainda assim, uma missão francesa enviada por João
Calvino se estabeleceu em 1557 numa das ilhas da Baía de Guanabara, localizada
no Brasil, então colônia de Portugal. Ainda que tenha durado pouco tempo,
deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara. Por volta de 1630, durante
o domínio holandês em Pernambuco, a Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante
na Holanda) instalou-se no Brasil. Tinha ao conde Maurício de Nassau como seu
membro mais ilustre. Esse período se encerrou com a guerra de Restauração
portuguesa. Na Espanha, as idéias reformadas influíram em dois monges
católicos: Casiodoro de Reina, que fez a primeira tradução da Bíblia para o
idioma espanhol, e Cipriano de Valera, que fez sua revisão, originando a
conhecida como Biblia Reina-Valera.
A Contra-reforma
Massacre de São
Bartolomeu.
Imediatamente após o início da Reforma Protestante, a Igreja
Católica Romana decidiu tomar medidas para frear o avanço da Reforma.
Realizou-se, então, o Concílio de Trento (1545-1563), que resultou no início da
Contrarreforma ou Reforma Católica, na qual os Jesuítas tiveram um papel
importante.A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica foram
igualmente determinantes para evitar que as ideias reformadoras encontrassem
divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos.
O biógrafo de João Calvino, o francês Bernard Cottret,
escreveu: "Com o Concílio de Trento (1545-1563)… trata-se da
racionalização e reforma da vida do clero. A Reforma Protestante é para ser
entendida num sentido mais extenso: ela denomina a exortação ao regresso aos
valores cristãos de cada "indivíduo"". Segundo Bernard Cottret, "A
reforma cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da
salvação. A salvação, no Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz
mais respeito ao indivíduo do que à comunidade",diferente da pregação
católica que defende a salvação na igreja.
O principal acontecimento da contrarreforma foi o Massacre
da noite de São Bartolomeu. As matanças, organizadas pela casa real francesa,
começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris
e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000
protestantes franceses (chamados huguenotes)
Protestantismo
Um dos pontos de destaque da reforma é o fato de ela ter
possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários
reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas
nacionais. Tal liberdade fez com que
fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações. Nas
primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos,
destacando o Luteranismo e as Igrejas Reformadas ou calvinistas
(Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras
denominações reformadas, com destaque para os Batistas e os Metodistas.
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